Combinando conteúdo acadêmico, projetos interdisciplinares e desenvolvimento de habilidades socioemocionais, escolas incorporam novas práticas para tornar o aprendizado mais significativo e conectado à realidade dos alunos.
Diante das mudanças aceleradas no mercado de trabalho e das críticas ao modelo tradicional de ensino, escolas privadas brasileiras têm buscado alternativas que combinem desempenho acadêmico com metodologias mais aplicadas e desenvolvimento socioemocional. A aposta em experiências concretas e competências interpessoais responde tanto à demanda de famílias por uma formação mais completa quanto à exigência de instituições de ensino superior e empresas por perfis mais adaptáveis e críticos.
No Colégio Objetivo DF, também presente em todo o Brasil, o Ensino Fundamental tem ganhado novos contornos com práticas que encantam alunos e desenvolvem competências essenciais para o século XXI. Em uma das atividades, estudantes do 2º ano vivenciam, do plantio à germinação, o ciclo de vida das plantas, aprendendo ciências de forma sensorial e engajada. Já os alunos do 5º ano recriaram o primeiro computador eletrônico da história, o ENIAC, usando LEGO e descobrindo o papel das mulheres na origem da computação, como Ada Lovelace e as cientistas da NASA.
No laboratório de ciências, as turmas do 3º ano se transformam em pequenos paleontólogos. Usando moldes e argila, produzem seus próprios fósseis enquanto aprendem sobre eras geológicas e a história da Terra. A história também ganha vida nas salas de aula quando o 5º ano se aventura em uma “viagem ao passado”, criando obras de arte rupestre com tintas naturais e elementos recicláveis, combinando criatividade com consciência ambiental.
Já a matemática e o letramento ganham outra cara no Objetivo: os alunos do 3º ano exploram medidas de comprimento e distância com base na história de “Alice no País das Maravilhas”, enquanto a Gincana das Letras, no 2º ano, promove atividades lúdicas que estimulam a oralidade, o vocabulário e a cooperação entre os colegas. Tudo com o intuito de mostrar que aprender pode e deve ser também prazeroso.
“O mais bonito é ver o brilho nos olhos deles quando percebem que estão aprendendo de verdade, com propósito e conexão com o mundo. É esse tipo de aprendizagem que fica para a vida inteira”, afirma Bruna Freitas, vice-diretora do Colégio Objetivo da unidade de Águas Claras.
Na Heavenly International School (H•I•S), também em Brasília, o ensino bilíngue e a abordagem por projetos formam a base de experiências interdisciplinares que conectam o conteúdo escolar com o mundo real. No 7º ano, por exemplo, os chamados learning centers dividem os alunos em grupos, cada um responsável por uma atividade vinculada ao mesmo tema central.
Em um dos temas, “Waste Management”, um dos grupos trabalha a pergunta norteadora “How can we reduce waste in our school?”. A partir dela, os estudantes pesquisam, debatem soluções e desenvolvem um projeto prático, promovendo senso de responsabilidade ambiental e engajamento com a comunidade escolar.
Em outro projeto, sobre “Chocolate Production”, cada grupo investiga uma etapa da cadeia produtiva do chocolate: cultivo do cacau, colheita, transporte, produção industrial, embalagens e consumo consciente. Ao final, os alunos compartilham seus aprendizados em uma apresentação coletiva, formando uma visão integrada de todo o processo. É uma vivência que une pesquisa, trabalho em equipe, oralidade e pensamento crítico.
“Exemplos como estes ilustram como a escola do século XXI vem sendo desenhada para ser mais do que transmissora de conteúdos: ela se torna um espaço vivo de descoberta, construção de sentido e formação integral”, acredita Tainah Nóbrega, diretora de Comunicação e Marketing da escola.
Para pais e educadores, iniciativas como essas representam uma mudança de chave na forma de pensar a escola: menos foco em decorar e mais em compreender; menos centralidade na prova e mais na experiência; menos fragmentação e mais sentido. “Em tempos de inteligência artificial, algoritmos e desafios sociais profundos, talvez o caminho para formar seres humanos completos comece mesmo com um pouco de terra nas mãos, peças de LEGO e valores bem fincados no coração”, conclui Bruna.
Autora:
Fernanda Krau