O colapso da confiança nas redes sociais voltou ao centro dos debates após o recente ataque à reputação de uma grande instituição financeira brasileira, provocado por boatos não verificados no X (antigo Twitter). Em poucas horas, a especulação ganhou força e impactou diretamente o mercado, fazendo com que a empresa perdesse milhões em valor de mercado. Casos semelhantes ocorreram em outros momentos, como em 2010, quando falsas notícias sobre o fim do Bolsa Família causaram tumultos e filas nas agências da Caixa Econômica Federal no Nordeste, levando milhares de pessoas a tentar sacar o benefício de forma precipitada.
Estudos acadêmicos reforçam o alerta. Uma pesquisa publicada na revista Science em 2018 revelou que notícias falsas têm 70% mais chances de serem compartilhadas do que notícias verdadeiras, especialmente quando despertam emoções fortes como medo, indignação ou empatia. Outro levantamento, conduzido por Alessandro Bessi e Mauro Coletto em 2014, mostrou que consumidores de teorias conspiratórias são mais propensos a interagir com conteúdos satíricos e duvidosos, alimentando uma cultura digital onde a veracidade dos fatos é constantemente ignorada.
Para a especialista em marketing e branding Gabriella Vivere, CEO da Vivere Press, as redes sociais evoluíram para um ambiente em que a lógica do engajamento se sobrepõe à responsabilidade. “As redes sociais viraram palco de linchamentos virtuais e tribunais paralelos. O conteúdo, muitas vezes, nem precisa ser verdadeiro, basta ser emocional o suficiente para viralizar”, afirma.
A propagação de conteúdo impulsionado por apelos emocionais virou ferramenta estratégica para influenciadores digitais. Gabriella explica que a polêmica se tornou moeda nas redes: “Hoje, qualquer um pode ganhar visibilidade disparando indignação, empatia ou ódio. E com isso, lucrar em cima da destruição da reputação de pessoas e empresas.” Para muitos, a desinformação deixou de ser um erro e passou a ser estratégia deliberada.
Outro ponto crítico é o efeito das bolhas de informação. À medida que os algoritmos entregam aos usuários apenas conteúdos alinhados às suas crenças, a diversidade de pensamento é comprometida. “O algoritmo entrega exatamente o que você quer ver, reforçando visões enviesadas e tornando o debate público tóxico”, analisa Gabriella. A falta de curadoria e verificação de fatos cria um ambiente onde o sensacionalismo supera a verdade.
As consequências desse modelo já se manifestam globalmente. Em 2007, o banco britânico Northern Rock enfrentou uma crise após rumores de insolvência, levando a uma corrida bancária histórica. Mais recentemente, boatos sobre vacinas e tratamentos durante a pandemia da Covid-19 influenciaram decisões de saúde pública e alimentaram movimentos negacionistas que custaram vidas.
Para Gabriella, é urgente que os usuários desenvolvam senso crítico ao consumir informações digitais. “Plataformas premiam o conteúdo mais inflamável, não o mais responsável. Quanto mais indignação, mais curtidas e mais alcance. Precisamos parar de premiar o caos”, conclui. A especialista recomenda atenção a sinais clássicos de desinformação, como fontes sem credibilidade, mensagens em tom alarmista, textos sem data e conteúdos replicados em massa sem apuração.