Já viu tubarão sentir empatia? Não, né?
Pois é. No mar corporativo, tem muito executivo de sorriso polido e dente afiado. Por isso, guarde essa máxima: nunca sangre em tanque de tubarões.
A frase pode soar exagerada, mas carrega um princípio essencial de inteligência emocional no trabalho. Mostrar suas dores, seus conflitos ou crises emocionais nos bastidores da empresa pode parecer um ato humano. Mas dependendo de quem está assistindo, pode virar espetáculo para predadores — não um convite à empatia.
No início da carreira, a gente acredita que vulnerabilidade aproxima. Que abrir o coração é um ato de conexão. E até é — quando feito no ambiente certo, com as pessoas certas.
Mas tem uma diferença entre dividir e se expor. Entre acolhimento e julgamento.
O problema não é a emoção. É o contexto.
O colega não é seu terapeuta. O grupo de WhatsApp do time não é confessionário. E aquele “desabafa comigo” pode virar pauta em roda de fofoca ou motivo de avaliação negativa disfarçada de “feedback”.
No livro Diversa-IDADE, que escrevi com a Tati Gracia, falamos justamente sobre isso. Ambientes emocionalmente seguros são raros — e por isso, preciosos. Onde eles não existem, reina o medo. E medo, dentro de empresa, vira silêncio, burnout e demissão emocional.
Segundo pesquisas recentes, mais de 60% das empresas afirmam se preocupar com segurança psicológica no trabalho, mas apenas uma minoria transforma essa fala em prática. O resultado? Colaboradores fingindo que estão bem, enquanto mergulham em crises silenciosas.
Autenticidade não é sinônimo de ingenuidade.
É saber o que dizer, como dizer — e principalmente, pra quem vale a pena dizer.
Quem não lidera a própria narrativa, vira personagem nas narrativas alheias.
Então, antes de abrir a jugular em público, respire. Observe. Avalie.
Vulnerabilidade é força — mas só quando sustentada por sabedoria.
Já sangrou em tanque de tubarões?
Talvez esteja na hora de aprender a nadar com eles, sem virar isca.
Porque no fim, a vida corporativa não perdoa amadores emocionais.
Seja humano, sim. Mas nunca se esqueça de ser estratégico também.
E se quiser falar de verdade, com escuta e cuidado, venha pro lado de cá.
Aqui não tem tubarão. Tem gente.
Willians Fiori é neurocientista, psicanalista e especialista em empatia, saúde emocional e ambientes corporativos seguros. Professor do Hospital Israelita Albert Einstein e autor de livros como Diversa-IDADE, atua como consultor em empresas que desejam construir culturas com mais humanidade, performance e inteligência emocional.