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quarta-feira, 30 de julho de 2025

O Estudante de Direito (e aspirante a jurista)

Uma parte dos estudantes de Direito amam a justiça e desejam concretizá-la. Ingressam na universidade com um nobre senso da equidade e da igualdade. Advocacia é linda e necessária! De acordo com a Constituição Federal, o exercício da advocacia é necessário para a administração da justiça. Que chique, não?

Todavia, há uma parcela que ingressa na universidade pensando que o curso será uma coisa excelente, mas dão de cara no muro. Matérias difíceis e fora da realidade, recheadas de teoria e pouca praticidade. 

Quer alguns exemplos? O professor que leciona com a voz monótona, monocordial como um trombone eternamente na nota dó (cansando tímpanos dos alunos que trabalham vinte e quatro horas); a luz ambiente em uma escuridão sem fim, porque o professor apagou a luz a fim de passar os slides (os alunos do período noturno caem em um sono profundo e tão denso que é impossível de acordarem após um fatídico dia de trabalho).

Isso tudo é comum, pois ao sair do ensino médio, não se sabe o que o curso de Direito será. É um mistério maior que o da criação divina do mundo.

Sob outro viés, outra parte ama um debate, principalmente os júris simulados. Orgulham-se de postarem nas redes sociais suas performances teatrais.

– Arrebentei a boca do balão no júri simulado! Tive uma oratória tão impecável quanto os Sermões do Padre Antônio Vieira! Covenci o juiz de que o céu é verde e a grama é azul! – diz o estudante contente, com um sorriso de orelha a orelha, do 1º período que encenou advogar no caso dos Exploradores da Caverna.

Há também alunos que almejam os cargos públicos. Não é Direito por amor, como o primeiro grupo. Para os amantes dos concursos públicos, bem melhor é que o salário caia fixamente na conta bancária e com uma quantia gorda. Um pouco mais de dinheiro não faz mal, eu confesso.

E o que dizer dos que amam o estilo de vida do Direito? Roupas sociais caríssimas, carros do ano e o prestígio de ser chamado de Doutor. No entanto, esqueceram-se de entregar o trabalho na data acordada com o professor e da prova de amanhã (“Eu nem estudei, meu Deus!”). Às vezes é melhor distrair a cabeça na festa universitária, que é mais divertida. Não sou muito fã, admito. Mas esfriar a cabeça moderadamente após um semestre de stress é positivo.

Espera! Eu também sou estudante de Direito! Pois é, leitor. Direito é complicado, mesmo. Há uma variedade de graduandos nesta área pluralista, bem democrática, como pode ver. Vou me confessar para você: não sei se é isso que quero… Não sou o melhor aluno ou algum destes arquétipos. Não sou aspirante a jurista, mas aspirante a escritor e amante das palavras. A escrita é minha paixão, solução dos meus males e o papel é meu terapeuta. Derramo sobre a folha em branco a minha visão de mundo.

Sou como a maioria dos alunos em um certo sentido: o de que a faculdade está me matando! Frase clássica, não é?

Ingressei nesse vasto mundo porque a minha mãe disse que escrevo bem e sou ávido leitor.

– Por que não cursa Direito? É a sua cara, meu filho!

Posso não ser parte das tribos de acadêmicos que apresentei. Contudo, eu esqueci de apresentar a última, igual ao acadêmico que se esqueceu de entregar o trabalho na sexta-feira, última aula, porque estava muito ocupado no barzinho da esquina! Desculpe-me, caro leitor.

Finalmente, me enxergo no grupo que o Suassuna certa vez disse em uma de suas cômicas palestras:

– Não sou bom em matemática e nem gosto de ver sangue. Sobrou o Direito.

Digo para minha mãe que o Ariano Suassuna é mais a minha cara.

Erick Labanca Garcia
Erick Labanca
Graduando em Direito, estagiário da Defensoria Pública de Minas Gerais e escritor independente de crônicas.

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