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quinta-feira, 31 de julho de 2025

O barato sai caro

Sempre ouvi dizer – até cansei de ouvir, para ser sincero – que “o barato sai caro”. Mas, como toda máxima popular, nada como a experiência para tatuar cada sílaba no corpo da gente. Vivi meus anos de juventude ignorando solenemente qualquer cuidado com a saúde, como se os dentes fossem eternos e o tempo, generoso. Resultado: perdi os naturais e acabei recorrendo aos famosos implantes dentários. Ficou bom, resolveu minha vida… por um tempo.

Só que nada dura para sempre. Os implantes da parte interna, daqueles de clipe, começaram a folgar. Chegou a hora inevitável de encarar a troca. Fui pesquisar preços, e ali começou a saga: o procedimento custava os olhos da cara. Decidi, então, pelo caminho fácil – o mais barato, naturalmente, mesmo sem conhecer direito a clínica nem o profissional. “Dessa vez dá certo”, pensei. Ingenuidade pura.

No consultório, o dentista começou a trabalhar. Moldou, fez uma prótese até bonita. Mas, no momento crucial de encaixá-la, foi aquela luta: empurra daqui- força dali e meu maxilar protestando a cada tentativa. E nada. Depois de várias tentativas frustradas, ele se rendeu: admitiu, enfim, que não era especialista em próteses sobre implante, pediu para eu voltar no sábado de manhã, que me encaminharia para uma colega “especialista”.

Voltei com esperança renovada. Desta vez, uma dentista jovem, segura, ajeitou os clipes e encaixou a prótese de primeira. Saí do consultório com dentes novos e um sorriso de alívio – mal sabia eu que o pior estava por vir. No sábado e domingo que se seguiram, um inferno se abriu na minha boca: a prótese, grande demais, prensava a mucosa, formaram-se aftas, minha língua inchou, e a dor não cabia em mim. Chorar não adiantava, restava sobreviver.

Na segunda-feira, lá estava eu de volta ao consultório. O dentista, com a calma de quem não sente o sofrimento alheio, desbastou a prótese e me garantiu que agora tudo estaria resolvido. Só que não: com a adaptação, a peça passou a reter restos de alimento entre ela e a gengiva. Frustração pouca é bobagem.

Enfim, decidi propor um acordo: pedi metade do valor de volta, ele aceitou, e dei o caso por encerrado – dolorosamente, no corpo e no bolso. Naquela cadeira de consultório, entre tentativas e promessas, finalmente entendi: o barato sai caro. Não apenas no dinheiro perdido, mas no sofrimento desnecessário.

Que fique o aviso: quando se trata de saúde, a economia que seduz pode se transformar em armadilha. É lição que fica escrita na pele, ou melhor, na gengiva.

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