Introdução
A Economia Solidária consolidou-se nas últimas décadas como um modelo socioeconômico alternativo, baseado na cooperação, autogestão e solidariedade, que ganhou força no Brasil em 2025. Mais do que uma resposta às crises econômicas, o movimento de Economia Solidária representa uma estratégia de desenvolvimento socialmente justo e sustentável, centrado na valorização das pessoas em vez do capital. Esse modelo tem se mostrado importante para enfrentar desafios históricos do país, desemprego, informalidade e precarização do trabalho, fatores intimamente ligados à pobreza e à fome.
Neste artigo, são discutidos os ganhos que a Economia Solidária proporciona ao país e às comunidades mais carentes, a importância de educar para a solidariedade desde a infância, a necessidade de programas voltados a jovens e adolescentes, bem como o papel de políticas públicas e das instituições no fortalecimento do setor. Resultados e exemplos concretos, incluindo reflexões de estudos como os da Rede Mandala, serão citados, evidenciando o impacto e as perspectivas da Economia Solidária no Brasil de 2025.
Benefícios da Economia Solidária para o Brasil e Comunidades Vulneráveis
A Economia Solidária tem se afirmado como um motor de inclusão socioeconômica no Brasil. Ela organiza a produção, o consumo, as finanças e a comercialização de forma coletiva, promovendo a autogestão e a cooperação em empreendimentos urbanos e rurais. Em vez de priorizar o lucro acima de tudo, essa economia coloca a colaboração e o ser humano no centro, buscando relações mais justas e sustentáveis, tanto social quanto ambientalmente. Os resultados são visíveis: conforme dados oficiais, já em 2016 o país contabilizava 20.670 empreendimentos solidários, englobando cerca de 1,42 milhão de trabalhadores e trabalhadoras. Em 2025, esse número tende a ser ainda maior, dada a expansão recente de políticas de fomento ao setor.
Esses empreendimentos geram trabalho e renda especialmente em contextos onde o mercado tradicional falha. São cooperativas de agricultura familiar, associações de artesãos, empresas recuperadas por trabalhadores, bancos comunitários, redes de comercialização justa, entre outras iniciativas que florescem tanto em pequenos municípios quanto em periferias metropolitanas. Os ganhos para as comunidades carentes são significativos. Ao estimular a produção e o consumo local, a Economia Solidária fortalece mercados internos das comunidades e evita a evasão de riqueza.
Como disse Joaquim Melo, fundador do Banco Palmas (primeiro banco comunitário do Brasil): “Tem comunidade que se empobrece porque ela perde suas poupanças, perde seus ativos com o que ela consome fora. A grande revolução para gerar trabalho e renda começa na estimulação da produção e do consumo local”. De fato, o Banco Palmas, criado em um bairro da periferia de Fortaleza, tornou-se referência em finanças solidárias, movimentando milhões de reais na economia local e inspirando a criação de dezenas de bancos comunitários pelo país. Iniciativas assim combatem a pobreza e promovem a inclusão social, como reconheceu a própria Organização das Nações Unidas, que em 2023 aprovou uma resolução destacando o potencial da Economia Solidária para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, promover o trabalho decente e aliviar a pobreza.
Do ponto de vista macroeconômico, os empreendimentos solidários contribuem para a redução das desigualdades regionais e setoriais. Eles criam oportunidades de trabalho em regiões e setores frequentemente negligenciados, ao mesmo tempo em que oferecem condições laborais mais dignas. Em 2024, por exemplo, o Brasil enfrentou índices recordes de informalidade, cerca de 41 milhões de pessoas atuando sem garantias formais, e um aumento dos afastamentos por transtornos mentais relacionados ao trabalho precário. Nesse contexto, a Economia Solidária apresenta-se como uma alternativa concreta à precarização.
Baseada na democracia interna, no comércio justo, no consumo responsável e na sustentabilidade, a Economia Solidária gera renda com autonomia e ressignifica o trabalho humano, seja na produção de alimentos saudáveis, em bancos comunitários, na gestão de resíduos sólidos ou em projetos de reflorestamento. Como sintetizou a educadora Helena Singer, a Economia Solidária deixou de ser “uma alternativa ao desemprego” para se tornar “uma alternativa ao próprio emprego”, ou seja, uma via de realização profissional e pessoal em oposição às relações laborais exploratórias. Não por acaso, quem conhece de perto esses empreendimentos quase sempre encontra pessoas satisfeitas com seu trabalho, tanto pela relevância social, cultural e ambiental de suas atividades quanto pela liberdade em relação à exploração típica do modelo capitalista tradicional. São milhares de empreendimentos espalhados pelo Brasil, muitos dos quais atuam em redes e cadeias produtivas.
Um exemplo de destaque é a Justa Trama, uma rede de moda sustentável que integra mais de 600 trabalhadores em cinco estados, conectando pequenos agricultores familiares, coletores de sementes, fiadoras, tecelãs e costureiras em uma cadeia solidária que vai do algodão orgânico à confecção de roupas. Essa iniciativa premiada garante renda a comunidades no Ceará, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, valorizando cada elo da produção. Casos como o da Justa Trama ilustram os ganhos mútuos promovidos pela Economia Solidária: ao mesmo tempo que dinamizam economias locais e empoderam grupos historicamente marginalizados, também oferecem produtos e serviços sustentáveis e fortalecem a coesão social.
Educação e Juventude: Formando uma Cultura Solidária desde a Infância
Para que a Economia Solidária floresça de forma duradoura, é fundamental investir em educação desde os primeiros anos de vida. Os valores de cooperação, solidariedade, respeito ao próximo e trabalho coletivo podem, e devem, ser estimulados ainda na infância, tanto na família quanto na escola. Os professores têm um papel crucial ao introduzir práticas pedagógicas que valorizem a ajuda mútua, a partilha e o senso de comunidade entre as crianças. Essa formação cidadã precoce cria as bases de uma nova cultura econômica, na qual as próximas gerações enxerguem o empreendimento coletivo e solidário como algo natural.
O economista Paul Singer, principal formulador da política nacional de Economia Solidária, enfatizava a profunda ligação entre educação popular e economia solidária. Segundo Singer, a economia solidária apoia-se em novos valores que, aplicados às atividades econômicas, exigem a invenção de novas práticas, e cabe à educação difundir esses valores entre aqueles que o capitalismo tende a excluir. Ou seja, educar para a solidariedade é semear, desde cedo, os princípios de democracia, cooperação e sustentabilidade que irão orientar uma economia a serviço da vida em sociedade.
Essa perspectiva deve permear não apenas a educação infantil e fundamental, mas também as iniciativas voltadas aos jovens e adolescentes. A juventude enfrenta desafios específicos no mundo do trabalho, altas taxas de desemprego, empregos precários e falta de perspectiva, que podem ser mitigados ao apresentá-los a alternativas coletivas de geração de renda. Em vez de limitar-se ao discurso tradicional da “empregabilidade” individual ou do empreendedorismo competitivo, a proposta da Economia Solidária para os jovens é organizar-se de forma associativa e autogestionária, construindo juntos suas oportunidades.
Estudos apontam que o trabalho associado em formato solidário pode conferir novos sentidos à vida dos jovens, contribuindo para sua autonomia e emancipação, ao mesmo tempo em que políticas públicas específicas se mostram necessárias para apoiar essa autogestão juvenil e canalizar os desejos e demandas por inclusão produtiva. Ou seja, é preciso criar ambientes e programas nos quais adolescentes e jovens possam vivenciar a cooperação na prática, seja em cooperativas-escola, empresas juniores com princípios solidários, clubes de troca ou projetos comunitários, recebendo acompanhamento e formação adequados.
Algumas iniciativas já avançam nessa direção. Por exemplo, há projetos de educação solidária em escolas que ensinam, na prática, conceitos de finanças solidárias e consumo responsável por meio de jogos e cooperativas mirins. Programas nacionais de juventude, como o antigo ProJovem, também incorporaram componentes de economia solidária e associativismo em suas metodologias. Em cidades como Recife, entre outras, foram desenvolvidas experiências inovadoras, a exemplo do microcrédito jovem solidário (CredJovem) e de núcleos juvenis de economia solidária vinculados a prefeituras. Tais experiências demonstram que, quando os jovens são incentivados a trabalhar coletivamente, com o apoio de educadores e mentores, desenvolvem múltiplas competências: espírito de liderança compartilhada, empatia, capacidade de resolver problemas em grupo e consciência crítica sobre consumo e trabalho.
Nesse sentido, formar professores e educadores populares para mediar esses processos torna-se fundamental. Cursos de formação continuada, como os oferecidos por algumas redes de educação popular (vinculadas, por exemplo, a organizações como o Instituto Paulo Freire ou a Rede Mandala, no Paraná), capacitam docentes a incorporar a Economia Solidária à sala de aula de forma interdisciplinar, seja em matemática (por meio de cooperativas escolares com crédito fictício), em ciências sociais (discutindo alternativas econômicas) ou em projetos extraclasse de empreendedorismo coletivo.
Políticas Públicas e Apoio Institucional
Nenhuma transformação estrutural se sustenta sem o respaldo de políticas públicas consistentes. A Economia Solidária, por muito tempo marginalizada nas políticas de desenvolvimento, conquistou marcos importantes no Brasil. O primeiro grande passo ocorreu em 2003, quando o Governo Federal criou a Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), no âmbito do Ministério do Trabalho, nomeando Paul Singer como secretário. Pela primeira vez, a Economia Solidária foi incorporada ao escopo das políticas de trabalho e renda, reconhecendo o trabalho associado e cooperativo como componente das estratégias nacionais de inclusão produtiva. Nos anos seguintes, conferências nacionais e instâncias colegiadas, como o Conselho Nacional de Economia Solidária (CNES), contribuíram para a formulação de diretrizes e para a articulação da sociedade civil organizada, de movimentos populares, de cooperativas e de empreendimentos solidários, na construção de uma política pública participativa para o setor.
Em 2019, houve retrocessos: a Senaes foi extinta na esfera federal e suas funções, dispersas entre diferentes pastas. Entretanto, com a mudança de governo, a Secretaria foi recriada em janeiro de 2023 por meio de decreto presidencial, sinalizando a retomada do compromisso público com a Economia Solidária. Esse novo fôlego político culminou, ao final de 2024, na aprovação da chamada Lei Paul Singer (Lei nº 15.068/2024), um marco histórico para a Economia Solidária no Brasil. Sancionada em dezembro de 2024, a legislação instituiu a Política Nacional de Economia Solidária e criou o Sistema Nacional de Economia Solidária (Sinaes). Em termos práticos, a nova lei oferece uma base legal robusta para o reconhecimento formal dos empreendimentos solidários, facilitando seu acesso a financiamento, assistência técnica e inserção em mercados.
A Lei Paul Singer define com clareza quais iniciativas se enquadram como empreendimentos de economia solidária, a exemplo de associações, cooperativas e grupos produtivos autogestionários, e estabelece diretrizes e princípios a serem seguidos, como gestão democrática, adesão voluntária, trabalho decente, sustentabilidade ambiental, cooperação mútua, inserção comunitária e transparência. A legislação também estrutura eixos de ação para a política pública, incluindo: formação e capacitação; acesso a crédito solidário; fomento à comercialização justa; apoio a redes de cooperação; e estímulo à recuperação de empresas por seus trabalhadores. Trata-se, portanto, de um instrumento abrangente, capaz de alavancar o apoio estatal aos empreendimentos solidários em múltiplas frentes.
Além do marco legal, o Governo Federal lançou programas concretos para implementar essas diretrizes. Um exemplo é o Programa Paul Singer de Formação de Agentes de Economia Popular e Solidária, anunciado em 2024, que prevê a contratação e capacitação de mil agentes de desenvolvimento solidário até 2025 (500 em 2024 e mais 500 em 2025). Esses agentes atuam em estados e municípios, articulando iniciativas locais, oferecendo assistência técnica a grupos, auxiliando na formalização de empreendimentos e disseminando informações. Segundo Gilberto Carvalho, secretário nacional da Senaes, a meta é garantir que cada região do país conte com pessoas capacitadas para impulsionar a economia solidária local, organizando a produção coletiva e fortalecendo os vínculos entre empreendimentos e comunidades.
No âmbito subnacional, diversos estados e prefeituras também vêm adotando políticas de apoio, como fundos de financiamento rotativo, compras públicas que incluem produtos de cooperativas solidárias (fortalecendo, por exemplo, a agricultura familiar), incubadoras públicas de empreendimentos populares e programas de formação em parceria com universidades. Esse apoio institucional é vital para enfrentar alguns dos desafios intrínsecos às iniciativas solidárias, como a dificuldade de acesso a crédito, a necessidade de qualificação em gestão e a consolidação de cadeias produtivas solidárias em maior escala.
Um estudo acadêmico recente sobre a Rede Mandala, rede de Economia Solidária do campo-cidade no Paraná, ilustra bem essa necessidade de apoio contínuo. A Rede congrega, atualmente, 96 empreendimentos econômicos solidários (EES), unindo trabalhadores e trabalhadoras em torno do objetivo de integrar a produção rural agroecológica com os mercados urbanos. A pesquisa aponta, porém, que essa integração ainda é incipiente e que a rede não consolidou plenamente uma identidade coletiva. Os empreendimentos da Mandala enfrentam dificuldades de viabilidade econômica e dependem de processos formativos contínuos para se fortalecerem.
Tais resultados demonstram o caráter imprescindível das políticas públicas no campo da Economia Solidária (EcoSol), seja por meio da capacitação continuada, do suporte técnico, do financiamento adequado ou da criação de espaços de comercialização. Por outro lado, a mesma pesquisa destaca que, apesar dos obstáculos, a Rede Mandala vem possibilitando e fortalecendo processos participativos, democráticos e autogestionários entre os envolvidos. Ou seja, com o suporte necessário, redes como a Mandala podem florescer e cumprir seu papel na transformação das realidades locais, promovendo o desenvolvimento comunitário integrado.
Além do Estado, outras instituições da sociedade têm contribuído para a ampliação da Economia Solidária. As universidades desempenham um papel relevante por meio das Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCPs), que atuam desde os anos 1990 junto a grupos de catadores, costureiras, agricultores, entre outros, oferecendo assessoria técnica gratuita para a formação de cooperativas e empreendimentos solidários. Sindicatos e movimentos sociais também têm se engajado: a Central Única dos Trabalhadores (CUT), por exemplo, criou uma Secretaria Nacional de Economia Solidária, responsável por promover a articulação entre sindicatos e empreendimentos solidários, realizando feiras, grupos de consumo responsável e ações de formação política, com o objetivo de levar a EcoSol a um novo patamar.
Até mesmo empresas e fundações privadas têm entrado nesse circuito por meio da responsabilidade social, apoiando cadeias solidárias, como programas de comércio justo que conectam cooperativas de produtores ao mercado, ou investindo em tecnologias sociais que beneficiam empreendimentos comunitários. Esses esforços conjuntos, do setor público, da academia, do terceiro setor e da sociedade civil organizada, formam um ecossistema de apoio fundamental para que a Economia Solidária deixe de ser vista como um nicho e se consolide como política de Estado e como prática econômica abrangente.
Resultados e Exemplos Concretos
Ao observar o panorama de 2025, percebe-se que a Economia Solidária brasileira, embora ainda enfrente desafios, já apresenta resultados concretos que merecem destaque. Para além dos números expressivos de empreendimentos e trabalhadores envolvidos, identificam-se melhorias qualitativas nas comunidades impactadas. Em diversas regiões, por exemplo, verifica-se o fortalecimento da segurança alimentar, impulsionado por cooperativas de agricultura familiar e feiras de produtos orgânicos que conectam produtores e consumidores solidários. Empreendimentos de catadores de materiais recicláveis em centros urbanos não apenas geram renda e promovem inclusão social para pessoas em situação de vulnerabilidade, como também prestam um valioso serviço ambiental de reciclagem, muitas vezes em parceria com prefeituras. Cooperativas de costura e moda sustentável, integradas em redes como a já mencionada Justa Trama, agregam valor localmente e conquistam mercados com produtos éticos.
Bancos comunitários e moedas sociais, inspirados no pioneiro Banco Palmas, expandiram-se e, atualmente, integram uma rede nacional, coordenada pelo Instituto Palmas, que fomenta o desenvolvimento local e promove a bancarização de populações historicamente excluídas do sistema financeiro formal. Tais iniciativas demonstram que a Economia Solidária possui um efeito multiplicador: articula inclusão econômica, desenvolvimento social e fortalecimento da cidadania.
Vale destacar, ainda, resultados intangíveis, porém significativos, como a transformação subjetiva dos participantes de empreendimentos solidários. Estudos e relatos mostram que trabalhadores associados se sentem resgatando a dignidade do trabalho e vivenciando, na prática, a democracia econômica e a solidariedade cotidiana. Muitos afirmam que, ao se unirem em associações ou cooperativas, “encontraram um sentido maior no trabalho”, compreendendo-o não apenas como meio de sustento, mas como oportunidade de crescimento coletivo e contribuição à comunidade. Essa mudança de mentalidade, do isolamento competitivo à cooperação solidária, constitui, talvez, um dos legados mais importantes, embora imensuráveis, da Economia Solidária.
É importante ressaltar que os resultados positivos da Economia Solidária (EcoSol) não se restringem a experiências isoladas ou a uma única organização. Conforme solicitado, mencionamos os trabalhos da Rede Mandala como exemplo regional relevante; contudo, há inúmeros outros casos bem-sucedidos distribuídos pelo Brasil. Em Maricá (RJ), por exemplo, programas inovadores associam a moeda social Mumbuca à formação de jovens, evidenciando como políticas municipais criativas podem fortalecer a economia popular e solidária local. No Rio Grande do Sul, cooperativas vinícolas de pequenos produtores exportam seus produtos por meio do comércio justo, comprovando que a solidariedade também pode ser competitiva em termos de qualidade.
Em diversos estados, festivais e feiras de economia solidária tornaram-se eventos anuais tradicionais, aproximando os empreendimentos do público em geral e ampliando a visibilidade e o mercado desses produtos e serviços. Todas essas iniciativas demonstram que a Economia Solidária deixou de ser uma utopia distante para se consolidar como realidade concreta em múltiplos territórios brasileiros.
Conclusão
Em 2025, a Economia Solidária brasileira vive um momento de renovado otimismo e consolidação. A combinação de marcos legais inovadores, políticas públicas ativas, engajamento da sociedade civil e resultados encorajadores nas comunidades compõe um cenário fértil para que esse modelo econômico amplie seu alcance e impacto social. Os ganhos para o país, como a redução do desemprego e da pobreza, a promoção do trabalho decente, a dinamização das economias locais e os avanços rumo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), tornam-se cada vez mais evidentes. Nas comunidades mais carentes, a EcoSol representa uma esperança tangível, materializada em geração de renda, serviços comunitários, autoestima coletiva e autonomia frente às dinâmicas excludentes do mercado tradicional.
Os desafios, no entanto, não devem ser subestimados. É necessário perseverar na formação desde as etapas iniciais da educação, para que as novas gerações incorporem os valores da solidariedade e da cooperação. Professores e educadores desempenham papel estratégico nesse processo de mudança cultural de longo prazo. Programas voltados à juventude precisam crescer e oferecer aos adolescentes e jovens oportunidades concretas para que construam seu futuro de forma coletiva e solidária, evitando que fiquem à margem ou presos a alternativas precárias. Por fim, o papel do Estado e das instituições continuará sendo determinante: a efetiva implementação da Política Nacional de Economia Solidária e do Sistema Nacional de Economia Solidária (Sinaes), o acompanhamento técnico contínuo a redes como a Mandala, o crédito orientado, entre outras políticas estruturantes, são condições essenciais para que esses empreendimentos tornem-se sustentáveis e escaláveis, sem perder sua base nos princípios solidários.
Nas palavras de Paul Singer, a Economia Solidária carrega em si uma “utopia concreta”: a ideia de que é possível, aqui e agora, praticar outra economia, baseada na ajuda mútua, na justiça e no bem comum. Essa utopia concreta já está em marcha no Brasil, e tem produzido resultados. Cabe a todos os atores sociais, governos, educadores, trabalhadores, empresas e cidadãos, cultivar e fortalecer essa semente, para que a Economia Solidária cresça e floresça, contribuindo para um país mais justo, inclusivo e próspero para todos. Como evidenciado ao longo deste artigo, os exemplos bem-sucedidos e as políticas emergentes sinalizam que esse caminho, alicerçado na solidariedade, não é apenas desejável: é perfeitamente viável e necessário no Brasil de 2025.
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