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quinta-feira, 31 de julho de 2025

Plataformas de comunidade: o custo x benefício da implementação tecnológica nas empresas

*Por Jen Medeiros

A criação e gestão de comunidades corporativas vem ganhando protagonismo como estratégia para fortalecer vínculos, fomentar a colaboração e impulsionar a inovação. Com isso, surge uma dúvida recorrente entre gestores e equipes de marketing e transformação digital: afinal, qual plataforma de comunidade devemos usar? Essa pergunta, que parece simples à primeira vista, esconde um nível significativo de complexidade, e é frequentemente comparável à escolha de um carro. Modelos, preços, recursos, propósitos e estilos variam amplamente, e cada especialista tende a recomendar seu favorito, muitas vezes desconsiderando o contexto específico de quem pergunta.

Para além da empolgação com as promessas tecnológicas, a decisão de investir em uma plataforma de comunidade exige um olhar estratégico. As opções disponíveis no mercado vão desde soluções gratuitas, com funcionalidades limitadas, até ferramentas robustas, com alto nível de personalização, integração com sistemas corporativos e custos que chegam facilmente à casa das dezenas de milhares de reais por ano. E aí reside o primeiro ponto crucial da equação custo-benefício: o investimento só se justifica se estiver alinhado com os objetivos da empresa e com a forma como os membros da comunidade pretendem interagir.

Antes de mergulhar em orçamentos e comparações técnicas, o ideal é começar pelas perguntas certas. O foco da comunidade será responder a dúvidas frequentes de suporte? Estimular discussões com base em interesses compartilhados? Ou um caminho híbrido entre os dois? A interação desejada é síncrona, com eventos ao vivo, ou assíncrona, como em fóruns e grupos de discussão? Há necessidade de recursos que permitam à comunidade se auto-organizar, como criação de subgrupos ou permissões diferenciadas? As respostas a essas perguntas são decisivas para afunilar as opções e evitar escolhas equivocadas.

Outro ponto relevante é a estratégia de dados. Empresas com foco em personalização e controle provavelmente buscarão plataformas que ofereçam domínio próprio e propriedade total das informações geradas pela comunidade. Já quem visa ampliar a visibilidade e se beneficiar dos efeitos de rede pode preferir ferramentas que funcionam em ambientes sociais abertos ou de terceiros, como grupos no Facebook, Slack, Discord ou Telegram. Ainda dentro dessa lógica, vale considerar a integração com sistemas de CRM e ferramentas de comunicação já existentes. Isso influencia diretamente na capacidade de reengajamento e na eficiência das interações ao longo do tempo.

O aspecto financeiro, claro, não pode ser ignorado. Embora existam plataformas gratuitas ou de baixo custo, essas opções frequentemente carecem de funcionalidades avançadas, estabilidade em larga escala e suporte técnico adequado. Por outro lado, investir pesado em uma solução cara sem garantir adesão dos membros, clareza de propósito e uma estratégia de governança pode levar a desperdício de recursos e frustração. Por isso, quando falamos de MVCs (comunidades mínimas viáveis), é sempre recomendável começar pequeno para validar uma hipótese de comunidade. Para mitigar o risco, é indicado que seja utilizado nesse momento de validação uma solução mais simples e acessível, e ir escalando conforme a comunidade amadurece e os aprendizados se consolidam.

É fundamental, ainda, considerar a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) e os critérios internos de governança de dados. Dependendo da natureza da comunidade e do setor de atuação da empresa, aspectos regulatórios podem restringir o uso de determinadas plataformas ou exigir níveis mais altos de controle e rastreabilidade da informação.

Finalmente, é essencial mapear o comportamento dos membros da comunidade: onde eles já interagem hoje? Estão mais habituados com fóruns, bate-papos ou grupos sociais? A plataforma escolhida precisa estar em sintonia com esses hábitos, afinal, o melhor sistema do mundo é inútil se ninguém o utiliza. Com base em todas essas respostas, é possível reduzir o leque inicial de dezenas de opções para um grupo enxuto de três a cinco ferramentas realmente compatíveis com a realidade da empresa.

Se a abordagem tradicional era selecionar uma plataforma e tentar fazer com que todo o engajamento acontecesse dentro dela, considere que a comunidade deve ser construída de forma alinhada com o que os membros desejam. E se sua empresa possui públicos variados, a resposta possivelmente será uma comunidade multiplataforma no decorrer do tempo. A escolha final, então, deixa de ser um tiro no escuro e passa a refletir uma análise embasada, que considera os benefícios reais esperados: engajamento, colaboração, aprendizado contínuo e pertencimento.

*Jen Medeiros é CEO da comuh, empresa especializada na gestão de comunidades e ecossistemas de negócios. Palestrante e especialista na criação e gestão estratégica de comunidades com 15 anos de experiência. Criadora e host do Community Playbook, um Podcast de aplicações reais, atuais e futuras de estratégia de comunidades. É professora da Descola e da Escola Britânica de Artes Criativas e Diretora do CMX Connect São Paulo, uma instituição internacional que promove o desenvolvimento da indústria de comunidades. Top 3 do prêmio Community Industry Awards 2024 como melhor profissional de comunidades B2B, e fellow no programa On Deck Community Builders.

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