20.6 C
São Paulo
domingo, 29 de junho de 2025

“ADÔNIS” FICOU NO BAR

Cansada de ficar recolhida no quarto do hotel em que estava hospedada, Ana resolveu sair sem destino e parou seu carro em frente a um barzinho qualquer da tão conhecida Cidade da Luz no Brasil. 

Ela nunca havia tido essa experiência de estar consigo mesma em lugares como aquele, mesmo na capital federal, onde residia, uma vez que não entrava na cabeça dela que faria sentido estar sozinha na mesa de um bar. Mas, seu conceito mudou completamente depois que ela começou a compreender que o real significado de estar sozinha não se tratava de solidão, mas, solitude. Levou algum tempo para Ana chegar àquela conclusão de que ela se bastava e passou a apreciar a sua própria companhia. Chegou, então, o dia em que, enfim, ela pôde colocar em prática aquele exercício de estar consigo mesma sem a necessidade de estar rodeada de amigos para se sentir completa.

Aproveitando que estava viajando sozinha a trabalho, tomou coragem de colocar em prática aquela experiência e decidiu que naquela noite ia se dar ao prazer de desfrutar de sua própria companhia, sem contar com as surpresas que a vida poderia lhe proporcionar.

Ao adentrar o recinto, observou o ambiente: à meia luz, música ao fundo, pessoas bonitas e animadas conversando e o local super agradável.

Não deixando nada passar despercebido, Ana se dirigiu à uma mesa que ficava na varanda de frente para o mar.

Apesar de estar muito cansada do dia exaustivo de trabalho, a vista espetacular a fez esquecer por um instante da loucura que tinha sido o seu dia.

Permitindo-se estar vivendo o presente, encantou-se com a vista magnífica das ondas quebrando o mar, e agradeceu ao Universo por ter sido tão privilegiada por ter um emprego tão generoso.

Distraída, pegou o celular e, olhando uma rede social qualquer, não percebeu a chegada do maître à sua mesa. Mas, não era um maître qualquer, era um “Adônis” de smoking:  alto, bronzeado, cabelos lisos no gel, tatuado, aparentando ter seus quarenta e poucos anos e olhos de ébano. Um verdadeiro Deus grego estava à frente de Ana e, por alguns segundos, ela se questionou internamente porquê aquele homem não estava numa passarela.

Com um sorriso no canto da boca, Ana se concentrou nas cartas de vinhos  que estavam sendo apresentadas por ele . Ao escolher o vinho, o maître falou o que era de praxe: “boa escolha!, senhorita”, pediu licença e se retirou.

Quando ele voltou com o vinho preferido de Ana e a serviu numa taça generosa, ela não deixou de perceber o olhar penetrante dele para ela. O olhar dele era tão fixo, que deixou Ana desconcertada. Ao vê-lo saindo, ela se ajeitou na cadeira e pensou que fosse delírio de sua cabeça, mas, não era.

Ana estava solteira há mais de dois anos e até então, não dava margem para qualquer tipo de investida, mas, naquela noite viu a possibilidade daquilo acontecer.

Ana percebeu que qualquer movimento que fazia, o maître vinha à sua mesa e ela acabou deixando de lado seu lado conservador e perguntou qual era o nome dele ao que  ele tirou do bolso um cartão de visitas e lhe ofereceu dizendo: “Estou ao seu dispor sempre!”. Antônio Borges era seu nome.

Depois de tomar uma garrafa e meia de vinho, Ana sentiu que era hora de ir embora, pois já estava ficando muito alegre e não se responsabilizaria por seus atos, ainda mais depois de ter sido cortejada por um homem tão interessante.

Ao tentar abrir a porta do carro, foi surpreendida por Antônio que gentilmente se adiantou para abrí-la. Naquele momento, seus olhares se encontraram – intensos, profundos, quase imorais. Por um segundo, Ana sentiu o tempo parar. Era como se o tempo tivesse parado naquele instante entre um gesto e uma possibilidade.

Mas Ana respirou fundo e sorriu e agradeceu a Antônio pela companhia e gentileza e, claro, pelo vinho. Entrou no carro sem olhar para trás e dirigiu pelas ruas silenciosas da cidade da luz com o coração acelerado. Sabia que poderia ter tido uma noite regada aos prazeres carnais. Quis, quis muito, mas entendeu, ali, naquele instante, que a maior conquista da noite não foi ele, mas foi ela mesma.

Ao chegar ao hotel, tirou os sapatos, colocou seu pijama e serviu-se da última taça de vinho da noite. Olhou para o seu próprio reflexo no espelho e disse em voz baixa, como quem faz um brinde consigo mesma: “Eu me basto!” e, pela primeira vez em muito tempo, sorriu com plenitude.

Autora:

Patricia Lopes dos Santos

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Leia mais

Patrocínio