Celebrando mais uma primavera, Ana se permitiu pensar apenas nos bons momentos que teve ao longo de seus quarenta e cinco anos e, enquanto preparava seu café especial – pão com presunto e queijo -, vieram as melhores lembranças de sua infância ao lado de sua avó materna.
Ana tinha oito anos e sua avó estava internada num hospital qualquer e, quando sua avó tinha alta médica, escondia com muito cuidado dentro da bolsa dela o lanche (pão com presunto e queijo) que recebia no hospital e levava para Ana como se fosse um presente.
Quando a avó de Ana chegava em casa, a primeira coisa que ela fazia era entregar o “lanche especial” que havia trazido com muito carinho para a sua neta Ana.
Ao receber aquele mimo de sua avó, Ana sentava-se no chão de barro e se deliciava. A alegria se instalava em seu ser e ela sentia como se estivesse comendo o melhor que a vida podia oferecer à ela. Na realidade de Ana, somente gente rica desfrutava daquele lanche e com seus oito anos de idade, Ana desejava que sua avó voltasse para onde estava e trouxesse mais lanches gostosos para ela, sem ter noção de aquele desejo levaria sua avó de volta ao hospital.
Ana era extremamente apegada à sua avó, mas um ano depois dela receber aquele carinho dela, a avó de Ana adoeceu novamente e, intimamente Ana torcia para o retorno de sua avó, pois teria de novo o lanche que os ricos comiam e ela se enchia de esperança todos os dias por ver sua avó chegando por aquela porta de ferro e abraçá-la com amor, como a avó sempre fazia. Mas ao invés de receber a avó com seu lanchinho especial, Ana foi informada pela sua mãe de que sua avó não voltaria mais. Muito doente, a avó de Ana não resistiu àquela internação e veio a falecer.
Ana sentou-se no chão e, em sua tenra idade, não compreendia ao certo o real significado da morte, ela queria mesmo ter sua avó ali com o tão esperado lanche. Até que sua mãe sentou-se com ela e foi explicar detalhadamente e com cuidado o fato da avó de Ana não voltar mais. Naquele momento, Ana não conseguiu brincar com o barro no quintal de sua casa e seu mundo ficou cinza. Demorou algum tempo para Ana compreender que sua doce avó não voltaria mais e a tristeza tomou conta de seu ser.
Assustada com o despertador que tocava no quarto, Ana voltou à sua realidade e, enxugando as lágrimas das lembranças de sua avó, se recompôs. Nostálgica com os doces momentos que sua avó havia lhe dado quando ainda era uma criança, resolveu preparar um café fresquinho e alguns sanduíches de presunto e queijo e os embalou num papel alumínio.
Decidida a fazer a diferença na vida de algumas pessoas – mesmo que fosse com aquele pequeno gesto – saiu de casa e resolveu ir andando porque sabia que ia encontrar pessoas em situação de rua e aqueles lanches de rico que Ana havia se deliciado em seu aniversário estava destinado àquelas pessoas.
Ana queria dar a oportunidade daquelas pessoas terem um pouco do carinho que recebeu de sua avó e torcer para que a mesma sensação que ela teve quando ainda era uma criança quando sua avó acarinhou o coração dela durante tantos anos fosse sentida por eles. E ela conseguiu. Ao entregar aqueles sanduíches àquelas pessoas em situação de rua, Ana percebia a gratidão no olhar daquelas pessoas e sentiu que naquele momento ela pôde repassar o amor doado pela avó por tantos anos àquelas pessoas que careciam de tanto cuidado como Ana careceu quando ainda era uma criança.
Autora:
Patricia Lopes dos Santos