Sessão de Homem com H em Caruaru ganha impacto com presença performática do influenciador; atuação de Jesuíta Barbosa emociona e reafirma que a arte existe além de rótulos
Na contagem regressiva para o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, celebrado em 25 de junho, uma cena potente e simbólica marcou o último sábado (21) em Caruaru (PE): o influenciador e ator Mateo Metturo de Oliveira Gomes Silva surpreendeu o público ao chegar caracterizado como Ney Matogrosso para assistir à estreia do documentário Homem com H — obra que revisita a trajetória do cantor sob direção de Esmir Filho, com interpretação marcante de Jesuíta Barbosa.
Vestido com uma calça branca de franjas, sem camisa e com a maquiagem marcante dos anos 70, Metturo imediatamente chamou atenção. “Assim que saí de casa, as pessoas começaram a reagir. No cinema, pediram fotos, comentaram, e uma mulher me perguntou se eu assistiria o filme caracterizado mesmo. No fim, parei o cinema”, relatou ele. O vídeo de sua chegada viralizou nas redes sociais, ultrapassando 1 milhão de visualizações.
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Dentro da sala, a homenagem se completava com a atuação arrebatadora de Jesuíta Barbosa, que revive Ney Matogrosso em trechos dramatizados ao longo do documentário. A performance tem sido amplamente elogiada por captar com fidelidade a força cênica, política e estética de Ney — ícone da música, da liberdade sexual e da resistência artística no Brasil.
“Desde criança, meus maiores espelhos foram Cazuza e Ney Matogrosso. Eles me ensinaram a viver a arte como verdade, sem medo. Hoje eu entendo que para as artes não existem rótulos, somos livres”, declarou Metturo, que aproveitou o momento para reforçar o valor da diversidade em tempos em que expressar-se continua sendo um ato de coragem.
O ato performático do influenciador ecoa o legado do movimento Tropicalista, que explodiu nos anos 1960 com artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Os Mutantes, ao lado de figuras visuais como Hélio Oiticica. A Tropicália defendia a mistura de linguagens, o rompimento com padrões coloniais e a liberdade plena de ser. Ney Matogrosso, surgido no pós-tropicalismo, levou essa estética ao corpo, à voz e à cena — tornando-se símbolo da quebra de normas de gênero e sexualidade.
Metturo iniciou sua carreira no teatro, passou pelas novelas Corações Feridos e Carrossel, e ganhou notoriedade internacional com seu papel como Arturo no longa argentino Un Rubio, em que interpreta um personagem complexo e fora de estereótipos. Ele também atua como publicitário e artista independente em plataformas adultas, escolha que encara com maturidade e consciência artística.
O ator foi apadrinhado pela lendária atriz mexicana Queta Lavat, falecida aos 94 anos, ao lado da atriz Vivian Veggari, com quem mantém uma parceria criativa contínua.
A exibição de Homem com H e o impacto de Metturo no cinema de Caruaru, às vésperas do Orgulho LGBTQIA+, reforçam o que Ney Matogrosso sempre representou: a liberdade como ato artístico e existência legítima. Em uma época em que expressar o próprio corpo, identidade e arte ainda é visto como afronta, performances como essa seguem necessárias.