Amigas e confidentes, Lígia e Lola, Procuradoras do Estado, não lamentam as mortes dos maridos, ocorridas num Motel de luxo. Eles eram amantes. Perto da aposentadoria e sem grandes expectativas, participam de Bingos, excursões e bailes no Clube da Terceira Idade. Lígia é mãe de Léo, introvertido e inseguro. Lia é filha de Lola, desaforada e irrequieta, que se comporta como hippie numa orgia até em velórios. As amigas sonham com netos, mas os filhos sempre desconversam. Domingo, Léo e Lia tomavam sol na varanda, ele de bermudão, boné e camiseta, ela fazendo topless. As mães, na sala, silentes e atentas à conversa.
- Nós dois? Você acha que pode dar certo? – perguntou Léo. Você sabe que eu não tenho experiência. Nunca fiz isso. Mas você…
- Já experimentei, mas não me dei bem. Acho que pode funcionar com você. Eu te ensino o básico e você pesquisa alternativas na Internet.
- Será que nossas mães aprovarão?
- São meio caretas, mas acho que vão nos apoiar.
Lígia e Lola quase engasgaram. Nunca pensaram na união entre seus filhos, tão diferentes. Mas seria ideal e logo viriam os netinhos. Foram para a cozinha, se abraçaram e começaram a sonhar.
- Você viu que está na moda o tal Contrato de Namoro?
- Li sobre o assunto. É recente, mas acho que é uma tendência.
- Somos advogadas e mães do casal. Acha que devemos ajudá-los?
- Claro! Vou pesquisar sobre os tais contratos.
- No nosso tempo, era só esperar o flerte, fazer um charminho, aceitar e marcar a data do casório. Vapt – vupt! Hoje, tudo é judicializado.
- Verdade. Só falta Motel exigir atestado de vacina e prova de sexo consentido.
O tema é recente e não há bibliografia a respeito, mas as Procuradoras têm acesso a Cartórios, advogados e conseguiram modelos do tal Contrato. Redigiram uma minuta abrangente, com 19 páginas, que aborda desde a duração, determinada ou não, até gravidez antes da conversão em união estável, direitos, deveres e regime de bens. Como tiveram experiências ruins com maridos, incluíram cláusulas sobre traição, desvio de conduta e maus tratos, porém com muito equilíbrio.
Pelo contrato, é permitido dormir e tomar banho juntos, acariciar partes íntimas etc., mas mexer no celular do outro é proibido. É falta de respeito e justa causa para rescisão. As mães serão testemunhas, mediadoras de conflitos e terão guarda compartilhada de netos e Pets, caso necessário. Mas sem muita interferência, claro. Eles já são adultos!
Aperfeiçoaram o documento consultando advogados e Procuradores, mas de outras cidades, para evitar vazamento. Assim que eles oficializem o namoro, demonstrarão surpresa, alegria e oferecerão ajuda com o contrato. Pedirão dez dias de prazo para não desconfiarem que o texto já estava pronto.
Léo e Lia convidaram as mães para jantar num restaurante fino, quinta-feira. Lígia e Lola foram à cabeleireira, compraram roupas de grife, foram ao restaurante, escolheram mesa e pediram um balde de champanhe que transpirava emoção. Léo e Lia chegaram felizes.
- Mãe, Lígia, a gente tem uma novidade para contar.
- Estamos ansiosas, crianças. Eu até trouxe meus sais.
- Precisamos da ajuda de vocês para redigir um contrato. Queremos fazer tudo direitinho. A gente se conhece há mais de 30 anos, mas a coisa pode degringolar e não queremos cometer erros – disse Lia.
- Mentira! Será que é o que estamos pensando? – provocou a mãe.
- Eu não minto às quintas-feiras. Lembra?
- Tá bom! Desculpe. Nós ajudaremos no que for preciso. Podem falar.
- Até bolamos uma minuta de contrato de namoro com previsão de união estável – antecipou-se Lígia, rompendo o acordo de surpresa.
- Casamento? União estável? Do que vocês estão falando?
- Ouvimos a conversa de vocês outro dia. Queremos netinhos.
- Mãe, esquece! Sou lésbica e o Léo é assexuado. Decidimos montar um bar de maconha recreativa e um Sex Shop on line. Precisamos de ajuda com o contrato. Ele é inexperiente e eu já fracassei duas vezes, lembra?
Nada de casamento. Nada de netos. Enquanto aguardavam as bebidas, as amigas frustradas conferiam a agenda de excursões no site do Clube da Terceira Idade. Vida que segue.