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sexta-feira, 6 de junho de 2025

Vai Soltar a Periquita?

No zap apenas uma mensagem lacônica: “Meu nome é 

Nestor e meu endereço é Rua Maria Quitéria, 66 Condomínio Green Garden, Salvador “. Nem o nome do bairro ele deixou para me facilitar a vida. ‘Bum! Bum! Bum!’, meu coração 

batia disparado. Vou! Não vou! Vou! Não vou! Não sabia o 

que decidir.

Eu e minha mãe morávamos sozinhas. Desde que meu pai 

morreu, isso já faz dois anos, vivíamos numa casa modesta 

na periferia de São Paulo. Minha mãe chamava – se Josefa, 

conhecida por todos como Zefa. Eu e Mami éramos ‘unha e 

carne’, como se dizia. Meu nome é Joana de Souza Marques, 

mas meu nome fantasia é Gabrielii, sim, com dois is.

Nunca tinha saído de São Paulo, do estado. Mal, muito 

mal, conhecia outras cidades do estado. Mas o tal Nestor, já 

me adiantara os 500 reais da viagem e do lanche. Daqui pra 

diante, só faltava eu tomar a decisão.

A Joana convivia bem com a Gabrielii: as duas ocupavam 

o mesmo corpo. No entanto, eram bem diferentes. Joana era 

meio tímida e modesta no se vestir. Gabrielii era aquilo que 

Joana não conseguia ser: extrovertida, alegre e ousada.

Joana era esguia e aparentava ter menos do que os seus 

19 anos incompletos. Falava prestando bastante atenção em 

suas palavras. Cada gesto seu era bem medido, calculado. Não 

porque ela fosse dissimulada. Não! Ela não era. Tudo ela fazia 

para não magoar a mãe. Mas Gabrielii era o vulcão que habitava nela~ 58 ~

Não sei quando a Gabrielii apareceu na minha vida. Eu 

só sei que aos poucos, desde os meus quatorze anos, existia 

alguém que queria aflorar de dentro de mim. Alguém que era 

fogo e destempero. Eu vivia só pensando em sexo, sexo, sexo! 

Mas aquilo me assustava e me atraia fortemente.

Conheci um rapaz, na época eu tinha 15 anos, que era bem 

mais velho. Um rapaz boa praça e divertido e com quem tive 

a minha primeira relação. A transa não foi lá aquela maravilha que eu esperava, mas me inaugurou para a minha vida 

sexual. De lá até agora, mantenho uma intensa vida sexual. 

Já conheci vários homens, porém, nunca tinha pensado em 

fazer do sexo uma atividade remunerada. E hoje, toda minha 

renda vem do comércio do sexo.

Comércio é uma palavra muito feia para uma atividade 

que também me dá prazer. Já faz dois anos que estou nessa 

profissão. Sou uma acompanhante.

O cara já não aguenta mais a mulher e o tédio do cotidiano… Bimba! Lá vai a Gabrielii! O cara quer ir para a balada, 

mas não quer uma namorada fixa… Bimba! Gabrielii!

Nessa vou ganhando o meu suado, e bem suado, dinheirinho! Não pense que é fácil… A maioria dos homens é de 

grosseirões, machistas e só nos querem, sabem pra quê.

Nunca sai da cidade de São Paulo para os meus programas. A minha grande preocupação é de um dia ter que falar 

pra minha mãe a origem do dinheiro que entra nessa casa 

pelas minhas mãos. O dia está se aproximando e eu terei que 

viajar para Salvador pra fazer um programa de uma semana 

fora do meu estado. Estou ansiosa~ 59 ~

Hoje é a véspera da viagem, já me decidi: vou ao encontro 

do tal Nestor… Nestor de quê? Como será essa criatura?

–”Mãe, senta aqui no sofá. Precisamos ter uma conversa. Sim, minha filha, fala… Eh, que sei que a senhora não vai 

aprovar…. Se eu não vou aprovar então porque vai falar…Vou 

falar porque preciso falar. Então fala logo… Mãe, conheci um 

rapaz na net e ele me chamou para passar dez dias em Salvador e eu vou… Vai? Já tá decidida? Então pra que me falar se 

já tá decidido?…É pelo meu compromisso com a senhora e a 

nossa amizade. Não quero que a senhora se chateie… Então 

vai, mas sem a minha benção…” Fui…

Cheguei, depois de muito perguntar às pessoas, ao local 

indicado pelo Nestor. Era um bairro meio afastado do centro. 

Peguei um uber e dei de cara com o condomínio que ficava 

no terreno no topo de uma pequena elevação.

Não fui bem recebida pelo porteiro, desconfiado pelas minhas roupas exageradamente transparentes. Tive que esperar 

vinte minutos pra que alguém me autorizasse entrar. As minhas pernas tremiam como varas verdes! Até os meus dentes 

tremiam!

Nestor, logo que me viu fez uma cara feia, e criticou minhas roupas. Nem se apresentou formalmente. Foi logo 

me puxando pelo braço e me empurrando. Entramos numa 

espaçosa casa de classe média alta com piscina e no início do 

que parecia uma festa. Era sexta – feira onze horas da noite…

Não dava nem para distinguir as pessoas. Muita fumaça, 

muita luz faiscante. Muitos corpos suados dançando eletricamente. Não dava nem para conversar. O som bem alto. Foi 

designado pra ela um quarto à direita de quem entra. Ela en~ 59 ~

Hoje é a véspera da viagem, já me decidi: vou ao encontro 

do tal Nestor… Nestor de quê? Como será essa criatura?

–”Mãe, senta aqui no sofá. Precisamos ter uma conversa. Sim, minha filha, fala… Eh, que sei que a senhora não vai 

aprovar…. Se eu não vou aprovar então porque vai falar…Vou 

falar porque preciso falar. Então fala logo… Mãe, conheci um 

rapaz na net e ele me chamou para passar dez dias em Salvador e eu vou… Vai? Já tá decidida? Então pra que me falar se 

já tá decidido?…É pelo meu compromisso com a senhora e a 

nossa amizade. Não quero que a senhora se chateie… Então 

vai, mas sem a minha benção…” Fui…

Cheguei, depois de muito perguntar às pessoas, ao local 

indicado pelo Nestor. Era um bairro meio afastado do centro. 

Peguei um uber e dei de cara com o condomínio que ficava 

no terreno no topo de uma pequena elevação.

Não fui bem recebida pelo porteiro, desconfiado pelas minhas roupas exageradamente transparentes. Tive que esperar 

vinte minutos pra que alguém me autorizasse entrar. As minhas pernas tremiam como varas verdes! Até os meus dentes 

tremiam!

Nestor, logo que me viu fez uma cara feia, e criticou minhas roupas. Nem se apresentou formalmente. Foi logo 

me puxando pelo braço e me empurrando. Entramos numa 

espaçosa casa de classe média alta com piscina e no início do 

que parecia uma festa. Era sexta – feira onze horas da noite…

Não dava nem para distinguir as pessoas. Muita fumaça, 

muita luz faiscante. Muitos corpos suados dançando eletricamente. Não dava nem para conversar. O som bem alto. Foi 

designado pra ela um quarto à direita de quem entra. Ela entrou no quarto, deitou numa cama por quinze minutos, até 

que Nestor e dois outros homens alcoolizados e drogados a 

pegaram. Ela nem teve como se defender….

Mais dois dias se passaram. Ela fez tudo o que quis e o que 

não quis. Nestor queria que ela trabalhasse pra ele numa casa 

privé.

A festa acabou, a luz apagou, o bonde não veio. 

E agora, José?

E agora, Gabrieli? 

E agora, Joana

Autor:

Álvaro Eduardo Guimarães Salgado

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