Na manhã cinzenta, o vento sussurrava entre as lápides como quem tenta recordar segredos antigos.
O cortejo se movia em silêncio, como se cada passo sobre o solo úmido pesasse o dobro.
As flores, em tons pálidos, murchavam antes mesmo do adeus final, vencidas por uma tristeza que não lhes pertencia.
À beira da cova, três mulheres vestidas de luto encenavam a dor com a precisão de um ofício antigo.
Suas lágrimas escorriam com uma fluidez ensaiada, pingando no chão como notas de um réquiem invisível.
Não conheciam o morto, tampouco os vivos que o acompanhavam. Ainda assim, choravam.
Carpideiras.
Herdeiras de uma tradição que poucos entendem e muitos julgam.
Alugadas pelo lamento, encarnavam a dor que a família, paralisada pela conveniência ou pelo cansaço, já não sabia exprimir.
Entre soluços e suspiros, eram elas que davam voz ao vazio, que tornavam o fim mais tangível.
Uma delas, a mais velha, carregava no olhar um cansaço que não era só físico era o peso de ter chorado por tantos que nunca amou.
Sabia que, quando tudo terminasse, guardaria o luto num lenço e seguiria para outro velório, outro nome, outro pranto.
Não era encenação. Era entrega.
Um tipo de generosidade crua, incompreendida, como se assumissem o papel de sacerdotisas da ausência, depositando um tipo de humanidade onde só restava formalidade.
Ao final da cerimônia, quando os parentes partem e o túmulo é coberto, elas se afastam em silêncio.
As lágrimas, agora secas no rosto, não deixam rastros, é como se nunca tivessem estado ali.
A tristeza que deixaram era real, mesmo que não fosse delas.
E talvez, nesse ofício de emprestar o luto, residisse a beleza sombria de quem transforma lágrimas alheias em última homenagem.
Autor:
CARLOS ALBERTO OMENA