Há dias em que o céu parece mais cinza do que azul, e o vento sopra não para refrescar, mas para inquietar.
Nessas horas, percebo que carrego comigo alguns moinhos de vento.
Não os de Dom Quixote embora eu também já tenha confundido fantasmas com gigantes, mas os meus próprios, silenciosos, girando com o sopro das minhas inquietações.
Esses moinhos não são de pedra nem madeira.
São feitos de lembranças mal resolvidas, de expectativas que construí altas demais, de culpas que deveriam ter partido há anos, mas ainda fazem morada no porão do peito.
Eles giram, incessantemente, mesmo quando tudo parece calmo por fora.
O motor invisível é a mente que não silencia, o coração que remói, o tempo que insiste em não apagar o que deveria ter sido esquecido.
Curioso é que, às vezes, me apego a eles.
Há uma estranha familiaridade nesses moinhos como se fossem parte da paisagem interna.
Já tentei desmontá-los, peça por peça, mas sempre descubro que, no fundo, sou eu quem sopra o vento que os move.
Alimentar mágoas, idealizar o passado, temer o futuro tudo isso é vento que parte de mim, impulsionando o que eu mesmo gostaria de parar.
E, no entanto, há algo de bonito nisso tudo.
Porque reconhecer meus moinhos é também reconhecer minha humanidade.
Somos todos feitos de batalhas invisíveis, de lutas travadas no silêncio dos nossos próprios castelos.
Aprendi que nem todo moinho precisa ser destruído.
Alguns apenas precisam ser compreendidos, para que o vento não mais os agite, mas os acalme.
Hoje, ao olhar para dentro, percebo que meus moinhos ainda giram mais lentos, talvez.
E eu sigo, cavaleiro de mim mesmo, aprendendo que coragem não é apenas lutar contra gigantes, mas reconhecer quando eles existem apenas dentro de nós.
Autor:
Carlos Alberto Omena