Está chegando a Páscoa! Todos prontos para comer muito bacalhau, saborear os deliciosos ovos e os incansáveis produtos da Bauducco? E aí, preparados? Então me conta o segredo de como você vai conseguir, porque por aqui ainda estamos na fase do filé de peixe, que parece mais um pedaço de papelão, e no lugar do ovo de Páscoa, um chocolate Batom (qualquer semelhança é mera coincidência).
E o vinho para acompanhar o bacalhau, já comprou? É das serras gaúchas ou vem dos nossos vinhos? Aqui já decidimos: este ano vamos de K-Suco de uva para manter o clima. Afinal, temos que celebrar a ressurreição do nosso Salvador, que, se estivesse por aqui (não que Ele não esteja), teria visto que muitos de seus filhos não enxergam o outro como irmão, nem compartilham o pão com todos. Muitos dos que fazem o pão, não o comem, pois a eles está destinado um jejum forçado — não só de alimento, mas, principalmente, de informações.
A ilusão do poder aquisitivo
Contudo, essas reflexões podem ser amenizadas com um bom ovo de Páscoa. Que, inocentemente, eu acreditava estar dentro do meu poder aquisitivo. Afinal, não estou mais na pobreza — o governo me garantiu isso! Mostrou até em mapas e estatísticas que eu subi de nível. Agora estou em outro patamar e posso até chupar um sacolé lendo o Caroço de Manga, pois minha situação econômica permite.
Aproveitei todos os tipos de empréstimos consignados disponíveis e sou até chamado de “Senhor” pelo gerente do banco. É mole ou quer mais?
A cruzada pelo ovo perfeito
Fiz a listinha de quem merecia receber essa iguaria pascal e parti em busca dos ovos, começando logo pela Kopenhagen. Pensei: vou arrasar com esse ovo que nem sei falar o nome, mas deve ser “tampa”, pois a vendedora me chamou de Senhor. Deve me conhecer do banco, pensei.
Nem cheguei a calcular o investimento, pois o valor unitário já ultrapassava meu orçamento para quatro ovos. Agradeci e, para não sair por baixo, ainda soltei:
— Não, obrigado. Estou à procura de algo mais especial.
Parti direto para a Cacau Show. Nada. Apliquei a mesma desculpa com a vendedora e ela, muito educada, perguntou:
— Já foi na Kopenhagen?
E eu, me fazendo de doido:
— Não… Onde fica?
O desfecho amargo
Terminei minha cruzada no Assaí, comprando ovos de Páscoa de qualidade duvidosa e constatando que, ao contrário do que me fizeram acreditar, continuo no mesmo lugar — com a diferença de que agora estou completamente endividado.
Roguei aos céus e posso te garantir que uma voz ressoou:
— Comerás o pão com o suor do teu rosto.
Ainda tentei argumentar:
— Mas, Senhor, eu trabalho no ar-condicionado… e não é pão que eu quero, é um Ovo de Páscoa!
Então aprendi que não importa qual tipo de ovo—se é de galinha ou de coelha. No fim, o que temos pra hoje é o de Ema ou Pata…Faça sua escolha.