Compilado apresenta relatos de casos clínicos e tenta ajudar profissionais da saúde a melhor atenderem as necessidades e vulnerabilidades desta população dentro dos sistemas de saúde do país
A psiquiatra e educadora sexual, especialista em Dependência Química e Sexualidade Humana, Alessandra Diehl, lança, no dia 25 de fevereiro, às 20h, no Espaço Clif (Botafogo), o livro Casos Clínicos LGBTQIAPN+ Diretrizes para o cuidado em saúde mental e sexual. O evento contará com sessão de autógrafos e roda de conversa com a participação de especialistas e ativistas, além do debate sobre um dos casos clínicos do livro: o etarismo na população LGBT. Haverá ainda a participação da drag queen Dimmy Kieer, personagem do Ex-BBB Dicesar.
Membro do conselho consultivo da Associação Brasileira de Estudos de Álcool e outras Drogas (ABEAD), Diehl destaca que os estudos e a prática clínica mostram que pessoas LGBTQIAPN+ enfrentam piores condições de vida, saúde mental e taxas de violência do que os seus pares cisgêneros heterossexuais. O livro destina-se a orientar profissionais da saúde e educadores a lidar de forma mais afirmativa com o público LGBTQIAPN+ sem preconceito ou melindres, falando sem medo sobre gênero e orientação sexual.
Cada vez há uma maior necessidade de compreensão e aprimoramento das habilidades clínicas por parte dos profissionais da saúde, incluindo os da saúde mental, para lidar com experiências específicas dessa população ao longo de seu curso de vida. Características como idade, raça e etnia, escolaridade e status social se cruzam para desempenhar um papel distinto nos desafios e oportunidades que as pessoas LGBTQIAPN+ enfrentam em seu cotidiano. Homens gays mais velhos, por exemplo, podem enfrentar preconceitos dentro e fora da comunidade LGBTQIAPN+, onde a juventude, beleza e “corpo malhado” são muitas vezes supervalorizados e idealizados. Dentro da comunidade, homens mais velhos podem sentir-se menos desejáveis, o que pode impactar na sua autoestima e saúde mental. Fora da comunidade, eles podem enfrentar discriminação dupla: por serem mais velhos e por sua orientação sexual. Nesse contexto, Alessandra Diehl reúne neste livro destacados profissionais brasileiros para relatarem, por meio de casos clínicos, sua prática no atendimento de saúde mental e sexual a essa população.
“A população LGBTQIAPN+ têm altas taxas de depressão, ansiedade e risco de suicídio, além de problemas ocasionados pelo consumo de substâncias. E essa população partilha experiências semelhantes de estigmatização, marginalização, abuso sexual, infecção pelo HIV, violação dos direitos civis e assédio no acesso aos serviços de saúde. Em especial para a população transexual, os serviços públicos do Brasil, por exemplo, ainda são muito escassos e inadequados para a forte procura de potenciais usuários do sistema público e privado”, afirma.
Segundo ela, embora o Brasil tenha utilizado legislação para promover a prestação de serviços de saúde abrangentes para o terceiro gênero, ainda existe uma forte resistência à implementação de tais leis e políticas. “O Brasil, enfrenta um enorme desafio para se tornar um país onde todos os direitos humanos sejam respeitados”, destaca Diehl.
Segundo o Observatório 2023 de Mortes Violentas de LGBT+ no Brasil, o Brasil continuou sendo em 2023 o campeão mundial de homicídios e suicídios de LGBT+. Foram 257 mortes violentas documentadas, uma morte a cada 34 horas! Um caso a mais do que o registrado em 2022. Os dados são divulgados desde 1980 pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), a mais antiga ONG LGBT da América Latina.
A pesquisadora aponta ainda para os riscos causados pelas micro violências, que não são apenas de riscos físicos e emocionais, mas também da marginalização social que esses indivíduos enfrentam diariamente. “Podemos entender micro violências como expressões e comportamentos cotidianos fortemente enraizados em algumas culturas. São falas ou olhares que vão, de alguma forma, passar pelos preconceitos existentes na sociedade. E entre profissionais de saúde isso também acontece, infelizmente, ferindo e causando ainda mais dor psicológica para essas pessoas já tão estigmatizadas”, conclui a psiquiatra, uma das referências nacionais na área das adições e da sexualidade humana, autora e colaboradora de diversos livros sobre o tema.
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Serviço:
Lançamento do livro – Casos Clínicos LGBTQIAPN+. Diretrizes para o cuidado em saúde mental e sexual
Autora: Alessandra Diehl
Editora: Artmed
Páginas: 160
Preço: R$75,00
Data: 25/02 – 20h
Local: Clínica Espaço Clif
Endereço: Rua das Palmeiras, 46
Inscrição para o lançamento: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSdk2wSPMKE1v6QzFGvE_lTCxUz3AVKKARWg1zGYoOGF85r0rg/viewform
Sobre a autora – Formada em 1988 pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), completou sua residência de psiquiatria em 2000 no Departamento de Saúde Mental (DSM). Em 2001, especializou-se em Dependência Química pela Universidade Federal de São Paulo e logo em seguida, em 2002, fez formação em Pesquisa Clínica (INVITARE).
Fez mestrado em 2007 na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) sobre estudo multicêntrico colaborativo juntamente com a Organização Mundial da Saúde (OMS) com o tema trauma e uso de substâncias em salas de emergência. Nesse campo, observou uma enorme falta de informação para os profissionais de saúde lidarem com questões relacionadas à interface sexualidade e dependência química.
Especializou-se em Sexualidade Humana na Universidade de São Paulo (USP), em 2009, com a monografia “Abuso e dependência de substâncias psicoativas em homossexuais e bissexuais: revisão de literatura “.
Desde 2009 tem sido professora convidada do Centro Brasileiro de Pós-graduações (CENBRAP) em dois módulos (dependência química e sexualidade), contribuindo com a formação de inúmeros médicos em várias cidades do Brasil.
Em 2014, obteve o Diploma em Saúde Sexual e Reprodutiva e Sexualidade de Adolescentes pela Geveva Foundation for Medical Research and Evaluation (GFMR), na Suíça, quando esteve entre os 15 alunos selecionados para visitar a sede da Organização Mundial da Saúde (OMS) para aprender sobre ética na pesquisa em sexualidade, e discutir e apresentar projetos de pesquisa na área da saúde sexual. No mesmo ano recebeu o prêmio de mérito de distinção pela “Contribuição para a Sexologia na América Latina”.
Em 2015, completou sua formação acadêmica com especialização em Educação Sexual no Centro Universitário Salesianos (UNISAL) com a monografia “Condições relacionadas ao aborto e ao sexo em uma amostra de dependentes químicos brasileiros”. Neste ano recebeu os prêmios “Embaixador do Esporte e Prevenção” e “Destaque da Prevenção em 2015”. Foi presidente do Centro de Pesquisas Psiquiátricas Américo Bairral uma das Federadas paulistas da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em duas gestões (CEPAB). Foi Preceptora da Residência Médica em Psiquiatria do Instituto Américo Bairral.
Em 2016, concluiu seu doutorado na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Departamento de Psiquiatria, com a tese “Disfunção Sexual, Aborto, Diversidade Sexual, Comportamento Sexual de Risco e Crime em uma amostra de não usuário”. Em 2016, recebeu o diploma e a medalha de reconhecimento por “profissionais que contribuíram para a história da sexologia brasileira”, pelo Instituto Paulista de Sexualidade (InpaSex).
Em 2017, recebeu novamente o prêmio Destaques da Prevenção em solenidade realizada na Assembleia Legislativa de São Paulo.
Em 2018, foi aprovada no Programa Doutoral em Sexualidade Humana (PDSH) na Faculdade de Psicologia e Ciência da educação da Universidade do Porto (FPCEUP).
Em 2021, concluiu seu Pós-doutorado da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da Universidade de São Paulo (USP), Centro colaborador da OPAS/OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem no Grupo de Estudo sobre Prevenção do Uso Nocivo do Álcool e ou Drogas – GRUPAD USP de Ribeirão Preto, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto.
Em 2021, foi presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD), da qual atualmente faz parte do conselho consultivo.
Em 2022, tornou Embaixadora da International Society of Addiction Medicine (ISAM) no Brasil, colaborando com colegas de toda a latina América para os estudos nesta área.
Em 2024, recebeu o Prêmio Cidade de São Paulo “Amigos da Recuperação” oferecido pelo Faces e Vozes da Recuperação do Brasil
Alessandra Diehl tem várias publicações em revistas especializadas em todo o mundo. É revisora de diversas revistas científicas, possui mais de 100 capítulos de livros, muitos deles relacionados a agenda de gênero, sexualidade, consumo de substâncias.
Sua paixão e preocupação a levaram a procurar maneiras de disseminar ainda mais a informação que ela achava que não estava ao alcance dos leitores da comunidade não científica e outros como assistentes sociais, enfermeiras, terapeutas ocupacionais, médicos de família e formuladores de políticas públicas, os quais ela percebeu que mereciam ou deveriam ter alguma compreensão atualizada dos assuntos que estudava. Diehl escreveu diversos livros que hoje são referências em pós-graduações e cursos de graduação. Vem há muitos anos dedicando-se a este campo de atuação, tendo publicado diversos livros relacionados ao tratamento e prevenção do uso e dependência de substâncias, sexualidade, participando como congressista e palestrante de congressos nacionais e internacionais, realizou visitação de serviços no Brasil e no exterior, sendo atualmente uma das referências nacionais na área das adições e da sexualidade humana.
Também tem experiência em ensaios clínicos, ensino, pesquisa, tratamentos e organização de serviços para dependência de substâncias, sexualidade e na prevenção de álcool e outras drogas com foco em dependências, saúde mental das mulheres, relacionamentos, codependência, namoro, violências, comportamento sexual, gêneros e diversidade sexual.
Autora:
Carol Oliveira