Nos últimos 20 anos atuando na área do envelhecimento, uma das situações mais frequentes que vivencio é a de amigos, conhecidos e familiares me procurando em busca de indicações de cuidadores de idosos para seus entes queridos. Essa demanda tem se tornado cada vez mais comum, refletindo não apenas o crescimento da população idosa no Brasil, mas também a urgência em oferecer cuidados adequados para um segmento da sociedade que merece atenção, respeito e dignidade. No entanto, essa é apenas uma parte da história. O verdadeiro desafio está em encontrar profissionais devidamente capacitados para exercer essa função tão sensível e essencial.
O Cenário Atual da Demanda
Com o envelhecimento da população brasileira, é natural que a demanda por cuidadores tenha crescido significativamente. Dados recentes mostram que o Brasil já conta com mais de 39 milhões de pessoas idosas, muitas das quais necessitam de algum tipo de assistência no dia a dia. Esse número evidencia a crescente necessidade de profissionais qualificados para atender a essa parcela significativa da população. As famílias enfrentam dilemas emocionais e logísticos na busca por esses profissionais. O cuidado de idosos exige uma série de competências que vão muito além de habilidades técnicas. Empatia, paciência, capacidade de observação e habilidades de comunicação são apenas algumas das qualidades indispensáveis para um cuidador. No entanto, a realidade é que encontrar profissionais que combinem formação adequada e essas habilidades interpessoais ainda é uma tarefa desafiadora.
O Desafio da Formação
Nas últimas décadas, observamos o surgimento de uma grande quantidade de cursos destinados à formação de cuidadores de idosos. Em teoria, essa é uma resposta positiva à crescente necessidade do mercado. Contudo, a qualidade desses cursos varia consideravelmente. Muitos não oferecem o conteúdo mínimo necessário para preparar os profissionais para as complexas demandas do cuidado. Isso significa que as famílias, ao contratarem cuidadores, muitas vezes se deparam com indivíduos que possuem formação insuficiente ou superficial, gerando insegurança e desconfiança em relação à qualidade do cuidado oferecido.
Esse cenário expõe um problema estrutural e urgente. Não se trata apenas de disponibilizar cursos, mas de garantir que esses cursos possuam padrões elevados de qualidade. É necessário que os profissionais sejam formados com uma base teórica consistente e experiências práticas que os preparem para lidar com as mais diversas situações. Afinal, o cuidado de idosos envolve questões de saúde física, mental e emocional, além de um profundo respeito à individualidade e à dignidade da pessoa cuidada.
Valorização e Reconhecimento Profissional
A solução passa também pela valorização da profissão de cuidador de idosos. É essencial que esses profissionais sejam reconhecidos não apenas como uma mão de obra técnica, mas como agentes fundamentais no cuidado de uma população que merece atenção especial. Políticas públicas que incentivem a formação e regulação da profissão, aliados à criação de padrões de qualidade para cursos de formação, podem transformar esse setor.
Para as famílias, a contratação de um cuidador não é apenas uma decisão prática, mas também emocional. Confiar o cuidado de um ente querido às mãos de outra pessoa é um ato de confiança e esperança. Por isso, garantir que esses profissionais estejam preparados é também uma forma de oferecer segurança, tranquilidade e qualidade de vida tanto para os idosos quanto para suas famílias.
Um Olhar para o Futuro
O Brasil precisa urgentemente de um olhar mais atento para a formação de cuidadores de idosos. Esse é um investimento não apenas no presente, mas no futuro de uma sociedade que envelhece rapidamente. Formar cuidadores competentes, valorizá-los e regulamentar a profissão é um passo fundamental para construir um país mais humano, empático e preparado para lidar com os desafios do envelhecimento.
Por: Willians Fiori
Especialista em longevidade desde 2003
Professor docente do hospital Israelista Albert Einstein na pós graduação em gerontologia, Geriatria e mercado saúde
Professor convidado da FIA,INSPER, FAAP, FMUSP, UFRJ e PUC-RS
Membro da sociedade brasileira de geriatria e gerontologia
Membro da sociedade brasileira de gerontotecnologia
Membro da associação brasileira de telemedicina e telesaude
Membro e criador do grupo de estudos sobre longevidade envelhecimento 2.0
oHst e criador do gerocast, primeiro podcast em audio sobre longevidade no brasil, desde 2014