Há séculos a humanidade discute o tema. Para uns, existe amizade sincera entre sexos opostos. Já outros acham que o que existe é apenas interesse. Há ainda os que só opinam por dinheiro. A história registra casos famosos: Menelau, marido de Helena, a mulher mais bela do mundo, cujo resgate provocou a Guerra de Tróia; Cleópatra e o ménage com Júlio Cesar e Marco Antônio; Mata Hari arrancou informações de amantes alemães, franceses e russos na 1a Guerra Mundial; Nos EUA, rolos com Marilyn & JFK, Bill & Mônica. E naquela época nem existiam as redes sociais!
A celeuma persiste. Muitos filósofos do Facebook e Instagram garantem que não há amizade entre homens e mulheres. É tudo interesse. O STF – Supremo Tribunal do Facebook – ainda não chegou a um acordo.
Os não famosos também vivem relações conflituosas. Perivaldo, o Peri, narigudo, espinhento e estudioso, amou Cecília, a Ceci, colega de classe linda, charmosa, namoradeira e sapeca. Na escola, ela só se ferrava, mas seduzindo colegas e professores, sempre se safou. O interesse por Peri resumia-se ao seu nome nos trabalhos escolares e passar cola nas provas. Certo dia, Peri criou coragem e abordou Ceci:
- Que tal um jantar romântico?
- Mais fácil você morder a própria orelha.
- Nossa! Perdeu sua faca? Procure nas minhas costas!
- Sou grata a você e retribuo as colas e os trabalhos com um sorriso sincero.
- Poxa! Achei que fingíamos ser mais amigos.
Terminado o ensino médio, Peri foi cursar faculdade no exterior e Ceci continuou seduzindo em troca de presentes, viagens e jantares caros, o que provocou o fim de noivados e casamentos. Muitos anos depois, Peri examinava um novo modelo de celular no balcão de uma loja chique, a nona filial da grande rede de magazines, quando o segurança se aproximou discretamente.
- Tá vendo aquela mulher na estante de capinhas para celular?
- Aquela de Top azul e mini saia vermelha, incompatíveis com o estado de conservação?
- Sim. Ela também tem estrias, rugas e celulite. Está danificando uma capinha só para pedir desconto. Ops! Vem vindo aí. Fui!
A mulher se aproximou do balcão e Peri não teve dúvidas: apesar de um tanto judiada, era Ceci, sua antiga paixão do colégio. Perguntou se podia ajuda-la e ela não o reconheceu de imediato, apesar das espinhas, caspa e o enorme nariz.
- Não me reconhece? Sou Peri, seu colega do colégio. Lembra?
- Quem diria! O melhor aluno da escola atrás do balcão de celular. Não fui a única a se dar mal!
- Eu fazia seus trabalhos e passava cola, tudo para ter sua atenção.
- Eu me interessava por você, mas de um jeito diferente, sabe?
- Estava apaixonado, mas para você eu era apenas um nerd bobão e distraído.
- Cuidado. Distração mata. Lembra do Capitão Gancho? Dizem que era muito distraído, coçou com a mão errada, teve hemorragia e morreu.
Ceci nunca foi de fazer piadas, mas a nota sobre o Capitão Gancho quebrou o gelo, descontraiu o clima. Estava um tanto mal conservada, mas ainda mantinha a beleza e a graça que o cativou no passado. Talvez o tempo tivesse amaciado seu coração e ela não fosse mais tão interesseira.
- Você está com alguém?
- Namorando? Não. Queimei meu filme e não me casei. Hoje vivo só, numa pensão.
- Que tal um jantar romântico?
- Só quero uma capinha para meu celular ultrapassado. Achei uma danificada. Tem desconto?
- Celular ultrapassado? Leve este modelo novo. É top de linha.
- Cê tá lôco? Custa 3 meses do meu salário. Sou garçonete de Fast-Food e mal ganho para comer.
- Fique com o top de linha e uma capinha nova. Cortesia.
- Cortesia de quem?
- Minha, oras! Sou o dono desta rede de lojas.
- Onde vamos jantar? Que horas você me pega?
Lições dessa história: 1) Pessoas que se ferram, sempre se ferram, e nunca vão a lugar algum. 2) Existe amizade sincera entre homem e mulher, mas depende dos interesses. 3) A beleza um dia se acaba, mas a fome, não! 4) Trate bem os nerds da sua turma. Um dia você poderá trabalhar para algum deles. Ou se casar. Questão de interesses! Vida que segue.
… ainda sobre interesses: podem ser também interessantes!
Um abraço, Laerte
Obrigado, Ita