Tem gente que, quando vai contar alguma coisa para a gente, conta de uma maneira que dá a impressão de que tudo o que ela fez foi melhor do que o que a gente faz. Não estou falando de pessoas que contam vantagem, que se gabam ou se acham superiores, mas daquelas que descrevem o que fizeram “com gosto”.
Todo mundo já conversou com alguém que contou como foi o seu dia, tudo pelo que passou e teve que fazer naquele dia, como ficou cansado, sem forças e sem disposição, mas que, quando chegou em casa, tomou AQUELE banho e saiu com as energias renovadas. Tem também quem conte que estava com muita fome e, quando foi almoçar, comeu AQUELA macarronada, ou qualquer outra comida, o que importa é a ênfase que a pessoa dá na hora de contar.
Acho que eu nunca tomei um banho, nem comi nada tão bom que tivesse merecido o adjetivo “AQUELE (A)” com essa ênfase toda. Já tomei banhos que foram revigorantes, mas nenhum deles foi AQUELE, já comi comidas deliciosas, mas nenhuma delas também foi AQUELA. Talvez eu não esteja fazendo essas coisas do mesmo jeito ou no mesmo lugar que as tais pessoas que contam fazem.
Para falar a verdade, acho que nem essas pessoas chegaram a tomar um banho ou a comer algo tão bom assim, o jeito como elas contam é que parece criar um outro mundo dentro das nossas cabeças, onde tudo é melhor. Elas gesticulam de uma maneira diferente enquanto descrevem o banho que tomaram e falam com a boca cheia d’água e como se estivessem sentindo o sabor enquanto descrevem as comidas que comeram. É tudo o jeito. E eles têm o jeito. AQUELE jeito.