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sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Tecnologia, clonagem, peeling e outras pragas

Tecnologia é uma coisa fantástica e paradoxal. O computador, por exemplo, foi inventado para solucionar problemas que não existiam antes de sua invenção. Criada para facilitar a vida das pessoas, a tecnologia é também usada pela bandidagem. Quem nunca pagou um boleto falso ou comprou em site fake? Todos conhecemos alguém que teve cartão de crédito ou celular clonado, recebeu pedido de dinheiro de “amigo” pelo WhatsApp etc. Tudo golpe! É preciso atenção! 

Alguns humanos não se entendem com a tecnologia, apanham do teclado e dos aplicativos. Para complicar, alguns celulares parecem ter vida própria e, do nada, tocam música ou fazem ligações não solicitadas. E o dono passa vergonha.

No campo da estética, a tecnologia permite cirurgias robóticas, implantes, aplicação de ácidos e cremes milagrosos que transformam qualquer bruxa de história infantil numa Taylor Swift em duas semanas e em 12 parcelas, no cartão.

Adamastor, Astor, na versão reduzida, é atrapalhado com a tecnologia. Também é reduzido em outros quesitos: fraco de feição, dentadura torta e deficiente monetário. Os amigos acreditam que ele é um macaco geneticamente modificado, mas é leal e dança um forró arretado. Só que ninguém liga para isso, pois ele é pobre! Ponto final. Seu primo Chicão não é exatamente um deus grego, mas tem ótima estampa, muita lábia e um atributo que supera tudo: é rico! Não é errado o homem ter saldo bancário astronômico e pesquisas confirmam que não existem ricos feios. A origem da fortuna é desconhecida. Sabe-se que é arrogante, safado e inconveniente. Sorte dele que a lábia e o dinheiro compensam.

Astor confunde celular com controle remoto e já tentou mudar o canal do micro-ondas pensando que era TV. Como se não bastasse, é vesgo e tem artrose. A onda de má sorte começou no parto com fórceps e culminou quando clonaram seu cartão de crédito, celular, documentos e perfis nas redes sociais, tudo ao mesmo tempo.

– Tchutchuca, minha linda! Tudo certo para esta noite?

– Tchutchuca, Chicão? Aqui é o Astor, pô! Clonaram meu celular e tô usando o da Edileusa. Eu não te liguei. O celular estava no bolso da calça e deve ter ligado sozinho quando me sentei.

– Então manda lembranças para a sua poupança. KKK

– Clonaram meu R. G. e cartão de crédito. Alguém quer se passar por mim.

– Mas quem tem a vida tão ruim a ponto de querer se passar por você?

– Isso eu não sei, mas a fatura veio alta, com conta de motel, restaurante fino e roupas de grife. Também limparam a conta bancária.

Edileusa adora dançar forró com Astor. É tão magra que o apelido é Cesta Básica – a moça não tem carne! De repente, ela não quer mais conversar, nem dançar forró e está sempre com dor de cabeça. Quando Astor devolveu o celular, disse que já tem outro, mais moderno. Renovou todo guarda-roupa, mesmo desempregada há meses, e decidiu terminar o namoro.

– Não é você, Astor. Sou eu. Não me queira mal, só que não dá mais.

Há 3 nos, quando foi demitido, Astor recebeu uma bolada, não em dinheiro vivo, mas títulos e ações. Ao buscar seus pertences na casa de Edileusa, encontrou o envelope da rescisão e levou um susto. A empresa, de alta tecnologia, lançou produtos inéditos e seu valor de mercado foi parar na estratosfera. Astor vendeu tudo, recebeu uma fortuna e sumiu. Internou-se na clínica de estética da doutora Ester Elisa e voltou repaginado. Fez plástica, implantes capilar e dentário, preenchimento com cartilagem de avestruz, peeling à base de pasta de jasmim quente com mel de abelhas transgênicas e orvalho, roupas elegantes, carro zero e apartamento. No Cabaré, só foi reconhecido por conta da dança inconfundível do tricampeão de forró. A notícia correu rápido.

Chicão não gosta de dançar, mas tanto Edileusa insistiu que foram ao Cabaré. Quis ver para crer. Astor está mesmo irreconhecível: bonito, bem-vestido, lindo sorriso e muito ouro nos dedos e no pescoço. A disputa das piriguetes para dançar com ele é ferrenha.

Sua vingança estava quase completa. Faltava apenas desmascarar o primo. Com o dinheiro das ações, contratou um detetive e descobriu que Edileusa, como tantas outras mulheres, caiu na lábia do Chicão e entregou seus cartões e senhas. O primo enricou extorquindo maridos e namorados de suas amantes.

Edileusa pediu a Astor uma derradeira dança. Silêncio no Cabaré. A química entre os dois é incrível e o aplauso foi frenético. Ela queria vida empolgante, frequentar lugares requintados e por isso traiu Astor e foi viver com Chicão. Confessou tudo e disse que o que fez é imperdoável, mas a antiga chama reacendeu, Astor perdoou a amada, foram para seu novo apê e Chicão para a clínica da rica doutora Ester Elisa.

Edileusa tentou aplicar o golpe da barriga no rico amado, mas ele revelou que os procedimentos que recauchutaram Astor e Chicão têm efeitos colaterais: disfunção erétil, incontinência urinária e hemorroidas. 

A clínica da doutora Ester Elisa faliu, Astor perdeu a virilidade e não pode ficar muito tempo sentado, Edileusa embuchou e Chicão, com fraldão geriátrico, é garçom no Cabaré. Os clientes não sabem do ocorrido e todas as noites aplaudem a dupla Astor e Edileuza. Como dançam forro! Mas a barriga já esta aparecendo. 

Laerte Temple
Laerte Temple
Administrador, advogado, mestre, doutor, professor universitário aposentado. Autor de Humor na Quarentena (Kindle) e Todos a Bordo (Kindle)

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