O Que é Ser Esquerda, Direita e de Centro no Brasil? Qual é a Origem das Ideologias Políticas? Por Que, Para os Brasileiros, as Diferença Ideológicas Não São Claras?
Nas três ou quatro últimas eleições presidenciais e estaduais, o Brasil vem assistindo a uma onda de discursos agressivos – especialmente nas redes sociais – que se dividiam em dois lados: esquerda e direita.
Mas, definir um posicionamento político apenas pelo viés partidário pode ser uma tremenda armadilha no nosso país, já que essa divisão binária não reflete a complexidade e contradições da sociedade.
O fato é que não existe um consenso quanto a uma definição comum e única de esquerda e direita, uma vez que existem várias esquerdas e direitas brasileiras porque esses conceitos são associados a uma ampla gama de pensamentos políticos – e, principalmente o enorme número de partidos políticos sem qualquer viés ideológico.
Origem das Ideologias
As ideologias “esquerda” e “direita” foram criadas durante as assembleias francesas do século 18, pois a burguesia com o apoio da população pobre procurava, diminuir os poderes da nobreza e do clero. Com a Assembleia Nacional Constituinte, as camadas mais ricas não gostaram da participação das mais pobres, e preferiram não se misturar, sentando separadas, do lado direito.
Por isso, o lado esquerdo foi associado à luta pelos direitos dos trabalhadores, e o direito ao conservadorismo e à elite. Dentro dessa visão, ser de esquerda presumiria lutar pelos direitos dos trabalhadores e da população mais pobre, a promoção do bem-estar coletivo e da participação popular dos movimentos sociais e minorias.
Já a direita representaria uma visão mais conservadora, ligada a um comportamento tradicional, que busca manter o poder da elite e promover o bem-estar individual. Mas, com o tempo, as duas expressões passaram a ser usadas em outros contextos e, hoje, os partidários que se colocam contra as ações do regime vigente (oposição) seriam entendidos como “de esquerda” e os defensores do governo em vigência (situação) seriam a ala “de direita”.
Após a queda do Muro de Berlim (1989), que pôs fim à polarização EUA X URSS, um novo cenário político se abriu e, por isso, atualmente as palavras ‘esquerda’ e ‘direita’ parecem não dar conta da diversidade política do século 21, podendo designar diversos conteúdos conforme os tempos e situações.
Situação Brasileira
No Brasil, essa divisão se fortaleceu no período da Revolução Militar, onde quem apoiou o golpe de Estado era considerado de direita e, quem defendia o regime socialista que provavelmente seria instaurado, era considerado “de esquerda”.
Com o tempo, outras divisões apareceram dentro de cada uma dessas ideologias e, atualmente, os partidos de direita abrangem os conservadores, os democratas-cristãos, os liberais e os nacionalistas. Na esquerda, temos os socialdemocratas, os progressistas, os socialistas os democráticos e os ambientalistas e, na extrema-esquerda, temos os movimentos considerados simultaneamente igualitários e autoritários.
Há ainda posição de “centro”. Esse pensamento consegue defender o capitalismo sem deixar de se preocupar com o lado social e, em teoria, a política de centro prega mais tolerância e equilíbrio na sociedade. No entanto, ela poderá estar mais alinhada com a política de esquerda ou de direita, dependendo das propostas elaboradas de cada uma.
A origem desse termo vem da Roma Antiga, que o descreve na frase: “In mediun itos” (a virtude está no meio). A política de centro também pode ser chamada de “terceira via”, que idealmente se apresenta não como uma forma de compromisso entre esquerda e direita, mas como uma superação simultânea de uma e de outra – essa é a imagem que os defensores dessa ideologia desejam “passar”.
Pesquisa Ideológica
Para os brasileiros, a diferença entre as ideologias não parece ser tão clara, pois em 2014 fez-se uma pesquisa em 70 cidades das cinco (5) regiões do Brasil perguntando como os brasileiros se identificavam ideologicamente. Dos 1000 entrevistados, 41% não souberam dizer se eram ideologicamente de direita, esquerda ou centro.
A porcentagem dos que se declaram de direita e esquerda foi a mesma: 9%. Em seguida veio centro-direita (4%), centro-esquerda e extrema-esquerda, ambas com 3%, e extrema-direita (2%). Quando a pergunta foi sobre a tendência ideológica de sete (7) partidos (DEM, PT, PSDB, PSB, PMDB, PV, PDT, PSOL, PSTU), mais de 50% não souberam responder.
Em determinados momentos da história, ambas as ideologias assumiram posturas radicais e, nessa posição, tiveram efeitos e atitudes muito parecidas, como a interferência direta do Estado na vida da população, uso de violência e censura nas redes sociais contra opositores e a manutenção de um mesmo governo ou liderança no poder. Porém, ao longo do século 20, parte do pensamento de esquerda foi associada a bases ideológicas como marxismo, socialismo, anarquismo, desenvolvimentismo e nacionalismo anti-imperialista (que se opõe ao imperialismo).