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quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Verde e rosa

O pessoal lá do bairro adorava o carnaval. Todo ano nessa época era a maior festa, todos se reuniam em uma das poucas casas que tinham uma TV para assistir aos desfiles das escolas de samba de São Paulo e do Río. Depois vinha a torcida no dia da apuração. Tinha gente que não tinha uma escola preferida, torcia para a que achou mais bonita, tinha quem torcia para essa ou aquela escola, mas a grande maioria torcia para a Mangueira.

O amor por esse período do ano era tão grande que eles até fundaram um bloquinho, que passou a desfilar anualmente pelas ruas do centro da cidade. Os ensaios eram feitos na praça do bairro, cada um trazia o próprio instrumento, que era sempre usado ou improvisado, por causa da falta de recursos, e sem uma boa afinação, pois ninguém entendia muito disso, mas, com toda a vontade e empolgação, acabavam saindo versões meio diferenciadas de sambas e marchinhas clássicos.

Com o passar dos anos, o pessoal foi aprendendo a tocar melhor, a afinar os instrumentos e conseguindo, aos trancos e barrancos, comprar instrumentos cada vez melhores e mais novos. Seguindo por este caminho, foram se organizando cada vez mais, até que um dia o bloquinho virou escola de samba. Escolheram as cores verde e rosa, claro, as mesmas da Mangueira. Ainda ensaiavam na mesma praça, pois ter uma quadra, mesmo que o espaço fosse alugado, ainda estava muito longe daquela realidade.

Ali, naquela praça, começaram também muitos namoros. O pessoal que ia assistir aos ensaios, já tinha até gente que vinha de longe, aproveitava para tomar uma cerveja no bar que ficava do outro lado da rua, para fazer uma fezinha na banca de jogo do bicho, que ficava em uma das antigas casinhas da vila onde antes pessoas moravam, e também para sambar. Enquanto isso, os filhos adolescentes se conheciam, conversavam e trocavam beijos e números de telefone. Várias dessas histórias terminaram em casamento.

Nossa escola de samba também se “casou”. Foi quando a sua maior fonte de inspiração, a Mangueira, se tornou sua madrinha. Daí para frente, vieram vários títulos de campeã, uma sede e a tão sonhada quadra. Enfim, não faltava mais nada.

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