Entre as inúmeras tendências que vem e vão, a prioridade, mais do que nunca, é o abraço percebido por moradores e visitantes assim que a porta de entrada é aberta
Impossível não notar! Ao longo de 2023 muito se falou da presença incisiva da nostalgia em diversos aspectos do universo fashion que, direta ou indiretamente, exerce sua influência em tantos outros campos, como a arquitetura de interiores. Prova disso foi o resgate de designs dos anos 1970 e 1980 como inspiração no desenvolvimento de projetos.
“Independentemente do estilo do décor, as pessoas estão, avidamente, procurando o conforto para sentirem-se verdadeiramente em casa. O intuito é sentir um refúgio que aqueça o coração e traga leveza e paz depois de tantas questões vividas ao longo do dia”, apontam Vanessa Paiva e Claudia Passarini, responsáveis pelo escritório Paiva e Passarini Arquitetura.
Inclusive a cor do ano escolhida pela Pantone segue essa linha. O tom gentil e aveludado do Peach Fuzz é capaz de ativar os estímulos de gentileza, comunicando as mensagens de cuidado, compartilhamento, vida comunitária e colaboração com o próximo.
De acordo com a arquiteta Cristiane Schiavoni, houve um tempo em que as pessoas procuravam por melhorias estéticas em casa com vistas às impressões e o deslumbre que seus convidados teriam ao chegar. “Todavia, empenhar-se em mudar sua própria morada pensando apenas no outro é um comportamento que, felizmente, tenho acompanhado mudanças junto aos meus clientes“, analisa. Ela reitera que o apreço pelo receber bem não parou, mas percebe-se o anseio por conciliar boas escolhas dentro daquilo que agrada o proprietário para que possa sentir-se feliz em um ambiente gostoso e ao seu modo. “Essa mudança é muito importante, pois quando nos sentimos bem, automaticamente emanamos essa atmosfera para quem nos visita“, complementa.
Para a arquiteta Marta Martins, o design biofílico, umas das vertentes da neuroarquitetura, também favorece para que esse bem-estar esteja cada vez mais presente no desenvolvimento dos ambientes. “Esta tendência se concentra em adicionar elementos da natureza para dentro de casa, promovendo uma conexão mais profunda com o ambiente natural. Isso pode incluir a integração de plantas, uso de luz natural e materiais como madeira e pedra”, afirma.
Criada a partir de plantas preservadas pela arquiteta Marta Martins, a parede verde é uma solução prática por conta da baixa necessidade de manutenção. Como ponto positivo, corrobora para o enriquecimento do ambiente interno com elementos associados à natureza | Projeto Marta Martins Arquitetura | Foto: Rafael Renzo
A consciência sustentável também é outro ponto bastante fortalecido nos últimos anos e que seguirá em 2024. O reaproveitamento de materiais, uso de madeira oriunda de manejo florestal e a incorporação de tecnologias verdes em projetos de construção é caminho sem volta e que está na pauta tanto dos profissionais de arquitetura, como dos consumidores.
Iluminação
Tão importante quanto o mobiliário, o projeto luminotécnico tomou uma proporção ainda maior nos últimos tempos. Com o isolamento social, percebeu-se o quanto uma vida pode girar no interior de uma casa, do lazer ao trabalho, e como a iluminação está atrelada a cada objetivo. Então, planejar o uso das luzes é algo que segue com força, principalmente no uso de LED.
“A iluminação muito marcada e com exagero do uso de LEDs cansa. Ele ainda seguirá como um protagonista, mas com mais parcimônia e sempre com o intuito de agregar conforto ou uma solução. Sem motivo, denotam excesso”, analisam Vanessa Paiva e Claudia Passarini.
Mais leveza
A naturalidade seguirá super presente não apenas pelo visual conferido, mas por outros meios como as texturas, caso de materiais como o linho, a palha, as fibras, o algodão e a própria madeira. Além disso, muitos itens ajudam a intermediar o acesso aos objetos naturais, como o caso do cobogó: ao cumprir a função de “separar sem dividir”, auxiliam na manutenção da iluminação e ventilação externa dentro dos ambientes.
Na área externa desse apartamento garden, a arquiteta Cristiane Schiavoni realizou uma aprazível sala de estar que desconecta os moradores da vida agitada que levam do lado de fora. Com o fechamento de vidro recoberto por persianas, inclusive no teto, ela trabalhou com móveis de madeira e a inserção de objetos que cumprem, com maestria, o desejo de desfrutar as coisas boas da vida | Projeto Cristiane Schiavoni Arquitetura| Foto: Carlos Piratininga
O íntimo
As formas orgânicas, aplicadas nos mais diversos produtos, continuam apreciadas. Deslumbrante nos espelhos, os desenhos não lineares se voltam ainda mais para o décor, o que influencia também no impacto do mobiliário. As quinas menos pontiagudas dos mobiliários refletem o conceito de fluidez na caminhada entre os ambientes e até mesmo os dormitórios foram alcançados por esse conceito, uma vez que as camas mais baixas começaram a ressurgir nos projetos.
Dentro de uma paleta neutra, as arquitetas Vanessa Paiva e Claudia Passarini incrementaram o aconchego no quarto de maneira suave, com cores mais fechadas na cabeceira e na composição entre tapete e cortina, bem como na roupa de cama, misturando texturas inclusive na meia parede ripada e na poltrona Charles Eames | Projeto Paiva e Passarini Arquitetura | Foto: Xavier Neto
Os banheiros são outros espaços que buscaram conexões com um passado não tão distante. Metais, paredes e louças coloridas voltaram à cena em uma leitura mais contemporânea, deixando de lado o branco que havia se tornado unanimidade. Ademais, os projetos passaram a brincar com plantas e outras formas que cooperam com a vontade de ter as suas horas de autocuidado e relaxamento. “Costumo dizer que estamos trazendo de volta o conceito de uma sala de banho, que não apenas propicia a realização das atividades de higiene física, mas também a mental“, conclui Cristiane.
Autora:
Flávia Ávila