Em tempos de festas de fim de ano muitas são as emoções que nos rodeiam. Tempos felizes para alguns, tristes para outros. Muitos encontros e risadas, mas também muita solidão. Idealizações, fantasias, castelos de areia. Famílias ditas perfeitas, fotos nas mídias sociais. Como a criança que um dia esperou por Papai Noel, para algumas ele veio e para tantas outras não. Assim como o amor familiar. Como consigo amar e odiar ao mesmo tempo? É uma pergunta que a Psicanálise fomenta há muito tempo. A tal da ambivalência.
Sim, os profissionais de saúde mental veem um aumento exponencial em seus atendimentos nessa época do ano. Os pacientes falam de um sentimento difícil de explicar, uma angústia. Angústia do quê, por quê, por quem? Aquela pequena e indefesa criança interior ainda pede colo, amparo e afago. Ela chora.
E é nesse lugar que a Psicanálise pode entrar como uma potente ferramenta de aprofundamento nas questões psíquicas, do nosso desconhecido. Um lugar sagrado chamado inconsciente. Mesmo que não saibamos dele, ele nos atravessa e dita os nossos comportamentos. O renomado médico psiquiatra e fundador da Psicologia Analítica, Carl Gustav Jung, vai dizer que “Até você se tornar consciente, o inconsciente irá dirigir sua vida e você vai chamar isso de destino.” (Id., 1948/1970, § 126).
É necessário o acolhimento dessa criança interior, o adulto na qual nos tornamos precisa dizer para ela que está tudo bem. Crescemos, encerramos ciclos e iniciamos novos, isso se chama viver. Certamente temos muitas resistências para fecharmos ciclos, são os grandes e pequenos lutos que passamos pela vida a todo momento. Mas como podemos vivenciar os novos se não conseguimos largar os que já se encerraram?
Que em 2024 possamos nos conhecer mais, aprofundarmos em nós mesmos. Mexermos em nossas gavetas. Vontades guardadas, sonhos esquecidos, palavras não ditas. Iniciar um novo ciclo com mais certeza de nós mesmos. E seguirmos nosso caminho com a segurança de sabermos quem nós somos.
Um dia, quando olhares para trás, verás que os dias mais belos foram aqueles em que lutaste – Sigmund Freud.
Autora:
Kelly Occaso – Psicanalista Clínica Multidisciplinar, Psicóloga Analítica Junguiana, Terapeuta de Regressão de Memória e Diretora do Espaço Asas.
Ótimo artigo!!