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terça-feira, 23 de julho de 2024

I.A. pode indicar coautoria de Michelangelo em “Pietà novaiorquina”

Recentes pesquisas e testes com um novo modelo de Inteligência Artificial no Brasil revelam altos índices percentuais de compatibilidade gráfica entre uma obscura versão de “La Pietà Colonna” e o estilo particular de Michelangelo Buonarroti (1475-1564), um dos maiores gênios da Renascença italiana e da arte universal. Esta pintura (que se soma a um grupo de mais versões pertencente ao círculo do artista) foi assunto na mídia global em 2010 e se trata de um bem de família, resguardado há 40 anos pelo ex-coronel da Força Aérea americana, Martin Kober, residente em Buffalo (NY). A curiosa peça de arte chegou a ser chancelada pelo renomado especialista em Michelangelo, o historiador e restaurador italiano Antonio Forcellino, autor de “La Pietà Perduta”. O acadêmico vai além e a identifica como o original perdido dedicado a uma paixão platônica do mestre, a poetisa Vittoria Colonna (Marquesa de Pescara), e fruto direto de um desenho autoral de mesma composição (1538) – hoje também em terras americanas, no Isabella Stewart Gardner Museum, Boston. Pontos a favor de que o sonho de um Michelangelo legítimo possa não ser tão fantasioso para Kober não faltariam: além do aval de Forcellino, ainda há o fato de exames infravermelhos e raios-X terem mostrado que o pintor realizou muitas alterações enquanto ia revendo o esquema da obra. Outra pista a alimentar a esperança se assenta sobre uma pequena porção inacabada, o que sugere o quadro ser um original – já que ninguém se interessaria em adquirir uma cópia incompleta. Além disso, a família Kober tem um histórico documentado de possessão da pintura que remonta a séculos, e o ex-coronel defende que a mesma poderia ter pertencido a uma família próxima, em 1545.

E é neste cenário que o designer e historiador da Arte brasileiro Átila Soares da Costa Filho*, bacharel em Desenho Industrial pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, decide lançar a tecnologia “Luminari” sobre a questão. A PUC-Rio, aliás, é uma tradicional referência acadêmica na América Latina no setor de Tecnologia da Informação.

A metodologia própria utilizada por Da Costa inclui uma série de testes realizados com engenharia de Inteligência Artificial (“Machine Learning”), e seguindo normas acadêmicas: “Basicamente, é um sistema com arquitetura de rede neural convolucional, especificamente adequado para realizar tarefas preditivas no campo das obras de arte. Esta engenharia inclui múltiplas camadas, dos códigos de correção àquelas de ‘Max Pooling’. Em seguida, as imagens processadas são convertidas num vetor unidimensional com ativação ‘softmax’”.

Declara o pesquisador: “Em termos de um resultado geral (a pintura como um todo), o índice máximo detectado de compatibilidade ‘michelangelesca’ desta ‘Pietá’ aponta 47% em favor de uma aproximação com o estilo de Marco Pino (1521-1583). Pino, também conhecido como ‘Marco da Siena’, foi aluno de Daniele da Volterra, um dos mais notórios seguidores de Michelangelo. Entretanto, a região específica na mesma obra referente ao corpo de Cristo apresenta em 77% a presença do estilo pessoal do próprio Buonarroti. De forma curiosa, tal parte da composição se correlaciona exatamente com o que o artista mais se identificava na execução de seus planos: a anatomia masculina e representações dos músculos”. O acadêmico brasileiro prossegue: “Levando-se em conta que teríamos um resultado determinante (de autoria) somente a partir de 75%, devemos considerar, assim, Michelangelo (com 77%) como uma forte possibilidade em termos de uma coautoria. Sobre o restante da obra, o parecer revelou-se inconclusivo – já que abaixo dos 75%. O mais plausível, portanto, é que se atribua o restante da pintura – que compreende, basicamente, a Virgem Maria com os anjos – ao âmbito de Marco Pino”.

Num nível além, esta I.A. ainda apresentou estatisticamente os candidatos menos prováveis ​​para autor em ordem decrescente – possibilidade meramente especulativa (devido aos pontos de correspondência gráfica), e baseada em pura lógica aritmética: “Enquanto mais uma ferramenta a somar todas as outras pesquisas e procederes científicos ao longo de mais de décadas a serviço da História da Arte, tais resultados se fazem muito positivos”, completa Átila Soares.

Autor:

Professor Átila Soares da Costa Filho é bacharel em Desenho Industrial e pós-graduado em Filosofia, Sociologia, História da Arte, Arqueologia, Patrimônio, História e Antropologia. Atualmente integra o Comitê Científico na “Fondazione Leonardo da Vinci” (Milão), na “Mona Lisa Foundation” (Zurique) e no projeto “L’invisibile nell’Arte” do “Comitato Nazionale per la Valorizzazione dei Beni Storici, Culturali e Ambientali” (Roma).

Cf. www. https://professoratilasoares.weebly.com

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