A atuação do técnico agrícola envolve orientar produtores rurais na adoção de práticas sustentáveis, manejos sanitários eficientes e alternativas de baixo impacto ambiental, especialmente em sistemas de pecuária familiar. Nesse contexto, a homeopatia e os bioterápicos se apresentam como ferramentas compatíveis com a transição agroecológica, reduzindo o uso de produtos alopáticos e fortalecendo a autonomia das propriedades. Este artigo reúne duas experiências práticas desenvolvidas no Rio Grande do Sul, voltadas ao controle de parasitas em bovinos e ovinos, destacando a importância do acompanhamento técnico e do trabalho de extensão rural na implementação dessas metodologias.
No primeiro estudo, realizado em uma propriedade de pecuaristas familiares em Dom Pedrito/RS, procedeu-se à coleta de carrapatos em diferentes estágios de desenvolvimento para a elaboração de um bioterápico específico. Os parasitas foram acondicionados em álcool de cereais a 70%, formando uma tintura-mãe posteriormente dinamizada segundo a escala centesimal hahnemanniana, chegando à potência 12CH para uso final. O bioterápico foi administrado por meio da mistura de gotas do preparado ao açúcar cristal e, posteriormente, em sal mineral fornecido ao rebanho. A experiência demonstrou redução na infestação, reforçando a viabilidade do método como apoio a sistemas de transição agroecológica e ao trabalho de extensão rural.
Já o segundo estudo foi desenvolvido em uma propriedade em produção agroecológica em Lavras do Sul/RS, dedicada à criação de bovinos e ovinos em sistema Voisin. O objetivo foi avaliar a eficácia da Cina 200 CH no controle do nematódeo Haemonchus contortus em 105 matrizes Corriedale. Utilizaram-se o método Famacha e o Escore de Condição Corporal (ECC) para avaliar o grau de anemia e o estado nutricional dos animais, respectivamente, além da identificação de indivíduos mais resistentes ou sensíveis à verminose. Os dados iniciais demonstraram diversos níveis de infestação, com predomínio dos graus 3 e 4 na classificação Famacha.
A metodologia consistiu na diluição de 30 gotas de Cina 200 CH em um litro de água, com administração oral semanal de 5 ml/animal durante oito semanas, e posterior dosagem conforme necessidade. O acompanhamento técnico incluiu registros sistemáticos, identificação individual e manejo nutricional ajustado. Os resultados, observados ao longo de 26 meses (setembro de 2021 a outubro de 2023), indicam redução consistente nos níveis de infestação e estabilidade sanitária do rebanho, sugerindo que a Cina 200 CH via oral é uma alternativa eficaz aos vermífugos alopáticos convencionais.
As duas experiências evidenciam que a homeopatia aplicada à pecuária familiar pode ser um instrumento estratégico na construção de modelos produtivos mais equilibrados, com menor impacto ambiental e maior autonomia dos agricultores. Ao mesmo tempo, destacam o papel fundamental do técnico agrícola na orientação, monitoramento e difusão dessas práticas, contribuindo para fortalecer a agroecologia e qualificar a produção animal.
Na região da Campanha, estima-se que cerca de 20 mil bovinos já sejam tratados com medicamentos homeopáticos para o controle de carrapatos, vermes e mosca-do-chifre, abrangendo pequenos, médios e grandes produtores.
A pecuária sustentável encontra na homeopatia uma ferramenta essencial para produzir carne sem resíduos químicos, fortalecendo práticas mais limpas, eficientes e alinhadas à demanda crescente por alimentos seguros.
Tomás A. S Xavier Machado
Técnico Agrícola Homeopata e Extensionista Rural da Emater RS Ascar.
Lotado no município de Dom Pedrito RS

