
Sábado de sol, bares lotados, litros de chopes consumidos, almoços servidos em mesas ao ar livre. Neste ambiente, nesta famosa praça onde vendo meus livros, encontrei um velho amigo – amigo de infância mesmo. Naquela época, éramos uma juventude barulhenta e mais unida, coisa de muita intimidade. Um frequentando a família do outro, pais de uns substituindo os pais de outros.
Então, caro leitor, imagine a minha felicidade ao encontrar esse amigo: uma viagem no tempo! Pausei a venda de livros para conversar com ele e sua nova mulher. Ele me convidou para almoçar e disse que queria comprar um dos meus livros. Conversamos bastante, atualizamo-nos sobre a situação de amigos em comum, sobre nosso país, sobre ausentes, sobre nossos amigos – também ausentes.
Foi tão espontâneo esse encontro que me arrependo de não ter aceitado o convite para almoçar com eles. Dei-lhes dois livros meus; em um deles, autografei para a esposa dele. Talvez, pela euforia do momento, não tenha autografado o dele. Mas, em compensação, entreguei-lhes meu cartão, que tinha o número do meu Pix, caso ele realmente quisesse me prestigiar.
Despedi-me com forte abraço, cheio de alegria, e com um convite: “Adicione-me no WhatsApp para não perdermos o contato mais uma vez.” Então, voltei ao trabalho, que consiste em andar pela praça vendendo, boca a boca, os meus livros – atualmente, meu ganha-pão.
Mas agora, uma semana depois, caio na real: era tudo encenação. Ele não me adicionou e nem mesmo telefonou… Então, vou continuar sem saber por onde ele mora, onde ele anda. Foi só uma janela aberta no tempo, para recordar e se emocionar… Claro que ele mentiu ao dizer que estava feliz em me ver.
Leitor, pense comigo: isso não foi um ato para deflagrar em mim um sentimento de rejeição? Ou seria a descoberta de que, desde aquela época, era na verdade uma falsa amizade? Continuo o baile da minha vida, sabendo que sou um ótimo dançarino. E, para entender com profundidade essa situação, só apelando para especialistas – como Freud ou Lacan – que explicam!
