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terça-feira, 4 de novembro de 2025

O Vigoroso Paradoxo da Cultura Brasileira: É Hora de Tirar o Fomento do Eixo e Conquistar o Mundo

Introdução

Nos primeiros meses de 2025, o panorama cultural brasileiro exibe um vigoroso paradoxo. Se por um lado testemunhamos um recorde histórico na captação de recursos via Lei Rouanet que ultrapassou R$ 765 milhões no primeiro semestre, sinalizando a confiança do mercado no setor, por outro, o Brasil consolida sua presença em palcos globais, como o G20 e a recente Mondiacult 2025, na Espanha, reafirmando a cultura como eixo de desenvolvimento sustentável e diplomacia.

A tese é clara: O Brasil está finalmente unindo a narrativa internacional de potência cultural com uma robusta injeção de fomento interno. Contudo, o desafio crucial é a descentralização desses recursos do eixo Rio-São Paulo para ativar a plena diversidade regional e consolidar a cultura como principal vetor econômico global e de soft power.

Desenvolvimento

O Brasil é, inegavelmente, uma das nações de maior diversidade cultural do planeta. Essa riqueza é a base da nossa economia criativa, que já representa mais de 3% do nosso Produto Interno Bruto (PIB). No entanto, a distribuição do investimento não acompanha essa diversidade, perpetuando uma desigualdade estrutural.

O Freio da Concentração no Eixo Sudeste

O recorde de captação da Lei Rouanet é um triunfo administrativo, mas este sucesso é geograficamente concentrado. Dados de 2024 mostram que o eixo Rio-São Paulo absorve cerca de 60% dos recursos incentivados. Essa concentração é o principal freio à nossa diversidade e ao nosso potencial econômico.

Se uma pesquisa nacional indica que 48% dos brasileiros comprariam mais de marcas que valorizassem suas culturas regionais, o investimento concentrado falha em gerar valor para quase metade da população e, crucialmente, falha em transformar projetos locais sejam os festivais de São João no Nordeste, o artesanato amazônico ou o teatro amador de Brasília, como noticiado aqui no Tribuna do Brasil em produtos culturais de exportação.

A política cultural do país visa a redução das desigualdades. Para que isso se concretize, os mecanismos de incentivo precisam ser reorientados, facilitando a captação e desburocratizando o acesso para produtores do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A descentralização não é apenas uma questão social, é uma estratégia de mercado para liberar novos fluxos de criatividade.

O Diálogo Global e a Cultura Digital

Paralelamente, a atuação estratégica do Ministério da Cultura (MinC) em organismos internacionais é louvável. Ao liderar grupos de trabalho no G20, o Brasil colocou temas cruciais na mesa: a Economia Criativa, o Ambiente Digital e os Direitos Autorais.

A iniciativa da Embratur de lançar uma campanha internacional em parceria com o TikTok para atrair nômades digitais é a prova do acerto: o Brasil está usando a infraestrutura digital global para vender a sua identidade diversificada (cultura, natureza, gastronomia) como um produto de alto valor. Os nômades digitais buscam justamente o que os grandes centros de fomento marginalizam: a autenticidade e a experiência cultural regionalizada.

Para acompanhar essa ambição global e capitalizar essa atração internacional, o país precisa de mais do que grandes leis: exige investimento em qualificação de mão-de-obra e infraestrutura tecnológica fora dos grandes centros, conforme sugerido pela UNESCO, garantindo que o potencial do Brazilian Way of Life se traduza em uma oferta cultural constante e de qualidade em todas as regiões.

Conclusão

A cultura brasileira, em 2025, navega com vento a favor no financiamento e com bússola firme na diplomacia. O recorde de captação de recursos demonstra a força do setor; a atuação no G20 e na Mondiacult comprova a ambição de liderança global.

O desafio, contudo, é interno e urgente: superar a inércia da concentração de recursos.

Para que o Brasil se consolide como um top-5 exportador de soft power – e não apenas o 13º país que mais influencia, como já foi apontado – é imperativo que o fomento chegue à periferia e ao regional. É preciso desburocratizar e descentralizar a captação e integrar a diversidade regional como estratégia central de promoção internacional.

A nossa cultura é o nosso ativo mais valioso, capaz de gerar emprego, identidade e projeção global. O palco está montado. Agora, é necessário acender as luzes em todo o Brasil.

Autor:

Nuno Nabais Freire 

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