
Já vivi mais de sessenta primaveras. Plantei e colhi bons frutos ao longo dessa minha jornada. Até ontem, considerava-me maduro. Um adulto completo. Mas, afinal, o que é ser um adulto completo? Um homem feito, seguro de si? Sinceramente, depois do que passei, não sei mais definir. Caro leitor, veja o que me aconteceu:
Fui convidado a participar de um grupo de estudo espírita. Com o desenrolar dos encontros, eu me sentia cada vez mais integrado, interagindo e, do meu ponto de vista, fazendo colocações assertivas. Mas ontem… Ah, ontem, minhas palavras simplesmente travaram!
Foi nesse instante que percebi: talvez eu não seja tão adulto assim. Quem conduzia o grupo estava destrinchando uma leitura sobre a necessidade de nos conhecermos profundamente. “Conheça-te a ti mesmo”. Uma proposta de exercitar o autoconhecimento para alcançar uma vida feliz. O texto destacava a importância de desenvolver o amor-próprio para ser inteiro, e, consequentemente, assertivo e feliz.
Foi aí que o caldo entornou. O texto me fez lembrar de um poema que escrevi há bastante tempo, intitulado “Casa Interior”. Por impulso, pedi a palavra e solicitei permissão para declamá-lo. Todos aprovaram. O momento seria só meu. Acredite, leitor: era online. Fechei a câmera, deixei apenas o microfone aberto. Mas não adiantou. O nervosismo tomou conta de mim. E, com a voz trêmula de um adolescente, suando frio, li o poema.
O nervosismo foi tanto que nem sei se consegui transmitir com clareza o verdadeiro sentido do poema. Hoje, no dia seguinte, ainda estou trêmulo pelo que passei. Caro leitor, eu pergunto: o que aconteceu comigo? Ainda carrego uma alma adolescente? Tenho medo do próximo? Ou sou apenas um homem tímido, disfarçando a insegurança?
Prefiro acreditar que foi um tropeço – que, simplesmente, acordei o adolescente que mora em meu coração… ou trata-se de um aspecto do meu espírito, que estrutura minha casa interior.
