21.8 C
São Paulo
sábado, 20 de dezembro de 2025

Cuidar de si dói?


Hoje, encontrei um espelho diferente.
Ela, nascida um ano antes de mim, parecia ter atravessado muitas vidas — cada uma
marcada por cansaço, silêncios e talvez renúncias.
Estava ali com a filha, pedindo ajuda para entender o próprio dinheiro.
Tinha recursos, mas não autonomia. Tinha história, mas parecia ter esquecido o enredo de
si mesma.
Fiquei olhando em silêncio, não por julgamento, mas por respeito — e por um certo espanto
diante do que o tempo faz quando uma mulher se esquece de ser protagonista da própria
vida. Quantas de nós fomos ensinadas a doar tudo e guardar quase nada? Quantas ainda
confundem amor com anulação?
E então me perguntei: cuidar de si dói?
Dói, sim. Dói porque cuidar de si é romper pactos antigos com a culpa e com a ideia de que
amor é se anular pelos outros. Dói perceber que muitos “cuidados” dedicados aos demais
foram tentativas de sermos vistas.
E quando a gente finalmente decide se olhar de verdade, o espelho não perdoa — mostra o
que negligenciamos, o que adiamos, o que disfarçamos com sorrisos cansados.
Mas há um alívio depois da dor.
Cuidar de si é coragem. É dizer “não” a quem sempre esperou o nosso “sim”. É se permitir
existir inteira, mesmo que o mundo se incomode com isso.
E foi essa consciência, ali no caixa, que me fez sentir gratidão — por estar desperta, por
estar cuidando de mim, por não repetir a velha história.
Porque no fim, percebi:
Não quero chegar a lugar nenhum se, no caminho, eu me perder de mim.

Autora:

Aline MP

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Leia mais

Patrocínio