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segunda-feira, 10 de novembro de 2025

As terras queridas

Era cedo de manhã. A névoa matinal, já companheira da expedição há três semanas,
novamente aparecia, como véu de noiva, contrastando com os primeiros raios de sol que se
revelavam por entre as palmeiras-juçara que figuravam metros acima, imponentes e de
troncos altivos, dos corajosos homens que atravessaram o Atlântico em velozes caravelas,
inicialmente pelo Rei e, naturalmente, lutando pelo ouro. Estes, nesta ocasião, formavam uma
bandeira de quarenta bravos homens e mais algumas dezenas de escravizados, além de moço
Caiubi, o indígena tradutor, nascido próximo a São Vicente e que, por educação jesuítica,
conhecia o idioma português mesmo mais do que boa parte dos menos educados portugueses,
e tinha, embora não sob domínio, também certo conhecimento em latim, já tendo bebido da
educação das letras e da gramática. Iria seguir sua educação formal, se não fossem os
imprevistos da vida. Agora, servia na bandeira.
Um mês antes, em São Vicente, terra de oportunidades comparáveis apenas, talvez,
com aquelas das Índias Orientais, foi, pelo Senhor Baltasar, dos mais ricos homens com os
pés no Novo Mundo, anunciada uma nova bandeira, que procuraria algo inusitado: uma
cidade, dizem as lendas, feita apenas de ouro, com narrativas colocando mesmo um
imperador, homem de carne e osso, cuja abundância e riqueza se provou tão grande que o
próprio corpo se transformou da rigidez dos ossos e da fraqueza da carne na flexibilidade e
força do ouro. Era tal lugar, então, que a expedição procuraria.
Antônio então acordou com um feixe da luz do dia chegando direto aos seus olhos.
Levantou-se da terra úmida e tomou seu arcabuz e seu facão, que passaram a noite ao seu
lado, como dois cruciais e leais companheiros, enfiando um na cintura e vestindo outro na
bandoleira. Cumprimentou um ou outro dos já acordados companheiros e foi até o riacho ao
lado do acampamento, de água surpreendentemente limpa. Abriu seu cantil de couro e dentro
dele entornou toda a água que lá coubesse. Tomou um pouco desta, roubando também de um
arbusto um doce araçá e começou a saboreá-lo, sentado na beira do córrego. Foi na terceira
mordida quando ouviu uma voz ao longe. – Alvorada, homens! Todos em pé!
Bradou o Capitão Domingos, comandante da bandeira, homem experiente e, de volta
à Europa, de família tradicional militar. O pai de seu avô lutou em Diu, e ainda antes membro
da família lutou por Dom Henrique na conquista de Ceuta. Seu tio morreu no Marrocos pelo
Rei Sebastião, e, mais recente, seu irmão viajou ao norte do Brasil apenas para lutar contra os
holandeses. Domingos, por sua vez, seguiu outro caminho. Tomou como decisão lutar não
pelo Rei ou pelo país, mas por riqueza e os homens que a dariam, uma escolha que, segundo
ele, se deu por não querer servir um rei espanhol, mas sabe-se que foi mais pelo prazer do
ouro.
Os demais homens então pelo grito acordaram e se puseram de pé, se aprontando para
seguir a jornada em direção ao sertão, provavelmente como nenhuma bandeira jamais ousou.
Seguiu-se, então, o caminho por mais boas horas.
Antônio, jovem forte e culto, iluminado pelos ensinamentos de seu velho pai,
funcionário e bom amigo de um aristocrata português, agora como escrivão da Câmara de
São Vicente e com certas terras boas no Brasil. O pai, no entanto, estava envolvido em
problemas judiciais com homem de maior prestígio, que provavelmente tomaria suas terras,
razão pela qual o filho decidiu se tornar bandeirante, para conseguir riquezas próprias. Pelos
que não o conheciam, nunca seria julgado como um homem em sua primeira bandeira, por
sua destreza, sagacidade e habilidade. Seguia a expedição desgastante com um ânimo
invejável, sustentado por seus inocentes desejos. Não queria o mal fazer, nem escravizar ou
matar. Queria crescer em riquezas e aproveitá-las, e morrer em leito de ouro. Por isso, seguia
na expedição, e agora, ao invés de ouro, dormia em terra, lama e formigueiros. Aquela
marcha, no entanto, se provava a mais confortável da última semana. Não chovia, e as roupas
já estavam secas. Ao mesmo tempo, não estava um sol escaldante, e a fresca sombra das
folhas de palmeiras garantiam o frescor na caminhada. Enquanto pensava nisso, porém, teve
seu braço levemente cortado por um galho. “Sempre os malditos galhos”, pensou. Era o que
mais lhe dava desprazer. Derramou um pouco de água do cantil no ferimento, ainda andando,
quando ouviu os homens atrás rindo. – E você, Antônio, acredita que realmente encontraremos a tal Cidade Dourada? – Perguntou
Martim. – Se não acha que iremos, porque veio? – Respondeu, indagando, o jovem. – Porque ele é um bastardo sem nenhum tipo de inteligência. – Interrompeu Nuno, e de novo
quatro homens voltaram às gargalhadas. – Pelo contrário, é lógica, asnos. Os espanhóis buscam o lugar faz décadas e não encontraram.
Porque nós iríamos, mesmo muito mais longe de onde deve ser do que eles estavam?
E, então, o Capitão Domingos apareceu inesperadamente, como uma cobra salta de uma
árvore, prendendo suas presas em seu alvo. – Os espanhóis tentaram por décadas e esta é a nossa vez. A cidade existe, rapazes. Dezenas
de indígenas já falaram sobre ela. Além disso, os espanhóis já a encontraram. Soube de um
homem com trinta expedições sertão adentro que desapareceu à procura da cidade. Acham
mesmo que morreu para uma cobra, pisando desatento em um arbusto, ou que foi pego
desprevenido pelos índios? Não sejam tolos. O lugar existe. – Perdão, meu senhor. É só que…
E Martim foi atravessado por uma flecha no peito antes que pudesse terminar de falar,
caindo na terra. Logo, dezenas de flechas voaram nos ares, zunindo como abelhas, acertando,
pelo menos, mais cinco homens em poucos segundos. Não se sabia de onde vinham, nem o
que acontecia.
Antônio saltou para trás de um tronco caído. Há alguns metros, o Capitão e alguns
homens montavam uma resistência. Este atirou com seu arcabuz, fazendo cair de uma árvore
um guerreiro nu e seu arco. Mais alguns tiros foram ouvidos e algumas flechas disparadas,
fazendo derrubar um homem ou outro, até que, em poucos segundos, o combate já estava
homem a homem. Dois nativos com tacapes erguidos em suas mãos saltaram de cima das
árvores, caindo justamente em cima do bom Álvares e do mameluco Silva. Muitos outros se
revelaram de trás de arbustos e árvores e começaram a lutar contra os homens. Antônio logo
tomou mira e disparou contra um guerreiro que avançava para cima de Heitor, seu bom
amigo e companheiro desde antes da bandeira. Em seguida, tirou o facão da cintura a pouco
tempo de ser acertado pelo tacape de um nativo que saltou em cima dele. Felizmente,
conseguiu bloquear o golpe e matar o guerreiro. Virou-se para trás, sem tempo para nada
além de perceber uma arma de madeira a poucos centímetros de seu rosto, que logo sentiu o
impacto. Caiu no chão, como um porco depois de abatido, desacordado.
Acorda Antônio, sentindo algo pelo seu rosto, além da uma dor intensa. Estapeou-se
com a mão e, quando viu, revelou uma mutuca esmagada, antes de lhe picar e lhe causar dor
intensa. Ele se levantou. Ao seu lado, estava o corpo de seu amigo Heitor, com duas flechas
atravessando seu tronco. “Provavelmente, me viu caído e tentou me acudir”, pensou. Logo
levantou o rosto e estremeceu, de modo que até seus olhos, se houvesse testemunhas,
denunciariam seu medo. Dezenas de corpos o cercavam, de companheiros e de nativos. “Por
Deus, o que faço aqui?”, se perguntou.
Virou-se para a esquerda. Caiubi, o educado tradutor, jazia morto, com visíveis
marcas de golpes de tacapes. Ao seu lado, Henrique, por alguma inexplicável razão sem
orelha. Virou-se então para a direita. No mesmo lugar onde tinham resistido, jaziam mortos o
Capitão Domingos, Gonçalo, Gaspar e Martim, cercados pelos corpos de sete defuntos
nativos. Ao seu redor, Álvaro, Simão, Jorge e mais pelo menos dez de seus companheiros,
sem contar um número razoável de escravos pretos, estes sem nem a chance dada para se
defenderem. No solo, também estavam os corpos de, pelo menos, quatro dezenas dos índios.
Ajoelhou-se. – Nossa Senhora, rogai por meu corpo cansado e minha alma pecadora, pela proteção de Deus
e para que torne saudável ao meu humilde pai.
Sem nenhuma clareza litúrgica ou métrica exata, apenas apavorado e solitário, tendo a
companhia de ninguém além de Deus, das árvores, de mutucas e de cadáveres, rezou o
abalado português. O homem continuou suas preces por mais tempo. Implorou perdão por
seus pecados e chorou como uma criança medrosa ao apagar das velas. Prometeu dedicar a
vida à Santidade e ao bom se fosse com vida tirado dali. Enquanto rezava, no entanto, ouviu
um som.
Assustado como estava, logo se levantou, tomando um facão do chão com a mão
direita. Olhou em volta, e nada parecia vivo ali. Sua breve esperança de que algum daqueles
companheiros estava vivo, portanto, se provou falsa. “Nada deve ser além de um pequeno
animal”, logo pensou, descartando mais otimistas ou pessimistas possibilidades. Mas
novamente ouviu, e dessa vez com um grunhido humano, ou, ao menos, certamente não um
som que um tatu emitiria. Tornou a suar frio, e apertou a mão direita no facão mais do que
antes, como alguém ansioso por uma luta. Foi quando novamente ouviu o grunhido, e correu
para o local de onde viera.
Lá, apoiado na base de uma alta árvore, estava um nativo, com um grande, embora
raso, corte de facão entre seu ombro direito e seu peito, com sua pele rasgada e sangue
escorrendo de modo que todo o seu abdômen agora estava manchado de sangue. O nativo,
com fúria, olhou para Antônio e mostrou os dentes. Não tinha, porém, força para mais do que
isto, e permaneceu parado. Antônio então ergueu o facão para o golpe final, aliviado pela
vítima não ter mais forças para reagir. Foi quando baixava a mão para desferir o golpe que
desviou o caminho do braço, acertando o tronco logo ao lado do homem ferido. “Não seria
justo”, pensou, “pedir por misericórdia a Deus sem ofertá-la quando está ao meu poder a um
homem que não teria sequer a capacidade de me causar mal.” Finalizou. Logo, derramou
água sobre o ferimento do homem e o ofereceu um gole, que ele, prontamente, aceitou. Era
nítido que havia percebido o ato de clemência, e não mostrava mais os dentes em feição
raivosa. Pelo contrário: o guerreiro fechou o rosto, em expressão vulnerável e mostrando sua
imensa dor. – Chamo-me Aratiba. Qual é o seu nome?
“O índio fala? Como se dá isto? Qual seria a chance” e, antes de se perder
completamente em seus pensamentos, se lembrou de responder o homem ferido. – Meu nome é Antônio. Porque falas português? – Perguntou, surpreso. – Os Homens de seu Deus ensinaram a mim e aos meus. – Respondeu, pouco antes de dar
outro grunhido.
“Jesuítas”, logo pensou. “Mas o que um educado faria aqui, assaltando bandeiras? – E porque está aqui? – Perguntou o branco. – Muitos outros homens brancos atacaram quando o dia já havia morrido e mataram os seus
Homens de Deus e tomaram meus irmãos e irmãs prisioneiros. Os que restaram de nós
fugimos mas vocês encontraram. – Creio que entendeu errado, nobre guerreiro. Nossa bandeira não tinha em seus objetivos
encontrar-lhes. Não estávamos te caçando.
O nativo ferido então fez feição que mostrou nitidamente sua surpresa com o fato
trazido. – Achávamos que vocês nos caçavam. Por isso atacamos.
Antônio, então, compadeceu da triste feição de Aratiba. Limpou o ferimento com o
pedaço de pano mais limpo que havia encontrado e se pôs a procurar ervas que segundo o
nativo ajudariam a curá-lo. Depois de certo tempo procurando, encontrou-as, e realizou o
tratamento instruído por Aratiba. Depois de certificado que o homem estava melhorando,
tomou um arcabuz e foi à caça, para garantir uma refeição para os dois antes da noite.
Encontrou e abateu uma paca, levando-a de volta ao local do índio. Acendeu uma fogueira
para a noite. Limpou a paca e a assou na fogueira, dividindo a comida com seu novo amigo.
A noite, estrelada, quieta, senão por eventuais sons de um ou outro animal ou as folhas
reagindo ao vento, contrastava com a luz e o calor da fogueira, cercada pelos dois homens
que aproveitaram a deliciosa e macia carne. – O que vocês tinham como planos, homem branco? – Estávamos atrás de El Dorado, em expedição bancada por um dos mais ricos homens do
Novo Mundo. Conhece o lugar? – Desconheço. O que é? – Uma grande cidade, muito adentro na floresta, de riquezas tão grandes que as construções
todas são feitas de ouro, e até o próprio monarca tem o corpo banhado em ouro. O homem
que lá chegar, garantirá a riqueza para sua família por mil gerações. – O metal brilhante? Porque seria construída uma cidade disto? – Ora, porque simboliza riqueza e fartura? – De que modo? Algum homem na terra se alimenta de ouro? Como pode uma pedra ser
sinônimo de tamanha fartura? – Ora… é o que todos querem, logo por tudo se pode trocar. – E porque alguém trocaria qualquer objeto ou animal por uma pedra? – Porque a nossa moeda… Esqueçamos este assunto. Apenas devemos aceitar que nossas
culturas são diferentes. Acredito que, sua civilização sobrevivendo e se desenvolvendo,
entenderá este princípio econômico. – Concordo, esqueçamos, porque me é demais entender este juízo caraíba.
Os homens continuaram a conversar, até o índio cair no sono e Antônio vigiar a noite.
Algumas horas depois, já passadas algumas horas da meia-noite segundo denunciava a lua,
trocaram a vigia, e o branco deitou-se, cansado, confiando sua segurança no índio e fechando
os olhos de poucos centímetros acima do solo, deitado em uma rede encontrada nos pertences
dos índios, na qual antes descansava o falante de tupi.
Dormiu, parecia que por semanas. Como um bebê de nobre sangue, no mais quente e
confortável leito que poderia haver na corte de Lisboa. Dormiu como não dormira há muito
tempo, quando ainda na casa de seu pai, em Portugal, com o calor dos braços e da comida de
sua amada e já falecida mãe, e descansou como se não houvesse nenhum dever a ser feito, em
momento algum. Como se estivesse em repouso eterno.
Finalmente, acordou, mas pode se dizer que estava mais espantado do que quando
acordou ensanguentado e com mutucas no rosto no meio da mata. Estava em uma casa, em
confortável cama e aquecida. De fora, ouvia vozes negociando peixes. Levantou-se com certa
dificuldade e caminhou até a janela, logo puxando a alavanca e abrindo-a. Levou menos de
um segundo para em sua cabeça entender onde estava e reconhecer aquele movimentado
porto, repleto de mercadorias, pessoas e embarcações. Estava de volta em São Vicente. Como
era possível? “o índio, tal do Aratiba, me deve ter trazido aqui enquanto descansava, por
algum tipo de trilha secundária rápida de tal modo que cheguei aqui antes de acordar, este
grato por meus cuidados”. Sorriu e pensou no homem, agora seu companheiro, mesmo que
muito provavelmente não veria o nativo outra vez. Agradeceu à Nossa Senhora, e saiu do
quarto, com porta direto para as ruas. – Senhor Antônio? Sua ida está garantida para Portugal, agora mesmo. Siga-me até o porto.
Antônio então tomou seus pertences e seguiu o misterioso homem pelo porto, até
entrar em um grande navio, rumando a Portugal. Tomou seus aposentos, cumprimentou um
ou outro tripulante e logo, antes de qualquer pensamento, o navio levantou âncora, partindo
para Portugal. Seu tempo no Brasil, finalmente, havia acabado.
Antônio acordou, ainda naquela pacata rede no meio da mata, sem o calor de um bom
cobertor ou o conforto de um travesseiro apoiando sua cabeça. Foi tolo, logo pensou, de não
ter reconhecido o sonho, mas conheceu então a lição de que o homem acredita sempre no que
quer acreditar, e se deseja que algo seja realidade, não questionaria ou refletiria sobre sua
ficção nem sequer por um segundo. Sonhou com o quente e o confortável de uma boa cama e
o alívio de tornar à Portugal e à sua família, e acordou no escuro e frio da noite, com uma
companhia tão inesperada quanto se poderia ser. Um índio, um nativo, de pele vermelha,
olhos puxados e cabelo liso como a folha de bananeira passada a chuva – Já é manhã quase. – Disse Aratiba, ao perceber o despertar de Antônio.
Logo, as palavras se revelaram honestas e o sol nasceu, com seus feixes de luz
passando por entre as copas das árvores e os buracos dos clarões e mostrando a floresta que
um novo dia era surgido. Os dois apagaram a fogueira e dividiram dois cantis de água, um de
Antônio e um de um companheiro morto, Henrique, sem orelha. Ao seu lado restava também
o corpo de Caiubi, o que não tardou a chamar a atenção de Aratiba. – Vocês tinham um dos meus? – Perguntou surpreso, ao que Antônio respondeu que ele estava
com o grupo e, possivelmente, vivia em confortos até maiores do que ele próprio.
Antônio, após dar o último gole em sua água, levantou-se e começou a observar o
ambiente, ponderando sobre os próximos passos e julgando as possíveis ações a serem
tomadas. Olhou para os corpos dos colegas. Muitos estavam mortos, mas percebeu que
faltava o corpo de Diogo. Faltava também o de Nuno, Estevão, André e tantos outros, bem
como faltava também o de, ao que julgava, não menos trinta escravos da pele escura. “A
expedição ainda resta, logo pensou”. Contou então para Aratiba. – Seus companheiros não conseguiram dar cabo aos meus. A expedição ainda segue, julgo
que com metade dos meus ainda vivos. Devem estar rumando ao interior enquanto falamos, e
quem sabe já não inclusive saíram deste intrépido bioma. Preciso segui-los e alcançá-los, o
que farei no momento que me certificar de vossa saúde. – Não seria sábio. – Respondeu calmamente o índio, de modo que denunciava seu pouco
domínio do vocabulário e da pronúncia lusitana. – Restam também tantos colegas de Aratiba,
incluindo o guerreiro de Tupã, Aimberê, e o também grande guerreiro Ubiratã. Seguem eles,
provavelmente, o que resta de seus companheiros, se não já os exterminaram.
E Antônio, logo, descartou a possibilidade de se reunir à expedição, pois agora, mais
do que tudo, almejava apenas tornar a casa. Se viu, no entanto, sem alternativas. “Para onde
irei, Nossa Senhora? Como me previno da morte sozinho e em ambiente tão intrépido? Como
torno ao litoral sem nem mesmo uma bússola, uma referência de um rio? Como farei para ver
novamente meu amado e solitário pai?” Desesperado, ali mesmo onde estava, ao lado do
índio, caiu de joelho nos chãos e começou a rezar, conquistando o olhar atento e curioso de
seu colega. Este, no entanto, ao olhar a expressão de medo no olhar do colega branco, logo
tomou atitude. – Levo o homem branco de volta para São Vicente, morada do branco. Retribuo, dessa
maneira, o favor que o branco me fez, salvando-me de quase inevitável morte, tratando-me,
aquecendo-me, hidratando-me e dando-me de comer.
Antônio, ainda ajoelhado, com as palavras de Aratiba, virou sua cabeça para pouco
acima, onde viu a expressão amigável e transbordando compaixão que havia no rosto deste.
Levantou-se e estendeu a mão para o índio apertar. Este não entendeu. “Em minha terra”
explicou o branco “é sinal de respeito por um homem quando se aperta a mão dele.”
continuou. Os dois, então, apertaram as mãos. Em seguida, Aratiba tocou os ombros de
Antônio. – Em minha terra, tocar os ombros é o sinal de respeito. – Explicou, e Antônio, logo, também
tocou o ombro do índio com a mão. – Acredito que agora eu não preciso mais temer ter minha garganta cortada durante a noite. –
Brincou Antônio. E o índio não entendeu a piada.
Antônio então tomou alguns pertences de seus companheiros melhores. Do capitão,
pegou botas melhores, de bom couro. Tomou também um arcabuz, pólvora, munição por
onde encontrava e algumas moedas. Encontrou nos bolsos de alguns caídos umas centenas de
réis e, no bolso do capitão, por Deus! Haviam dois cruzados, não se sabia o porquê. Logo
tomou as moedas e tornou à Aratiba.
Os dois começaram a trilha rumo a São Vicente, que, segundo Aratiba, tomaria cinco
dias. Pararam, no entanto, no meio do dia ao encontrar um grupo de cutias, das quais o arco
de Aratiba tirou a vida de duas, com suas flechas atravessando os ares e antes que o instinto
animal sobrevivente se revelasse, atravessando também a carne das duas presas. Percebera,
no entanto, que uma era recentemente mãe ao notar filhotes próximos ao corpo, e se lamentou
e lamuriou. Ainda assim, os dois homens assaram os animais em uma fogueira arcaica,
rapidamente construída, e dividiram refeição, conversando sobre seus modos de viver.
Aratiba ensinou uma ou outra expressão em sua língua e também como fazer fogo sem
ferramenta própria. Antônio corrigiu um ou outro erro de português e explicou como
funcionava um arcabuz, tudo enquanto saboreavam uma boa carne.
A jornada dos dois homens seguiu da mesma maneira pelo resto daquele dia e
também pelo dia seguinte. Revezavam os turnos da noite, e de dia Aratiba guiava e liderava a
caça e, enquanto caçava, Antônio preparava a fogueira. Nas refeições, se sentavam ao redor e
conversavam sobre seus mundos. Aratiba, na primeira noite, aprendeu sobre Deus, os
malditos espanhóis e as localidades pobres e ricas de Lisboa, mesmo sem entender muito
bem. Antônio aprendeu sobre Tupã e sobre boa parte da organização dos indígenas, a qual
achou curiosa e interessante, uma vez que notou que o sangue importava menos do que a
virtude. No almoço do segundo dia, Antônio elogiou a carne em Tupi e aprendeu sobre
Nhanderu e o civilizador Sumé, enquanto Aratiba descobriu Nossa Senhora e também mais
sobre os malditos espanhóis, não sabendo o que de tão mal aquela tribo fizera para Antônio
tanto à desprezá-la. No jantar, os dois contemplaram Jaci, Antônio aprendeu sobre os astros,
alguns não visíveis de Portugal, e Aratiba finalmente entendeu o porquê do ódio tão grande à
Espanha, além de ter sido ensinado a oração de São Bento e sobre o Oceano Atlântico e as
caravelas. Foi também em conversa sobre a tal guerra que Antônio ouvira que alastrava a
Germânia, e até onde sabia também a Dinamarca e a Suécia,entre Católicos e hereges,, que
fez com que Aratiba se surpreendesse com forças militares tão poderosas a ponto de reunir
em combate centenas de milhares de homens, algo impossível de ser vislumbrado. Também
não entendeu muito bem o tal significado de protestante, que Antônio parecia odiar até mais
do que os espanhóis, mas o nativo manteve a cabeça mais ocupada com um cenário
imaginado de centenas de milhares de homens brancos com arcabuzes e espadas guerreando.
O cheiro de pólvora e de cadáveres deveria ser muito forte, logo pensou.
No almoço do terceiro dia, fizeram da mesma forma. Aratiba foi, com seu arco e
experiência na mata, caçar uma boa carne, enquanto Antônio acendia uma fogueira,
colocando em prática a técnica de fogo que o nativo o ensinara dois dias atrás, de forma
bem-sucedida. Aratiba, no entanto, demorou mais do que o esperado na caça, e portanto
Antônio se sentou, esperando o retorno do guerreiro indígena. Ele tornou após certo tempo,
Antônio não contou, com um grande mutum nas costas. Derrubou-o ao chão, esfolaram o
animal e logo o colocaram no fogo, saboreando-o logo depois em conjunto, como fizeram nas
refeições anteriores, e entrando em conversa. – Aratiba, explique-me – Começou Antônio, logo antes de dar uma mordida na carne. –
Explicou-me que os jesuítas lhe protegiam e explicou-me também que os bandeirantes
caçavam-lhes e massacraram boa parte de seu povo. Mas nunca contou-me para onde
estavam indo quando detectaram nosso rastro pela primeira vez.
E Aratiba não entendeu a palavra “detectaram”, mas logo depois de Antônio explicar,
respondeu. – Aimberê, nosso líder, é um homem que caminha mais com Tupã do que com seus próprios
guerreiros, tamanho o gosto de Tupã por ele. Nosso povo, centenas de anos atrás, migrou para
o norte, almejando encontrar a Yvy Mara Ey, em sua língua, Terra Sem Mal. O lugar é a oca
de Tupã na terra, onde todos que encontraram vivem em harmonia com a natureza, com os
espíritos, os ancestrais e com Tupã. Um lugar sem morte, violência, nem maldade ou
sofrimento. Dizem que o lugar é aos mares, em praia de areia branca como a pelagem da
garça, com carne e frutos de todo o tipo, abundante e farta mesmo que mil tribos a
habitassem. Por certo tempo, nosso povo parou de procurá-la, mas, há pouco tempo,
descobriu-se, por guerreiros que fugiam dos Caraí, que existia uma ilha de recursos
abundantes e de beleza incomparável, com um povo, agora desaparecido, mas extremamente
próspero e saudável, na tal ilha, de localização mais ao norte, em local que seu povo agora
chama de Ilha de Marajó. Deduziu-se, logo, o óbvio. O povo de lá foi abençoado por Tupã e
era quem guardava o caminho para Yvy Mara Ey, o local da conexão do mundo com Tupã.
Quando as caravelas e os arcabuzes chegaram pelo mar, ameaçando todo o povo de Tupã,
eles fugiram para a Terra Sem Mal, mas não sem deixar vestígios, que cuidaram de esconder
para que os povos que encontrassem a ilha também fossem capazes de encontrar a Terra. Era
para lá que iríamos. – E o tal povo de Marajó é de seu sangue? – Claramente, pois se não fosse, não teria acesso à Terra Sem Mal, muito menos seriam
confidentes de Tupã para guardar o seu caminho.
Antônio imediatamente lembrou do Paraíso de seu Deus. É verdade, bem diferente da
tal Terra Sem Mal, pois não é possível acessar em vida, naturalmente, pois é impossível,
ainda vivo e pecador, viver diretamente com Deus. Ainda assim, era inevitável, pensou no
Paraíso. Morre-se e, aqueles dignos e seguidores da Escritura Sagrada, seguiriam para o
Paraíso. Lá, encontrariam Deus, e os anjos cantariam belas canções por toda a eternidade.
Não existiria, então, pecado, nem violência, nem o mal. Tampouco castelos ou casebres.
Todos restariam juntos, reis e plebeus, arcabuzeiros e padeiros, jesuítas e bandeirantes,
aqueles dignos, por toda a eternidade, ao lado de Deus.
Pensou novamente. Neste Paraíso, não havia grandes palácios, riquezas materiais ou o
ouro. Pelo contrário, avareza! Ora, como estava cego Antônio! Acreditava ser um homem de
Deus, mas servia a Mammon! Que pecador ignorante, agora em lágrimas. Que noção
condenável, agora ele de joelhos. Que homem vil, ele desesperado! E Aratiba não entendia o
que se passava na cabeça do branco, agora de joelhos e em prantos, como nunca vira
ninguém. – Perdoe-me, Meu Senhor! – Gritava Antônio. – Perdoe-me por favor, este ignorante pecador!
E quão ignorante. “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e
amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a
Mammon.” – Mateus 6:24. Maldita criatura era Antônio! Se dizia um servo de Deus mas ao
invés de escolher a vida católica, escolheu buscar por Mammon, riquezas e avareza.
Comparou, imediatamente, sua trajetória e a de Aratiba. O segundo, buscava, de fato, a
espiritualidade, a comunhão para com seu deus. A paz de espírito, e não o pecado! O
primeiro, caçava por El Dorado, a própria personificação de avareza, o reino maldito de
Mammon! Buscava por ouro e uma cidade feita deste, e quase chegou a adorar o tal
imperador banhado em ouro como o próprio Jesus Cristo! O quão bons, pensou, ainda de
joelhos e em prantos, eram o coração e também a alma de Aratiba, e seus desejos. Homem da
natureza, guerreiro forte, em selva bela, como se o próprio Jardim de Éden antes da maldita
mulher comer o fruto. Enquanto a Terra Querida deste era uma terra de riquezas espirituais, a
de Antônio era da riqueza material da mais terrena e vil encontrável. Naquela mata, milhares
destes homens viviam, que pelos portugueses foram julgados preguiçosos, sem ambição, mas
que, na realidade, tinham a alma e a mente mais pura que a maioria dos lisbonenses que
conhecia. Talvez por isso os jesuítas os gostassem tanto. Enquanto isso, Antônio entrou em
uma expedição apenas por ouro e pela aventura, desejando tão somente riqueza imensa.
Logo, tomou as moedas que encontrara nos cadáveres de seu bolso e as jogou longe. – Afasto-te, Mammon! Pela glória de Deus!
E Aratiba, sem entender, fez expressão de confusão. – O que te pertuba, homem branco? – Explico-te, Aratiba. Sabes que estava à procura da tal cidade dourada, mas por ela fiquei
cego. Este mito nada mais é do que artimanha de Mammon, demônio da avareza, querendo
atrair os homens para o pecado. Eu, tolo, caí nele, e ao invés de seguir uma vida digna dos
Céus, escolhi o prazer terreno e mundano. Você, em contrapartida, escolheu a espiritualidade,
e o ódio a mim mesmo em meu coração vem por reconhecer a grandiosidade que tu tens e eu
não. Sua Terra Querida é uma praia, repleta de palmeiras, com velhos aproveitando tranquilos
seus últimos momentos e crianças crescendo em terra feliz, abundante de comida e da mais
bela criação divina, seja do seu deus ou do meu. Uma terra sem violência nem sofrimento,
sem pecado. A minha Terra Querida, em contrapartida, era uma feita apenas de ouro, riqueza
material e os pecados que a acompanham. Para o meu Deus, isto é incompatível. – Assim como para o meu. – respondeu Aratiba, antes de Antônio continuar. Este, finalmente,
entendeu o porquê do sofrimento do português. Sofria porque as possibilidades imensas de
riqueza ofertadas pelos ricos senhores de ocas grandes, de locais que acabara de conhecer
pelo amigo, de Lisboa, Paris ou Viena, apesar de todo o luxo e conforto que, segundo diz
Antônio e acreditava realmente Aratiba, o tal conceito de progresso traria, este viria
acompanhado também das tentações dos espíritos malignos de desvirtuá-lo, de se apropriar
do progresso e tornar ele próprio um pecado, sejam os espíritos malignos de sua religião ou a
de seu colega branco.
Antônio voltou a se acalmar e ambos voltaram à refeição. A carne, então, acabou, e os
homens voltaram ao seu caminho, como de costume. Pararam em um riacho para encher os
dois cantis, tiveram de atravessar um rio pouco distante para continuar o caminho e se
assustaram com o cheiro de um felino, até que Aratiba viu as pegadas, aliviado. Não era uma
onça, mas um gato-do-mato, e um dos pequenos. Continuaram, tranquilos, a jornada.
Jantaram, e Aratiba fez perguntas sobre Dom João, o Rei, enquanto Antônio aprendeu
também sobre os grandes líderes e guerreiros da nação de Aratiba. Aprendeu, também, um ou
outro grito de guerra do povo de Aratiba. Então, logo adormeceram, de modo alternado, ao
redor da fogueira.
Mais dois dias se passaram e muito mais aprenderam um do outro. Aratiba alertara
Antônio que estavam próximos ao seu destino. Um morro densamente arborizado estava
diante deles, no qual Antônio despendeava sua energia e fazia cair seu suor ao cortar os
galhos com seu recém-afiado facão, que tratou de amolar na noite passada. Enquanto isso,
Aratiba, muito mais suavemente, se movia, como se parte da floresta fosse. Demorou menos
de meio dia para, finalmente, chegarem a um mangue, bem próximo ao mar, de onde já se
podia ver, bem ao longe, a vila de São Vicente, até os sinos da igreja e também seu porto com
navios atracados. Viu também, bem pequena ao lado da igreja, a Casa de Câmara, onde seu
pai trabalhava e provavelmente se encontrava naquele momento. Abriu, ao pensar no velho
pai que logo encontraria, um sorriso largo, até que seu companheiro começou a falar, de trás
dele.

  • Aratiba cumpriu sua promessa de trazer Antônio para sua terra. Agora devo voltar para o
    meu povo, o que sobrou deste. – Vá, Aratiba, e cuide-se. Saiba que, se precisar de qualquer mão amiga, farei sempre o que
    puder, basta chamar-me. Sou eternamente grato. – Não há porque ser grato. Salvou-me a vida e te trouxe de volta para sua terra em troca. – Não por isto. Agradeço por ter salvado-me a minha alma. Sou convencido de que anjos,
    como os que te expliquei, cruzaram nossos caminhos para ensinar-me a virtude e tirar-me do
    pecado, e foste tu o instrumento. Por isso, agradeço-lhe. – Adeus, amigo. – Se despediu Aratiba. – Adeus, meu amigo. – Respondeu Antônio.
    O nativo então se virou de costas, indo para fora do mangue em direção à mata.
    Antônio, ao ver uma imagem, rapidamente se assustou. Enquanto seu amigo cruzava o
    mangue, no reflexo da água, São Miguel aparecia, voando da terra em direção ao céu com um
    sorriso no rosto, como que denunciando uma aparente sensação de dever cumprido. De fato,
    os anjos guiaram Aratiba.
    Caminhou por mais certo tempo até chegar na vila. Os olhares ao seu redor eram de
    surpresa e confusão, desde os pescadores até um padeiro que conhecia. Este logo o avisou
    que as notícias diziam que toda a bandeira havia sido exterminada por ferozes e cruéis índios.
    Em seguida, Antônio foi em direção à Casa de Câmara, encontrando primeiro um juíz, grande
    amigo de seu pai, que o alertou, em tom de piada, para não matar o pai do coração, tamanha a
    alegria que este sentiria quando o visse. Não foi diferente. Antônio abriu a porta da simples
    câmara onde seu pai trabalhava e lá estava o velho, sentado, escrevendo. A alegria foi tanto
    que por pouco as palavras do juíz não se transformaram em profecia e o coração do pai do
    bandeirante parou. O abraço foi forte como o de uma temida onça em sua presa, ou de uma
    cobra asfixiando sua próxima refeição. Antônio, ele próprio, na verdade, sentiu-se asfixiado.
    Dali em diante, dedicou sua vida à buscar o Paraíso, não El Dorado. Viveu bem desde
    então. Começou a trabalhar com o pai, ajudando a escrever documentos oficiais de São
    Vicente. Neste período, conheceu Inês, doce e bela mulher com quem se casou, de sangue
    mestiço, filha de um soldado branco com uma mulher indígena. Com frequência, a levava
    para cavalgar nos mangues, planícies e colinas, além, naturalmente, das praias. Sentia mais
    prazer em ver sua mulher sorrindo em cima de uma sela e o vento batendo em seu rosto de
    modo que aliviava qualquer tensão do que sentiria com milhares de cruzados. Começou a
    amar aquela terra. O pai morreu, e logo Antônio tomou seu lugar como escrivão. Dom
    Álvaro, amigo de seu pai, logo apadrinhou o filho do amigo, e em pouco tempo conseguiu
    um cargo para Antônio na emergente Guanabara, como ajudante do Ouvidor do Rio de
    Janeiro. Se mudou para lá e ficou ainda mais encantado com as belezas que Deus deu ao
    mundo. As praias da Guanabara, o contraste entre o amarelo da areia, o azul do mar e o verde
    da mata, o horizonte azul, as montanhas cobertas de verde e o canto das mais belas aves se
    tornaram parte fundamental do cotidiano de Antônio.
    Logo, se tornou pai, batizando o filho com um nome esquisito, estranho, nunca antes
    ouvido, que o próprio Ouvidor o recomendou a trocar. Aratiba era o nome da criança. Logo
    teve outro filho, e outra mais nova, e constituiu grande e feliz família, toda em solo brasileiro,
    que cultivou o hábito do pai de amar a natureza daquele local. Ambos os filhos amavam
    nadar e correr atrás dos pássaros, e a garota adquiriu uma paixão pela cavalgada sem igual,
    nem mesmo no pai. Antônio, passara, então, a vida inteira contemplando as belezas destas
    terras, e se apaixonar cada vez mais pela noção de desenvolvimento nestas. Do norte, notícias
    não tardaram a chegar avisando de que, após as derrotas em Guararapes os holandeses
    haviam sido expulsos, aumentando ainda mais essa esperança. Escreveu sobre essa paixão do
    verde das matas, amarelo das praias e azul do mar, em crônicas e poesias que foram ouvidas
    em Lisboa e até Paris, dando orgulho ao bom Dom Álvares. Não demorou muito para seu
    prestígio ser tanto que foi convidado para ser Secretário de Governo no Rio de Janeiro, cargo
    no qual lutou arduamente pelo local que acreditava ser o mais feliz deste mundo, prometido
    por Deus para as almas boas. Trabalhou ainda na administração por muito tempo, até morrer,
    bem velho. De seu leito de morte, via seus netos cavalgando na praia mais embaixo da colina
    onde se sustentava a casa e ouvia o canto de belos pássaros, sentindo também a brisa vinda do
    mar. Chegou à sua conclusão final, antes de seu último suspiro. Esta era sua Terra Querida.

Autoria:

Felipe Mercio e Vasconcelos 

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