Há momentos na história em que o tabuleiro político se redesenha diante dos nossos olhos, e o que parecia improvável se torna inevitável. O Brasil vive um desses instantes raros, em que o desgaste dos velhos truques da extrema direita abre espaço para um novo sopro de esperança. As ruas voltaram a pulsar, as pautas populares reassumem o centro do debate, e a sensação de que o tempo político amadureceu devolve confiança a quem acredita na justiça social.
A proposta de isentar do Imposto de Renda quem ganha até cinco mil reais não é apenas uma medida econômica — é um respiro ético. É a correção de uma distorção que castiga o trabalhador enquanto poupa o topo. Mais do que isso, desta vez a compensação vem de onde sempre deveria ter vindo: dos mais ricos pagarem mais, e não das mesmas velhas fórmulas de corte em áreas essenciais ou elevação de tributos que atingem os mais pobres. Em anos anteriores — e até em tentativas recentes — as medidas de “ajuste” vinham travestidas de responsabilidade fiscal, mas escondiam um projeto de concentração. Agora, ao inverter a lógica, o país finalmente flerta com a noção mais elementar de justiça: a de que quem mais tem deve contribuir mais.
Da mesma forma, o fim da escala 6×1 surge como símbolo de dignidade e equilíbrio. Depois de tantos anos de normalização da exaustão, reivindicar o direito ao descanso é reivindicar o direito a existir com plenitude. Essas pautas não brotam do acaso: são o reflexo de uma sociedade que, cansada da retórica do ódio, começa a exigir humanidade.
Enquanto isso, a extrema direita e parte do centrão tropeçam na própria arrogância. A tentativa de empurrar a famigerada PEC da blindagem e da anistia — uma confissão de culpa disfarçada de medida institucional — despertou o que poucos esperavam: a unidade dos progressistas, a força das ruas, o reencontro entre indignação e esperança. Errou feio quem acreditou que a sociedade aceitaria calada o espetáculo da impunidade. As vozes que ecoaram nas manifestações provaram que o ceticismo não é eterno, e que há um limite entre a manipulação e a consciência.
Enquanto isso, Eduardo Bolsonaro encena sua fuga simbólica, buscando fora do Brasil uma salvação que já não encontra em casa. Sua tentativa de internacionalizar a narrativa de perseguição soa como traição ao próprio país. É uma jogada desesperada, de quem perdeu o público e tenta reinventar-se no eco distante de aplausos estrangeiros. Mas há algo que nem a retórica consegue disfarçar: a maré virou.
O medo mudou de lado. Os rostos nas ruas, os discursos no Congresso e a temperatura do debate público indicam que os progressistas compreenderam o momento do jogo. E, como em toda grande virada, basta um instante para o possível se tornar real. O vento sopra a favor, e quem souber aproveitar esse movimento poderá transformar o improvável em futuro. O país, enfim, parece pronto para reencontrar sua melhor versão.
Porque às vezes, quando o vento vira, não é apenas a política que muda de direção — é a própria história que começa a respirar de novo.

