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segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Quando o Vento Vira a Favor

Há momentos na história em que o tabuleiro político se redesenha diante dos nossos olhos, e o que parecia improvável se torna inevitável. O Brasil vive um desses instantes raros, em que o desgaste dos velhos truques da extrema direita abre espaço para um novo sopro de esperança. As ruas voltaram a pulsar, as pautas populares reassumem o centro do debate, e a sensação de que o tempo político amadureceu devolve confiança a quem acredita na justiça social.

A proposta de isentar do Imposto de Renda quem ganha até cinco mil reais não é apenas uma medida econômica — é um respiro ético. É a correção de uma distorção que castiga o trabalhador enquanto poupa o topo. Mais do que isso, desta vez a compensação vem de onde sempre deveria ter vindo: dos mais ricos pagarem mais, e não das mesmas velhas fórmulas de corte em áreas essenciais ou elevação de tributos que atingem os mais pobres. Em anos anteriores — e até em tentativas recentes — as medidas de “ajuste” vinham travestidas de responsabilidade fiscal, mas escondiam um projeto de concentração. Agora, ao inverter a lógica, o país finalmente flerta com a noção mais elementar de justiça: a de que quem mais tem deve contribuir mais.

Da mesma forma, o fim da escala 6×1 surge como símbolo de dignidade e equilíbrio. Depois de tantos anos de normalização da exaustão, reivindicar o direito ao descanso é reivindicar o direito a existir com plenitude. Essas pautas não brotam do acaso: são o reflexo de uma sociedade que, cansada da retórica do ódio, começa a exigir humanidade.

Enquanto isso, a extrema direita e parte do centrão tropeçam na própria arrogância. A tentativa de empurrar a famigerada PEC da blindagem e da anistia — uma confissão de culpa disfarçada de medida institucional — despertou o que poucos esperavam: a unidade dos progressistas, a força das ruas, o reencontro entre indignação e esperança. Errou feio quem acreditou que a sociedade aceitaria calada o espetáculo da impunidade. As vozes que ecoaram nas manifestações provaram que o ceticismo não é eterno, e que há um limite entre a manipulação e a consciência.

Enquanto isso, Eduardo Bolsonaro encena sua fuga simbólica, buscando fora do Brasil uma salvação que já não encontra em casa. Sua tentativa de internacionalizar a narrativa de perseguição soa como traição ao próprio país. É uma jogada desesperada, de quem perdeu o público e tenta reinventar-se no eco distante de aplausos estrangeiros. Mas há algo que nem a retórica consegue disfarçar: a maré virou.

O medo mudou de lado. Os rostos nas ruas, os discursos no Congresso e a temperatura do debate público indicam que os progressistas compreenderam o momento do jogo. E, como em toda grande virada, basta um instante para o possível se tornar real. O vento sopra a favor, e quem souber aproveitar esse movimento poderá transformar o improvável em futuro. O país, enfim, parece pronto para reencontrar sua melhor versão.

Porque às vezes, quando o vento vira, não é apenas a política que muda de direção — é a própria história que começa a respirar de novo.

Manuel Flavio Saiol Pacheco
Manuel Flavio Saiol Pacheco
Doutorando e Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Mestre em Justiça e Segurança pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Especialista em Desenvolvimento Territorial pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).. Possui ainda especializações em Direito Tributário, Direito Constitucional, Direito Administrativo, Docência Jurídica, Docência de Antropologia, Sociologia Política, Ciência Política, Teologia e Cultura e Gestão Pública e Projetos. Graduado em Direito pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Advogado, Presidente da Comissão de Segurança Pública da 14º Subseção da OAB/RJ, Servidor Público.

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