A proteção da infraestrutura crítica brasileira, em especial do setor elétrico, enfrenta desafios únicos quando o assunto é cibersegurança em ambientes operacionais (OT – Operational Technology). Inspirado por um estudo publicado pela ISA Global Cybersecurity Alliance (GCA), especialistas do setor alertam para o chamado “paradoxo do patch”, que evidencia por que a simples atualização de dispositivos em usinas e subestações está longe de ser uma tarefa trivial.
Diferente do ambiente de TI, onde atualizações de segurança seguem processos consolidados, no universo de OT as consequências de uma falha são incomparavelmente maiores. Um patch mal aplicado não resulta apenas em instabilidades de software: pode causar blecautes, comprometer equipamentos de altíssimo valor e até colocar vidas em risco.
Entre os principais fatores que tornam o patching no setor elétrico um grande desafio, destacam-se:
- Disponibilidade inegociável: a prioridade absoluta em OT é a continuidade operacional.
- Ecossistemas heterogêneos: dispositivos modernos convivem com sistemas legados de mais de 20 anos, tornando a compatibilidade uma incerteza.
- Janelas restritas de manutenção: no setor elétrico, qualquer intervenção exige meses de planejamento e rigorosos processos regulatórios, tornando a aplicação de patches emergenciais extremamente difícil.
No Brasil, a complexidade se intensifica com as exigências do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), que estabelecem normas rígidas para mudanças em ativos do Sistema Interligado Nacional (SIN).
Diante desse cenário, a recomendação dos especialistas é clara: é preciso evoluir de uma mentalidade de “gestão de patches” para uma abordagem de gestão de riscos cibernéticos.
As boas práticas para fortalecer a segurança de redes OT incluem:
- Inventário completo e visibilidade de ativos.
- Segmentação de redes críticas, conforme normas como a ISA/IEC 62443.
- Monitoramento contínuo e detecção de ameaças em tempo real.
- Implementação de controles compensatórios, como firewalls industriais, IPS e políticas rígidas de acesso.
“A cibersegurança industrial não é uma corrida de 100 metros, mas uma maratona de resiliência”, reforça a análise. “A discussão promovida pela ISA GCA é fundamental para unirmos automação, TI e segurança em um propósito comum: proteger o setor elétrico brasileiro”, analisa Flávio Cruz, sócio-diretor da Cyrex Security.