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quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Dica de Série: “Round 6” – Sobrevivendo ao Labirinto

Round 6 é uma daquelas experiências audiovisuais que redefinem os limites do que esperamos de uma série de entretenimento. Disponível na Netflix, a obra dirigida por Hwang Dong-hyuk abandona qualquer resquício de inocência e mergulha fundo no abismo da avareza humana, brutalidade social e fragilidade moral. A série intensifica as cenas de violência, adiciona nuances filosóficas e aprofunda o desespero das personagens, elevando o roteiro à beira da tragédia grega, mas com roupagem pop coreana.

O universo da série é, por definição, claustrofóbico: centenas de desesperados são lançados em jogos infantis letais em busca de uma redenção impossível ‒ ou talvez, uma simples sobrevida financeira. Se na versão original já havia uma crítica corrosiva ao capitalismo selvagem, aqui, as metáforas são ainda mais explícitas — e, por vezes, quase escandalosas. O sangue não é apenas espetáculo: é sintoma. Cada personagem torna-se não apenas vítima, mas cúmplice, agente ativo num experimento social de psicopatia coletiva.

No plano visual, tudo soa excessivo. Cada cor, cada cenário hiperestético serve para alienar e seduzir, revelando a artificialidade de uma sociedade obcecada pela estética da competição e pela metafísica do dinheiro fácil. Hwang Dong-hyuk não economiza nas ironias: os jogos infantis são o ponto de partida para uma narrativa cruel onde a infância é apenas lembrança errática de uma inocência perdida, engolida pelo consumo e pelo desemprego.

Refletir sobre Round 6 é mergulhar na angústia latino-americana também: o Brasil dos desvalidos, dos invisíveis, dos que vivem apostando a própria sorte em algum esquema milagroso, ecoa nessa distopia coreana com uma autenticidade desconcertante. A série nos obriga a confrontar o próprio papel como espectador — cúmplice da violência e voyeur dos fracassos alheios. No fundo, talvez seja esse o verdadeiro jogo: o de fingir que estamos acima do tabuleiro, quando na verdade, participamos dele todos os dias.

Avaliação: 9,3.

Manuel Flavio Saiol Pacheco
Manuel Flavio Saiol Pacheco
Doutorando e Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Mestre em Justiça e Segurança pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Especialista em Desenvolvimento Territorial pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).. Possui ainda especializações em Direito Tributário, Direito Constitucional, Direito Administrativo, Docência Jurídica, Docência de Antropologia, Sociologia Política, Ciência Política, Teologia e Cultura e Gestão Pública e Projetos. Graduado em Direito pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Advogado, Presidente da Comissão de Segurança Pública da 14º Subseção da OAB/RJ, Servidor Público.

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