Em uma manhã de domingo, de uma primavera qualquer, Ana resolveu fazer uma caminhada no parque da capital federal. Ao descer do carro, observou os pedestres com seus bonés, roupas de academia e tênis de última geração desfrutando do lugar. Alguns sozinhos, outros em grupo, preocupados em cuidar dos corpos – esquecendo-se de contemplar o que havia de mais bonito ali: a natureza.
O chão estava estampado de folhas e flores dos ipês, nas mais variadas cores, que faziam a festa ao balanço do vento. O parque parecia uma pintura viva de Vincent Van Gogh.
Colocando seus óculos à la Kennedy, Ana dirigiu-se a uma barraca de pipoca. Diferentemente dos pedestres que observava, tirou as sandálias e ousou caminhar descalça pela grama. O contato com a terra a trouxe para o presente — e ela se permitiu simplesmente estar ali, sentindo a paisagem que o ser Divino lhe oferecia.
Da bolsa, retirou sua inestimável canga, esticou-a sobre o tapete de folhas e sentou-se. Ao longe, viu crianças brincando ao redor de um vendedor de bolhas mágicas. A alegria delas encantou tanto Ana que, por alguns segundos, ela quis voltar a ser uma delas – sem problemas, sem pensar no amanhã, apenas desfrutando o poder de viver o presente.
Tão concentrada na cena, Ana não percebeu a aproximação de um caminhante. Quando se deu conta, levou um susto. O homem, notando o sobressalto, apressou-se em pedir desculpas e perguntou se poderia sentar-se ao lado dela. Ana sorriu e acenou positivamente.
– Prazer! Meu nome é Cláudio! – disse ele, estendendo a mão.
Ana tirou os óculos, pediu que ele ficasse à vontade e retribuiu o cumprimento. Cláudio aparentava ter quase quarenta anos, barba feita, cabelos longos amarrados num coque e olhos cor de mel – um homem interessante, por sinal. Sentou-se na canga, e ela pensou, rindo por dentro, que ele talvez fosse apenas mais um folgado ou um Don Juan da vida.
Naquele dia, Ana saíra de casa para se conectar com algo que não fossem pessoas; queria apenas um momento consigo mesma. Mas Cláudio não deixou que isso acontecesse. Muito falante, começou a contar sobre sua vida: onde morava, o que fazia, quantos anos tinha. Uma ficha completa – como se ela fosse uma investigadora interessada em cada detalhe.
Porém, ao contrário do que imaginara, Cláudio tinha conteúdo. Era eloquente e divertido, e quando Ana se deu conta, estava rindo alto com suas histórias. Ele parecia ser alguém com quem valia a pena passar o tempo – e foi tão agradável que ela não percebeu o dia se despedindo.
A lua já brilhava quando Ana notou que os óculos escuros não faziam mais sentido. Cláudio, percebendo que ela se preparava para ir embora, a convidou para esticar o papo num barzinho ali perto.
– Você tem bebês que precisam de você agora? – perguntou ele, com um sorriso travesso.
Ana riu alto, balançando a cabeça em negação. Ele, então, pegou as coisas do chão e, num gesto espontâneo, segurou a mão dela, guiando-a até o bar.
Enquanto caminhava ao lado de Cláudio, Ana se perguntava como alguém podia ser tão persuasivo e encantador em tão pouco tempo.
O dia virou noite. A noite virou madrugada. A madrugada se estendeu em semanas, depois meses, e, por fim, em anos.
No dia em que caminhava em direção ao altar, Ana pensou em como o destino havia lhe presenteado naquele domingo – justamente no dia em que ela menos esperava encontrar alguém, encontrou a grande paixão de sua vida, em um encontro que, inicialmente, seria apenas consigo mesma.
Sorrindo diante do altar, ela percebeu que a vida tem dessas delicadezas: quando a gente se permite parar e respirar, o amor nos encontra onde menos imaginamos – entre o perfume das flores, o riso das crianças e o silêncio acolhedor da própria alma.

