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sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Bombardeiem os Pescadores!

Flávio Bolsonaro, o senador que vive em eterna performance de subserviência, ultrapassou todos os limites do ridículo patriótico ao sugerir que os Estados Unidos – sim, o mesmo império que derrota países sob pretexto humanitário – bombardeiem embarques na Baía de Guanabara. Não se trata de uma piada do Sensacionalista, mas de um político eleito pedindo um ataque militar estrangeiro em território brasileiro. O delírio colonial ganhou forma de tweet.

A operação que contratou o primogênito de Jair Bolsonaro foi uma ação norte-americana no Pacífico, onde três pessoas foram mortas após o bombardeio de um barco “suspeito” de narcotráfico. O secretário de Defesa de Trump comemorou o feito com a empolgação de quem joga um videogame de guerra. Flávio, tomado por um impulso messiânico de bajulação, respondeu na mesma língua: “Que inveja! Ouvi dizer que há barcos como esse aqui na Baía de Guanabara. Você não gostaria de passar alguns meses aqui nos ajudando?”. Eis o nacionalismo de boutique: o sonho de ver aviões estrangeiros cruzando o céu do Rio para jogar bombas em brasileiros.

Mas o que mais espanta é a naturalidade da barbárie. Estamos falando de uma baía onde os pescadores lutam para sobreviver com redes furadas e barcos de madeira. Gente que mal tem gasolina para sair ao mar — agora, segundo o senador, poderia virar “dano colateral” na cruzada norte-americana pela pureza do hemisfério. Quem garante que as embarcações “inundando o Brasil de drogas” não sejam simples trabalhadores tentando vender o almoço para comprar o jantar? A mentalidade bélica de Flávio e sua turma ignoram que o Brasil não precisa de bombas: precisão de dignidade, de emprego, de soberania.

É curioso: o patriota que enche o peito para falar em “verde e amarelo” clama por estrangeiros. O moralista que se diz “contra o tráfico” esqueceu o avião presidencial com 39 quilos de cocaína e as relações promíscuas entre seu clã e o submundo das rachadinhas. A lógica é simples e perversa: se não der para mandar prender o pobre, manda bombardear de uma vez.

O gesto revela o que há de mais doente no bolsonarismo: o desejo profundo de submissão. É o “vira-latismo kamikaze” – como disse certa coluna – de quem confunde patriotismo com se ajoelhar diante de potências. Essa gente não ama o Brasil, ama o chicote. Quer mísseis no lugar de diálogo, guerra no lugar de política, destruição no lugar de justiça.

Enquanto isso, o pescador permanece. Rema com medo das drogas que nunca viu, da fome que conhece demais e, agora, das bombas que o senador sonha no mandar.

Manuel Flavio Saiol Pacheco
Manuel Flavio Saiol Pacheco
Doutorando e Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Mestre em Justiça e Segurança pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Especialista em Desenvolvimento Territorial pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).. Possui ainda especializações em Direito Tributário, Direito Constitucional, Direito Administrativo, Docência Jurídica, Docência de Antropologia, Sociologia Política, Ciência Política, Teologia e Cultura e Gestão Pública e Projetos. Graduado em Direito pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Advogado, Presidente da Comissão de Segurança Pública da 14º Subseção da OAB/RJ, Servidor Público.

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