Uma Alternativa Cosmológica ao Modelo Big Bang
É questão sine qua non, pensarmos sobre o estado quântico primordial ao surgimento do macro. A cosmologia clássica estabeleceu como marco fundador do Universo o chamado Big Bang. Esse modelo sustenta que todo o espaço-tempo e toda a matéria tiveram origem em uma singularidade inicial, uma condição de densidade infinita e dimensão nula, a partir da qual o Cosmos se expandiu até assumir a forma que hoje conhecemos. Contudo, à luz de reflexões que integram tanto a Física contemporânea quanto uma leitura filosófica mais ampla, esse quadro apresenta fragilidades. Se aceitamos que o macro – isto é, o Universo e todos os possíveis Universos – não pode surgir senão como consequência do micro, então é necessário repensar a própria ideia de um início absoluto tal como a teoria do Big Bang descreve.
O macro, como nos ensina a Relatividade Geral, é o campo das grandes estruturas, das galáxias, das estrelas e da própria tessitura espaço-temporal. No entanto, esse macro repousa inevitavelmente sobre uma base micro, isto é, sobre as leis da Mecânica Quântica e seus estados de potencialidade. Sem o micro, não há macro. Isso significa que, antes de qualquer Cosmos possível, havia necessariamente um estado quântico primordial, não localizável no tempo nem no espaço, composto de potências múltiplas inumeráveis. Esse estado não deve ser pensado como vazio, mas como plenitude de possibilidades. Nele, não havia ainda espaço-tempo definido, mas apenas uma matriz de indeterminação e potencialidade, de onde o macro poderia eclodir.
Sob essa perspectiva, o Big Bang, tomado como o “início” do Universo, deixa de ser um evento macroscópico ou uma singularidade clássica. Ele passa a ser compreendido como um estado quântico notificado, isto é, como a transição ou atualização de determinadas potências quânticas em direção à concretização de um Cosmos particular. O que chamamos de Big Bang não seria, portanto, o nascimento absoluto de tudo, mas apenas a emergência de um dos infinitos percursos possíveis de realização quântica. Em outras palavras, o Big Bang deixa de ser um ponto universal e torna-se um episódio local dentro de uma trama muito mais vasta de possibilidades.
Essa constatação leva a uma crítica fundamental: a noção de singularidade, central no modelo do Big Bang, é incompatível com a natureza do estado quântico primordial. Singularidade implica densidade infinita em uma coordenada bem definida do espaço-tempo. Mas, no estado quântico, não há espaço-tempo definido, não há coordenadas lineares e não há fluxo de causalidade como o concebemos. A realidade quântica é antes um campo de indeterminações e de coexistências potenciais. Assim, a ideia de que o Universo inteiro emergiu de uma única singularidade infinita revela-se um artifício conceitual, mais próximo de uma extrapolação matemática do que de uma descrição ontológica consistente.
Se aceitamos que o macro vem sempre depois do micro, torna-se natural compreender que o que chamamos de Big Bang foi apenas uma das muitas manifestações possíveis do estado quântico primordial. Em vez de uma linearidade absoluta, temos um processo de atualizações múltiplas e paralelas. Essa visão nos leva à concepção da Big Mult-Explosion, que se apresenta como modelo alternativo e mais abrangente: não houve apenas uma explosão fundadora, mas uma multiplicidade de explosões simultâneas, gerando múltiplos Cosmos a partir da base inesgotável do micro quântico.
A Big Mult-Explosion rompe com a narrativa tradicional do Big Bang ao reconhecer que a realidade última não é a singularidade linear, mas o campo de potências múltiplas. Cada Universo possível é apenas a atualização de uma das inúmeras possibilidades inscritas nesse estado primordial. Assim, o Big Bang clássico não desaparece por completo, mas é relativizado: ele passa a ser interpretado como uma ocorrência particular dentro de um horizonte multiversal. O que se pensava ser o início de tudo, na verdade, é apenas a abertura de uma porta entre muitas, uma concretização local de uma matriz universal de potencialidades.
Essa mudança de paradigma não é apenas científica, mas também filosófica. Enquanto o Big Bang remete à ideia de um começo absoluto, quase mítico, a Big Mult-Explosion propõe um quadro dinâmico, múltiplo e inesgotável. O Universo deixa de ser único para tornar-se um entre muitos; e a singularidade cede lugar ao pluralismo de estados emergentes. No fundo, a Big Mult–Explosion afirma que o macro é sempre o resultado do micro, e o micro, por sua vez, é o domínio das infinitas possibilidades quânticas.
Dessa forma, podemos concluir: o Big Bang, em si, não é o início absoluto do Universo, mas apenas uma atualização particular do estado quântico primordial. A singularidade linear dá lugar à multiplicidade quântica. O que há no princípio não é o Cosmos já formado, mas um campo de potência infinita – um nôus quântico – que sustenta a manifestação de múltiplos universos. É justamente nesse ponto que a Big Mult-Explosion encontra sua força explicativa, ao articular a inevitável precedência do micro sobre o macro e ao afirmar que o real, antes de qualquer Universo, já era pleno de potência, e não vazio.
Cabe, aqui, deixar um alerta, para o bem da prática científica: o que a filosofia faz é apontar para o fato de que a ciência, ao privilegiar a certeza do fragmento, pode acabar criando um “castelo de fragmentos” que não faz sentido quando olhado como um todo. A história da física, por exemplo, mostra isso claramente, com as dificuldades de conciliar a gravidade (Relatividade Geral) com a física das partículas (Mecânica Quântica). Cada teoria é incrivelmente coerente em seu próprio “recorte” da realidade, mas a coerência entre elas ainda não existe – excetuando quando se olha para a BME.
Convém um retorno consistente da ciência à filosofia, inclusive para a estruturação de melhores metodologias.
Obs.: se deseja começar a entender sobre a BME e interagir com o proponente, leia o artigo-resumo publicado em Português e Inglês na Revista Multidisciplinar O Saber/ Multidisciplinary Journal of Knowledge: https://doi.org/10.51473/rcmos.v1i2.2025.1381
Autor:
Cesar Tólmi – Dr. Honoris Causa em Psicanálise, Especialização MBA em Gestão Estratégica de Pessoas, Especialização em Psicologia Jurídica e Avaliação Psicológica, em Perícia Criminal, em Neurociência Clínica, em Estudo da Linguística, em Análise do Comportamento (ABA), em Ciências da Religião; Graduação com Licenciatura Plena em Filosofia.
E-mail: cesartolmi.contato@gmail.com