No Brasil, mais de 9 milhões de pessoas convivem com doenças crônicas sem sequer saber. Silenciosas e traiçoeiras, essas condições – como AVC, infarto, hipertensão e diabetes tipo 2 – são responsáveis por milhares de mortes. Muitas delas, no entanto, podem ser prevenidas ou controladas pelo rastreamento precoce quando unido à atenção primária – uma frente que começa a ganhar adesão dentro do varejo farmacêutico.
O varejo farmacêutico possui alta capilaridade, e quando combinado à tecnologia de ponta, trazemos disseminação do acesso à saúde. Segundo o Ministério da Saúde, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) são responsáveis por aproximadamente 75% das mortes no país. Globalmente, essas doenças causam cerca de 63% dos óbitos, totalizando mais de 38 milhões de mortes por ano, de acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Frente a esse cenário alarmante, empresas de tecnologia em saúde têm se dedicado a potencializar o papel da atenção primária na identificação dos riscos de doenças crônicas, antes mesmo do surgimento de sintomas leves ou agudos. O uso de algoritmos científicos são capazes de identificar de forma precisa e rápida o risco de hipertensão, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e outras DCNTs. Cerca de 70% das doenças crônicas são silenciosas e evoluem sem sinais claros até atingirem estágios mais graves. Isso dificulta o tratamento e aumenta os custos para o sistema de saúde e para o próprio paciente. Com o rastreamento precoce, é possível mudar essa trajetória e o varejo farmacêutico, por possuir alta capilaridade, torna-se um elo importante nessa cadeia.
Com presença capilar em praticamente todos os municípios brasileiros, as farmácias representam uma porta de entrada acessível para a saúde preditiva, razão pela qual, incorporar práticas da atenção primária, como consultas clínicas, exames preditivos e programas de acompanhamento de doenças crônicas, tem ganhado atenção do varejo.
E os dados comprovam essa eficácia. De acordo com estudo da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), cada R$ 1 investido em atenção primária pode gerar uma economia de até R$ 17 em tratamentos complexos. Além disso, municípios com cobertura ampliada da Estratégia Saúde da Família (ESF) apresentaram queda de 18% na mortalidade por DCNTs.
A importância da atenção primária fica ainda mais evidente quando se analisam exemplos de doenças crônicas que poderiam ser facilmente evitadas ou controladas com simples intervenções:
- Hipertensão arterial: afeta 1 em cada 4 adultos brasileiros, mas muitos não sabem. Seu controle evita infartos e AVCs.
- Diabetes tipo 2: com diagnóstico precoce, é possível evitar complicações graves como perda de visão ou problemas renais.
- Colesterol alto, obesidade, doenças respiratórias crônicas e até alguns tipos de câncer, como o de colo do útero, também são preveníveis com rastreamento e acompanhamento regulares.
Municípios que investem em atenção primária conseguem reduzir em até 40% as internações por condições sensíveis, como crise asmática ou complicações do diabetes, segundo dados do SUS. Com o apoio da tecnologia e com o engajamento do varejo farmacêutico, o país pode avançar rumo a um modelo de saúde mais inteligente, acessível e centrado no cuidado contínuo. O sistema preditivo é mais humano e sustentável. Ele coloca o paciente no centro da atenção, não apenas quando ele já está doente, mas justamente para evitar que ele adoeça.
Autora:
Lísia Buarque, sócia-fundadora da WAC Global Tech, a primeira healthtech especializada em rastreio precoce de doenças de grandes populações, com tecnologia aplicada em inteligência de dados para tomadas de decisões.

