Vivo em São Paulo, capital. Aqui, a cidade parece eternamente vestida de cinza. Céu de concreto, concreto de céu. Dificilmente, durante as noites, há estrelas visíveis. O céu está sempre nublado, meio sonolento, como se guardasse segredos inconfessáveis. Quem quiser ver estrelas, que vá ao planetário – e lá, pode-se experimentar, com certa artificialidade, a beleza misteriosa dessa nossa abóbada celeste. Tantas estrelas, impossível contá-las: penso que são infinitas. Só nos resta admirá-las em silêncio, contemplando o universo, enchendo o peito e dizendo baixinho: como o céu é belo. Como este universo é perfeito!
Sorte minha que vivi a primeira infância em Minas Gerais, onde nasci. Lá nos grotões, céu sempre limpo, noites fartas de estrelas. Muitas delas reconhecíveis a olho nu, como velhas amigas que nunca nos abandonam. Tantas lembranças cravadas na memória, como fotografias desbotadas, retratando o verde das montanhas acompanhando o relevo, rios sinuosos, cachoeiras e cascatas que parecem guardiãs de segredos antigos. Sim, esta é a Minas Gerais que carrego no peito, como um amuleto feito de terra, pedra e saudade.
São Paulo é pujante, é progresso, é linda, mas Minas Gerais… ah, Minas! Você ainda pulsa aqui dentro, uai. Na minha lembrança vive a criança que fui. Pena que naquele tempo, como toda criança, meus olhos só buscavam o divertimento. Não valorizava a beleza ao meu redor. Hoje olho para trás e penso: cada céu apinhado de estrelas, cada luar derramado sobre as montanhas, era um encontro com o divino. Mas, naquela época, eu ainda não sabia o valor das coisas simples. Esses valores só atravessam a ponte da infância para a vida adulta. Sim, lembro da primeira namorada, mesmo que platônica, do primeiro embate com colegas, tudo isso enraizado no solo fértil da memória. Minhas raízes, minha infância.
Foi lá que cursei o primário – brinquei e briguei mais do que estudei, confesso. Caro leitor, talvez duvide da minha idade, mas juro que andei de carro de boi, esse transporte que ficou preso nas páginas da história desde o Brasil colonial. Uma infância extraordinária. Uma infância simples, inesquecível.
Não posso deixar de comentar sobre a culinária de minha avó materna. Hummm… quantas delícias: broa de fubá, pão de queijo, torresmo, couve, carne de porco e os doces então… o meu preferido era o pé de moleque! Tudo preparado com mãos que entendiam o segredo de transformar o cotidiano em festa.
Enfim, vim para São Paulo. Aqui mergulhei no trabalho, realizei estudos, me casei e tive dois filhos. E, por fim, apaixonei-me por esta cidade maravilhosa, mais conhecida por, simplesmente sampa! Acho que tenho dois corações… risos. Mas a saudade da infância – nadando nos rios de Minas Gerais – não ficou para trás. A essência veio junto comigo, inserida no meu coração, como se Minas tivesse costurado cada fio da minha alma antes de eu partir…
“Ah! Minas Gerais, quantas saudades você me traz.”

