Saíamos, na pré-madrugada, para um lugar mágico. No caminho, sentíamos o cheiro do mundo, o frio de uma manhã secreta que, no outro dia, sabíamos que se repetiria. Mesmo assim, para nós, aquele momento sempre seria único.
Os bichos ainda estavam dormindo, exceto os galos e as galinhas, que, com seus cantos, nos acordavam — e acordavam o mundo. Nosso pai dizia que devíamos sair antes das seis, porque, se saíssemos depois, o portal mágico desapareceria. Então, para não perdermos a nossa entrada ao reino mágico, acordávamos sem murmurar.
Eu me prendia dentro de uma infância muito feliz, graças a essa viagem encantada que era andar na neblina até o portal mágico. Não tínhamos medo de nada, pois não sabíamos que existia algum perigo. Então, o perigo não existia. A inocência é uma espécie de coragem disfarçada.
Chegávamos, enfim, ao portal que nos levaria ao outro lado do universo — e transmutaríamos de alegria.
A quem devo pedir que essa felicidade se repita em minha vida? Nunca mais? Nunca mais. Nunca.
Autor:
Elielson Batista Leite