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segunda-feira, 29 de setembro de 2025

O pesadelo da imunidade parlamentar

Tive um terrível pesadelo. Acordei em um país — não sei se era Brasil, República dos Sonhos ou a Terra da Piada Pronta — onde os congressistas haviam decidido, numa sessão extraordinária de criatividade jurídica, aprovar a Lei da Blindagem Suprema. Sim, ela! A lei que concedia imunidade total para todos os atos ilícitos cometidos por aqueles que, teoricamente, deveriam representar o povo. Povo este que, desde então, virou apenas um figurante, um mero telespectador da novela chamada “Fazendo o que quiser, sem medo do amanhã”.

Pela nova regra, qualquer parlamentar daquele Congresso só poderia ser julgado segundo critérios definidos por eles mesmos, o que, com algum esforço de imaginação, poderia ser resumido em: “Você está perdoado, meu amigo!”. Mais de duzentos milhões de brasileiros continuavam sob o Código Penal, julgados pelo Poder Judiciário, enquanto pouco mais de quinhentos cidadãos flutuavam acima das leis, como super-heróis do mal, intocáveis, inalcançáveis e, claro, sorridentes.

No pesadelo, esses nobres legisladores só poderiam ser investigados ou processados se o presidente da Casa Legislativa autorizasse. Uma espécie de chefia espiritual, capaz de segurar qualquer denúncia no espírito do cooperativismo, que sempre rende boas pizzas nas reuniões — aquelas que nunca acabam em condenação, mas em fatias generosas de impunidade.

Acordei suado, desesperado e incrédulo diante de tamanho absurdo. Era como se o país tivesse sido dividido: de um lado, os mortais que, ao roubar uma galinha, recebem como prêmio uma temporada atrás das grades; do outro, os deuses parlamentares, que podem roubar milhões e ainda receberem tapinhas nas costas, parabéns pela criatividade e algumas medalhas por serviços prestados à própria causa.

Ainda meio sonâmbulo, gritei para quem quisesse ouvir — ou, na verdade, para ninguém, por que quem ousa escutar? —:

— Cuidado, cidadãos! Se vocês roubarem uma galinha, serão presos, julgados e condenados. Mas, se forem membros da Casa Legislativa, poderão roubar milhões e nada acontecerá. O processo, se for instalado, terminará na gaveta, ou melhor, em pizza!

Que país é esse? A pergunta ecoou pela casa, mas só conseguiu despertar meus familiares, que, entre o susto e o riso nervoso, também se perguntavam: “Será que foi apenas um sonho?” Ou, quem sabe, um terrível pesadelo — daqueles dos quais não conseguimos acordar, pois a pizza já saiu do forno faz tempo e continua sendo servida aos mesmos convivas de sempre.

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