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quinta-feira, 25 de setembro de 2025

O caso do Capitão e o equilíbrio dos 3 poderes

Segurança reforçada na praça. Afinal, quando menos se espera, aí é que nada acontece. Minha avó, grande filósofa, dizia que o seguro morreu de velho e o incauto foi cedo para o beleléu; cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém; é dando que se recebe. Ops! Essa última nada tem a ver com o caso. Falha nossa. O Sargento Antão posiciona sua tropa na praça antes do sol raiar. 

  • Cabo USB, estão todos nos seus postos?
  • Sim. Tudo nos conformes. Eu sugiro…
  • Cabo não sugere nada. Cabo cumpre as ordens. É Sim Senhor!
  • Obrigado, Sargento.
  • Não, idiota. Eu estava te corrigindo. Ao falar comigo, trate-me por Senhor. Agora volte ao seu posto que vou checar o Plenário.

O Sargento Antão não é um cara grosso. Só um tanto espesso, tipo parede de igreja. O julgamento será histórico e os nervos estão à flor da pele. Na tropa, o Sargento é autoridade, mas no Plenário fica um pouco abaixo da insignificância, ainda mais nesses tempos em que pessoas fardadas estão em baixa.

São 6 horas da manhã e o Plenário está vazio, mas em pouco tempo estará lotado. A imprensa vai aparecer, os julgadores entrarão em procissão e o espetáculo terá início. Qual será o veredito? Nas Bets e nos botequins pode-se especular alguma tendência, mas diz o dito popular, em cabeça de juiz, barriga de tubarão e boca de criança, encontra-se de tudo. Nas fraldas geriátricas, também.

Defensores e acusadores são naturalmente antagônicos, mas o que se nota em meio à polarização são as torcidas organizadas, pró e contra, com repercussão internacional. Lá do Norte, Laranjão acompanha preocupado. Torce pelo Capitão.

Jair acompanhará o julgamento a distância e depois tomará Providência. Envolvido até o pescoço, sente-se traído e teme que a decisão tenha sido combinada, como num jogo de cartas marcadas. Obrigado a ficar em casa por ordens superiores e pelo incômodo no tornozelo, diz estar confiante e se recusa a ungir um sucessor.  Vários candidatos negam, mas disputam sua indicação.

A defesa tentou, sem sucesso, impedir que alguns juízes de participem do processo, por conta de antigas desavenças. A relação entre Jair e os julgadores é péssima e ele teme que isso comprometa a lisura. É a raposa no banco dos réus num júri composto por galinhas.

O julgamento é o assunto do dia em nas rodas de conversa. Um empresário do ramo de negócios escusos e fã do Capitão, pensa em voz alta tentando disfarçar o nervosismo diante da esposa, ferrenha apoiadora do time contrário.

  • Aqui se faz, aqui se paga.
  • Ué! Mudou de lado, Zé?
  • Que nada, Zilda. Acabo de bolar um nome para meu novo Motel. Aqui se faz, aqui se paga. Abre no mes que vem. Era para ser em Brasília, mas a competição por lá é muito intensa e predatória.

Terminado o julgamento, seu Jair perdeu por 4 a 1. Os julgadores acataram a tese de plágio na Caipirinha Três Poderes, criada por ele no Bar do Capitão, com perfeito equilíbrio entre os poderes dos limões taiti, galego e siciliano. A decisão é controversa, mas o drinque foi desclassificado, seu Jair não pode representar o Brasil no Torneio Internacional e está inelegível para os próximos concursos. 

  • Era previsível – protestou Jair. Alguém já viu um júri de veganos decidir qual é o melhor hambúrguer?
  • Tem dia que de noite é assim mesmo – tentou consolar sua esposa.

Haverá recurso, pois três dos cinco jurados trabalham num bar concorrente, mas a apelação é para o próprio júri e nada deve mudar. Na Zona Norte, o Laranjão, aliado do Capitão e sócio do Bar Americano, promete retaliar. A polarização e a retaliação afetam o consumidor. Os preços da cachaça, do limão e do açúcar aumentaram muito. Quem lucra é o PCC – Pagode, Cachaça e Cerveja, um bar clandestino. Desanimado, seu Jair foi ao hospital para tratar do incômodo no tornozelo e no seu Bar do Capitão, para tomar uma dose de cachaça Providência. Foi ovacionado.

Um dos filhos do Jair tem planos para manter o protagonismo da família, caso o julgamento não seja revertido. Ele foi conversar com a tia Cotinha, idosa e meio surda, sobre suas ideias para aliviar a pena do Capitão e manter a família no jogo.

  • Tia, já que não podemos disputar com Caipirinhas, estou pensando na categoria Licor? Vamos concorrer com licor de amora ou anis.
  • O que é que a mola tem a ver com o chassis?
  • Não, tia. Licor de Amora ou licor de Anis! O Jair quer Anis, Tia!
Laerte Temple
Laerte Temple
Administrador, advogado, mestre, doutor, professor universitário. Autor de Humor na Quarentena (Kindle) e Todos a Bordo (Kindle). Crônicas de humor toda sexta-feira, às 10h.

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