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quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Muito Além da Periferia: A Operação que Mira os Chefes e Seus Aliados

Nos últimos dias, o Brasil foi testemunha da maior operação de combate ao crime organizado já realizada em sua história, um movimento audacioso que mira diretamente o Primeiro Comando da Capital (PCC), a facção criminosa mais poderosa do país. O que chama atenção, porém, não é apenas a grandiosidade dos números envolvidos, os vultosos valores financeiros bloqueados, ou a complexidade logística dessa operação — o que realmente diferencia essa ação é seu foco nítido e implacável: ir atrás dos verdadeiros líderes, os cérebros que orquestram o sistema de violência, e não apenas dos peões que, historicamente, têm sido as únicas peças sacrificadas no tabuleiro da justiça.

Desde sempre, vimos uma tendência preocupante nas forças de segurança: operações que capturam os chamados “peixes pequenos”. São pessoas periféricas, muitas vezes negras, moradores de favelas, indivíduos cujas prisões causam impacto pouco real na estrutura do crime organizado. Não que os crimes de origem sejam errados — o combate à criminalidade deve atingir todos os que a praticam —, mas é inegável que essa seletividade sirva de forma controlada para dar respostas rápidas e superficiais à sociedade, criando uma ilusão de ação eficaz. Enquanto isso, os grandes mentores do crime seguem protegidos, investindo na corrupção, na lavagem de dinheiro e no fortalecimento das redes ilícitas.

A operação recente, que inclui desdobramentos até na Faria Lima, tradicional polo financeiro e símbolo do poder econômico paulista, é emblemática. Ao avançar sobre esses espaços, as autoridades enviam uma mensagem poderosa: o crime organizado não é só aquele que envelhece na periferia, mas é uma teia enraizada em várias camadas da sociedade, algumas delas até silenciosas e sofisticadas. Esse é um ponto crucial que distingue essa operação de outras anteriores — ela não mira apenas as cabeças do PCC, mas também seus associados dentro do empresariado e da política brasileira. A conexão do país com essas redes com setores influentes evidencia a complexidade do desafio e a necessidade de um enfrentamento à altura.

Encontrar e prender os verdadeiros chefes do PCC significa atacar o mal pela raiz. Significativamente desmantelar estruturas complexas que, durante décadas, desafiaram os esforços policiais ao se esconderem atrás de intermediários e pessoas aplicadas. A grandiosidade da operação não é apenas no montante financeiro bloqueado, o que impressiona, mas no simbolismo e no impacto que a captura desses líderes e seus aliados pode causar na debilitada gravidade do crime. Isso é essencial para que a justiça deixe de ser um espetáculo midiático e passe a ser um instrumento de transformação real.

Por fim, essa operação nos lembra de um ponto crucial: o combate ao crime organizado exige inteligência, coragem e visão estratégica. A seletividade, por mais conveniente que pareça, jamais será suficiente para romper o ciclo vicioso da violência e da desigualdade. É preciso mirar nossos chefes, desmontar as lideranças e desestabilizar todo o aparelho de violência, independentemente da cor, da classe social ou da posição que ocupam. Só assim o país poderá avançar rumo a uma segurança pública que sirva para todos, e não apenas para aqueles que, por acaso do destino ou da cor da pele, acabam sendo os primeiros a pagar o preço do sistema.

Manuel Flavio Saiol Pacheco
Manuel Flavio Saiol Pacheco
Doutorando e Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Mestre em Justiça e Segurança pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Especialista em Desenvolvimento Territorial pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).. Possui ainda especializações em Direito Tributário, Direito Constitucional, Direito Administrativo, Docência Jurídica, Docência de Antropologia, Sociologia Política, Ciência Política, Teologia e Cultura e Gestão Pública e Projetos. Graduado em Direito pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Advogado, Presidente da Comissão de Segurança Pública da 14º Subseção da OAB/RJ, Servidor Público.

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