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segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Fisioterapia e propósito de vida: aliados contra as demências

O envelhecimento da população traz consigo um desafio crescente: a prevenção e o enfrentamento das demências, entre elas a doença de Alzheimer, que responde por mais da metade dos casos registrados no Brasil. Segundo estimativas, 1,7 milhão de brasileiros convivem hoje com algum tipo de demência. Nesse cenário, a fisioterapia desponta como uma grande aliada tanto para reduzir os riscos quanto para retardar a progressão da doença em quem já recebeu o diagnóstico.

De acordo com especialistas, a prática regular de exercícios fisioterapêuticos melhora o fluxo sanguíneo cerebral, aumenta a oxigenação do sistema nervoso central e estimula a neuroplasticidade, a capacidade do cérebro de criar novas conexões. Isso significa que a atividade física, quando orientada, ajuda a manter o cérebro saudável, favorecendo funções como memória, atenção e concentração. Entre os recursos utilizados estão os chamados exercícios de dupla tarefa, que combinam atividades motoras e cognitivas ao mesmo tempo, fortalecendo músculos, equilíbrio e raciocínio em conjunto.

Quando aplicada a pacientes que já vivem com demência, a fisioterapia atua para estagnar o avanço da doença e adiar o surgimento de novos sintomas. Exercícios de fortalecimento, alongamento e equilíbrio reduzem o risco de quedas — episódios que, em idosos com demência, podem acelerar de forma drástica o declínio funcional. Além disso, ajudam a preservar a mobilidade, melhorar a respiração e prolongar a autonomia no dia a dia.

Entre os exercícios mais eficazes estão os resistidos, que trabalham a força muscular de braços e pernas, os alongamentos, que reduzem rigidez e dores, e os treinos de equilíbrio, que dão mais segurança às atividades cotidianas. A hidroterapia, realizada em ambiente aquático, também é indicada para pessoas com dores articulares. No caso dos membros inferiores, os estudos são categóricos: fortalecer as pernas tem impacto direto na prevenção da demência, mas é preciso seguir uma rotina estruturada e progressiva, não apenas realizar atividades esporádicas como subir escadas ou pedalar de vez em quando. A prática regular pode reduzir em até 35% o risco de desenvolver quadros demenciais.

O ideal é que a fisioterapia com foco preventivo seja iniciada cedo, preferencialmente a partir dos 40 anos. Isso porque, dos 17 fatores de risco para as demências identificadas pela ciência, 14 são modificáveis e dependem do estilo de vida adotado. Quanto mais cedo se começa a cuidar da saúde física, maiores são os benefícios para o corpo e para a mente.

Mas a prevenção não está apenas no aspecto físico. A dimensão emocional também exerce influência direta sobre o envelhecimento cognitivo. Os idosos que traçam metas, fazem planos e realizam sonhos mantêm um envelhecimento mais saudável. Essa experiência resultou na organização do livro Propósito de vida da pessoa idosa (Summus Editorial), que foi escrito em parceria com outros 13 especialistas em gerontologia. A obra, pioneira no Brasil sobre o tema, venceu a segunda edição do Prêmio Jabuti Acadêmico, no eixo Ciência e Cultura, categoria Educação Física, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional.

O propósito de vida é um fator determinante para o envelhecimento ativo, pois dá sentido às escolhas e motiva a busca por hábitos mais saudáveis. Em um país que envelhece rapidamente, essa visão amplia o debate para além das doenças, destacando o bem-estar, a autonomia e a qualidade de vida como objetivos centrais.

Mais do que prolongar a vida, o grande desafio da atualidade é acrescentar vida aos anos. Nesse processo, corpo e mente caminham juntos: a fisioterapia garante movimento, equilíbrio e funcionalidade, enquanto o propósito de vida fortalece a motivação para continuar ativo. Dois aliados indispensáveis para que o envelhecimento seja não apenas mais longo, mas também mais saudável e pleno de significado.

Cristina Cristovão Ribeiro, Fisioterapeuta, professora universitária e pesquisadora. Doutora em Gerontologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Titulada em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).

Autora:

Inês Dell’Erba

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