Após um dia de trabalho, no fim da tarde, ele só queria sentar-se na areia, admirar e ouvir o mar. Precisava da paz e da calma que a natureza oferece, após a correria do dia.
A meditação logo é interrompida pela chegada de alguns jovens, não mais que 15 anos, carregando uma caixa de som, muita bebida e a fumaça do “verde”.
Olhando a cena, sua mente viaja no tempo.
Recorda que nessa mesma idade, estava estudando e havia acabado de conquistar um estágio. Que alegria receber o primeiro salário suado!
Era uma festa chegar para os amigos e dizer: “Estou trabalhando, vamos sair, eu pago as esfihas no árabe.”
As meninas o olhavam diferente: estudante e trabalhador, que admiração. Logo os amigos seguiram o mesmo exemplo: todos trabalhando, sonhando com a faculdade, conquistando pequenas vitórias. Que fase boa.
Todos ansiosos pelo sábado à tarde (porque de manhã estudavam) para ir ao shopping, jogar boliche, assistir a um filme, saborear aquele lanche que só era grande na foto.
A lembrança se dissolve quando o pancadão alto o traz de volta, com letras questionáveis que irritam seus ouvidos.
Lembra de como era bom esperar o clipe favorito na MTV, ouvir músicas que tinham história, que faziam pensar.
A nostalgia invade a alma: desenhos, filmes, músicas, televisão, relembra as festinhas regadas a salgadinhos e refrigerante.
Tudo passa rápido, e uma tristeza se instala ao olhar a cena ao lado: bebidas em excesso, ervas, músicas vazias, vômitos na areia, risadas ilusórias em meio a uma viagem que pode não terminar bem.
Onde tudo se perdeu? Ele se pergunta se é apenas a idade. Será que está velho, ultrapassado, careta?
Mas a tristeza logo dá lugar à gratidão: por ter nascido no tempo certo, por estar vivo e bem. Agradece por poder admirar o mar, pés na areia, corpo relaxado, coração e mente cheio de lembranças tão boas e saudáveis.
E se pergunta: será que esses jovens chegarão um dia a essa paz de espírito?
No fim, ele ou eles podem ser eu e você.
Qual a sua escolha?