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quinta-feira, 25 de setembro de 2025

A sua próxima compra será aprovada por um robô?

Protocolo AP2 transforma ficção científica em realidade de negócios, permitindo que robôs realizem desde compras complexas até pagamentos corporativos.

A cena é um clássico da ficção científica: um capitão em sua nave simplesmente declara uma ordem ao computador – “defina um curso”, “analise os dados” e a máquina, com sua inteligência onipresente, executa a tarefa instantaneamente.

Essa fantasia de comando e execução, o sonho do “computador da Enterprise”, ganhou nesta terça-feira, 16 de setembro, seu mais sólido alicerce no mundo real. Em um movimento que acelera o futuro, o Google, em colaboração com mais de 60 potências da indústria como Mastercard, American Express, Paypal e Salesforce, anunciou o Protocolo de Pagamentos para Agentes (AP2). Trata-se de um padrão aberto que funciona como a primeira “linguagem universal” para que agentes de Inteligência Artificial possam realizar transações financeiras de forma autônoma e segura.

Este anúncio catalisa uma tendência de mercado conhecida como “agentificação”: a transformação de serviços digitais em agentes inteligentes que agem em nosso nome. Com projeções da McKinsey estimando o impacto econômico em até US$ 4,4 trilhões anuais, o potencial é imenso.

Mas o que isso significa na prática?

• Compras Preditivas: Imagine dizer a um agente: “Eu quero esta jaqueta verde, e estou disposto a pagar até 20% a mais”. O agente então monitora o mercado e executa a compra de forma segura no momento exato em que a condição é atendida, capturando uma venda que seria perdida.

• Ofertas Personalizadas e Dinâmicas: Seu agente informa a um lojista que você precisa de uma bicicleta para uma viagem. O agente do lojista, por sua vez, responde com uma oferta customizada e limitada no tempo, incluindo um capacete e um rack de viagem com desconto, transformando uma simples busca em uma venda de maior valor.

• Tarefas Coordenadas: Você instrui: “Reserve voo e hotel para um fim de semana em Palm Springs, com um orçamento total de US$ 700”. O agente interage com múltiplos fornecedores e executa ambas as reservas simultaneamente assim que encontra uma combinação que se encaixe perfeitamente nas suas regras.

Arquitetura da confiança: uma lição por trás da Inovação

A promessa de delegar tarefas de alto valor a um robô exige um nível de confiança absoluto. O caso da Air Canada, responsabilizada judicialmente após seu chatbot”alucinar” e fornecer informações falsas, serve como um lembrete crucial dos riscos.

O novo protocolo AP2 foi desenhado exatamente para prevenir cenários como esse, introduzindo o conceito de “Mandatos”: contratos digitais assinados criptograficamente que criam uma trilha de auditoria irrefutável para cada instrução e aprovação do usuário, garantindo que o agente só faça o que foi explicitamente autorizado.

A sala de máquinas 

Para que uma empresa possa oferecer essas experiências e, ao mesmo tempo, garantir essa confiança, ela precisa de uma arquitetura interna robusta.

1. O Motor de Orquestração (ExLangGraph): Um cérebro lógico que permite ao agente pensar em etapas, implementar checagens de segurança (como os Mandatos) e se adaptar a imprevistos (incluindo o man in the loop),garantindo uma execução resiliente.

2. O Protocolo de Contexto e Colaboração (MCP): O anúncio do Google revela que o novo protocolo de pagamentos (AP2) é uma extensão do MCP. Isso posiciona o MCP como a espinha dorsal da comunicação em toda a jornada. Ele não só funciona como o “tradutor universal” que garante a interoperabilidade segura entre os agentes externos (usuário, comerciante, banco), mas, igualmente importante, viabiliza a orquestração interna, conectando o agente principal a sistemas core como CRM, ERP e motores de oferta e precificação. É eleque garante que a decisão de transacionar seja informada e alinhada com as regras de negócio da empresa.

Implicações Estratégicas

O anúncio coordenado pela indústria nesta terça-feira transcende o lançamento de uma tecnologia: ele estabelece as fundações de um novo paradigma de interação e comércio. A convergência de tantos líderes de mercado não apenas valida a era dos agentes autônomos, mas também define o novo campo competitivo.

Neste cenário, o diferencial não virá da adoção pontual de IA, mas da capacidade estratégica de construir, governar e escalar ecossistemas de agentes confiáveis. Estamos, de fato, na transição da era de programar computadores para a de dirigir agentes inteligentes. A liderança futura pertencerá aos melhores maestros!

Autor:

Marcelo Oliveira é Diretor de Estratégia da Verity

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