Como transformar a sala de aula em um ambiente verdadeiramente inclusivo para crianças autistas? Com mais de 900 mil estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) matriculados na educação básica brasileira, segundo o Censo Escolar 2024, escolas de todo o país buscam estratégias eficazes para garantir não apenas a matrícula, mas a inclusão real dessas crianças.
A resposta está na implementação de práticas baseadas em comunicação alternativa, uso de tecnologias assistivas e mediação afetiva, abordagens que já mostram resultados positivos em instituições brasileiras e serão tema central do 3º Congresso Extraordinário, realizado pela Genial Care em parceria com a Revista Autismo.
“A escola deve ser um espaço de desenvolvimento cognitivo, comunicação e convívio social. Para crianças no espectro, isso só é possível em um ambiente verdadeiramente acolhedor e adaptado, o que exige planejamento, empatia e o comprometimento de toda a comunidade escolar”, afirma a Vice Presidente Clínica da Genial Care, Thalita Possmoser.
Comunicação alternativa: quebrando barreiras na sala de aula
A Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) tem se mostrado uma das estratégias mais eficazes para incluir estudantes autistas. Escolas brasileiras já implementam sistemas que combinam símbolos visuais, gestos, tecnologia e fala para criar múltiplas formas de expressão.
“Todo comportamento é uma forma de comunicação. Quando passamos a enxergar dessa forma, conseguimos interpretar sinais e oferecer apoio adequado. Ferramentas visuais como calendários, tabelas de horários das aulas e cartões ilustrativos ajudam crianças a compreender melhor a rotina escolar”, explica Thalita.
Tecnologias assistivas: aliadas do aprendizado inclusivo
O uso de tecnologias assistivas tem revolucionado o ambiente escolar para estudantes autistas. Aplicativos educativos, softwares de comunicação e dispositivos adaptativos permitem que cada criança acesse o conhecimento de acordo com suas particularidades.
Entre as ferramentas adotadas com sucesso no Brasil, destacam-se: tablets com apps específicos de comunicação, softwares que convertem texto em fala e plataformas educativas adaptadas ao perfil do aluno.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), tecnologias baseadas em Inteligência Artificial (IA), por exemplo, podem ampliar a capacidade de diagnóstico precoce e personalização de estratégias, especialmente no campo da saúde mental.
“Soluções com IA e aprendizado de máquina têm se mostrado promissoras para identificar sinais precoces do espectro autista — muitas vezes antes mesmo que os pais percebam mudanças de comportamento. Mas é importante lembrar: essas ferramentas não substituem os profissionais de saúde, apenas complementam e potencializam o trabalho clínico”, reforça a Vice Presidente Clínica.
Mediação afetiva: o vínculo como base do aprendizado
Mais do que equipamentos ou metodologias, o vínculo emocional com professores e educadores é determinante para a aprendizagem de crianças autistas. Por isso, formações específicas sobre TEA tornam-se indispensáveis para o corpo docente e toda a equipe escolar.
“Nenhuma tecnologia substitui o poder de uma relação de confiança. Quando a criança se sente segura emocionalmente, ela se abre ao aprendizado. É esse vínculo que deve vir antes da cobrança por resultados”, completa Thalita Possmoser.
Estratégias práticas para uma volta às aulas inclusiva
Com base na experiência de escolas que já implementam práticas inclusivas bem-sucedidas, especialistas compartilham estratégias essenciais:
1. Familiarização com o ambiente: agendar visitas à nova escola com a criança é fundamental. Essa oportunidade permite que ela se familiarize com o ambiente, conheça os espaços (como sala de aula, banheiro e refeitório) e, se possível, interaja com os professores e colegas. Essa prática ajuda a reduzir a ansiedade e a criar um senso de segurança.
2. Rotina estruturada: crianças com TEA geralmente se sentem mais confortáveis com uma rotina estruturada. Antes do início das aulas, crie uma rotina semelhante à que será seguida durante o período escolar, incluindo horários para acordar, lanchar e realizar atividades. Isso pode facilitar a transição para a nova rotina.
3. Comunicação escola-família: forneça à escola informações detalhadas sobre as necessidades da criança, incluindo gatilhos sensoriais, estratégias de comunicação eficazes e possíveis formas de acalmar a criança em situações de estresse. Essa comunicação aberta é essencial para a equipe escolar estar preparada para oferecer o suporte adequado.
4. Recursos visuais: materiais visuais, como calendários, tabelas de horários e cartões com ilustrações, podem ajudar a criança a compreender melhor o que esperar durante o dia. Esses recursos são especialmente úteis para crianças com dificuldade em processar informações verbais.
5. Preparação gradual: explique, de forma clara e simples, como será o ambiente, quem estará lá e o que ela fará ao longo do dia. Usar histórias sociais ou livros que abordem a temática escolar também pode ajudar.
6. Aproveitamento de interesses específicos: muitos interesses específicos e objetos de hiperfoco podem ser aproveitados para garantir a motivação e o engajamento da criança nas atividades acadêmicas. Os pais podem inserir esses temas e compartilhar com os professores para que eles possam ser usados em sala de aula. Além disso, os pais podem também transferir para a sala de aula os materiais de apoio que a criança já utiliza em casa, levando em conta suas dificuldades específicas e respeitando as ferramentas com as quais ela já está familiarizada.
7. Atividades coletivas adaptadas: estimule as atividades coletivas, porque elas são muito importantes para promover a interação e socialização da criança. Sempre que possível, realize tarefas, atividades, brincadeiras e jogos em grupo, mas sempre respeitando o tempo da criança e com muita atenção à reação dela nesses momentos.
8. Capacitação da equipe: a inclusão não é responsabilidade apenas do professor regente. Garanta que toda a equipe, incluindo coordenadores, auxiliares e funcionários, esteja ciente das necessidades da criança e seja capacitada para lidar com situações específicas relacionadas ao TEA.
9. Monitoramento contínuo: a adaptação é um processo contínuo. Observe o comportamento da criança e mantenha um diálogo constante com os professores para identificar o que está funcionando e o que pode ser ajustado. Pequenas mudanças podem fazer uma grande diferença no bem-estar da criança.
10. Cultura de empatia: estimular atividades que promovam a convivência e a empatia entre os alunos é essencial para combater preconceitos e criar um ambiente acolhedor. Incentive a escola a realizar dinâmicas de grupo e rodas de conversa sobre respeito às diferenças.
Congresso reúne especialistas para transformar teoria em prática
Para aprofundar essas estratégias, a 3ª edição do Congresso Extraordinário acontecerá nos dias 25 e 26 de outubro, no Parque da Mônica, em São Paulo. O evento híbrido reunirá especialistas nacionais e internacionais para discutir “Da comunicação à aprendizagem: desmistificando o ensino com autistas”.
Com a participação inédita do Instituto Maurício de Sousa e Parque da Mônica, o congresso apresentará casos reais de adaptação cognitiva e oferecerá ferramentas práticas para terapeutas, educadores e famílias.
“Nosso compromisso é transformar conhecimento científico em ações acessíveis para o dia a dia profissional, promovendo comunicação como direito de todos”, finaliza Thalita Possmoser.
O evento já impactou milhares de profissionais em edições anteriores e se consolida como uma das principais iniciativas de disseminação de conhecimento aplicado ao TEA no Brasil.
SERVIÇO
3º Congresso Extraordinário
Data: 25 e 26 de outubro de 2025
Local: Parque da Mônica – São Paulo (SP)
Formato: Híbrido (presencial + online)
Horário: 8h às 11h30 e 13h às 15h (com oficina extra)
Inscrições: Pelo link, com certificado de participação