Vamos direto ao ponto.
No universo das empresas modernas — cheias de cafés gourmets, insights, brainstorms e slogans em inglês — dois modelos de gestão ainda ditam o ritmo: o vertical, conhecido dos veteranos, e o horizontal, queridinho das startups e dos defensores do “people first”.
Só que há um problema: o modelo horizontal virou sinônimo de zona de conforto.
Ambientes “abertos”, “colaborativos”, “sem hierarquia”.
Bonito nos slides de cultura organizacional. Inspirador nos eventos de RH.
Mas na prática? Uma esteira emocional sem movimento real.
As pessoas se abraçam, trocam figurinhas, fazem dinâmicas coloridas e… estagnam.
Porque crescer dói.
Crescer exige desconforto.
Exige feedback real, responsabilidade, cobrança honesta e a humildade de admitir o que não se sabe.
O modelo vertical, com todos os seus espinhos, ao menos empurra para cima.
O horizontal, quando mal implementado, acomoda.
E quem vive em linha reta, sem morro nem queda, termina parado — com um crachá bonito e zero evolução real.
O resultado?
Empresas que viram spas emocionais com metas.
Muita escuta, pouca entrega.
Muita empatia de palco, pouca gestão de verdade.
Propósito nos slides, mas fracasso na prática.
Quer desenvolver talentos?
Desconfie do conforto permanente.
Ele é anestesia disfarçada de bem-estar.
E empresa que só oferece acolhimento sem exigência, forma adultos emocionais mimados — que não aguentam uma segunda-feira difícil.
Crescimento exige incômodo.
Sair da zona de conforto.
Enfrentar desconfortos produtivos.
Subir. Cair. Aprender. Recomeçar.
Porque, sejamos francos:
ninguém evolui deitado em rede.
Cresce quem levanta. Quem encara. Quem sobe.
E num mundo que só quer descanso, talvez o verdadeiro diferencial seja ter coragem para subir quando todo mundo está se deitando.
Willians Fiori é neurocientista, psicanalista e especialista em comportamento organizacional, empatia e desenvolvimento de lideranças. Professor no Hospital Israelita Albert Einstein e autor do livro Diversa-IDADE, atua na criação de culturas corporativas mais humanas, porém desafiadoras — onde o crescimento não é só discurso, é prática diária.