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sexta-feira, 26 de setembro de 2025

RESENHA: EDUCAÇÃO FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA: REFLEXÕES EPERSPECTIVAS


O artigo “Educação Física e Qualidade de Vida: Reflexões e Perspectivas”,
publicado por Ana Lúcia Padrão dos Santos e Antônio Carlos Simões na revista Saúde e
Sociedade (v. 21, n. 1, p. 181-192, 2012), aborda a complexa relação entre práticas
corporais, como atividade física, exercício físico e esporte, e a qualidade de vida. Os
autores destacam a relevância desse tema na sociedade contemporânea, enfatizando a
necessidade de rigor científico para compreender como essas práticas influenciam o
bem-estar humano em dimensões biológicas, psicológicas, sociais e culturais.Os autores
iniciam o texto discutindo a multidimensionalidade do conceito de qualidade de vida,
que envolve aspectos objetivos (condições de vida) e subjetivos (satisfação pessoal),
conforme proposto por Castellón e Pino (2003). Eles argumentam que, embora a
atividade física seja frequentemente associada à melhoria da qualidade de vida, muitos
estudos limitam-se a indicadores biológicos de saúde, negligenciando outras dimensões.
Para superar essa limitação, sugerem que a Educação Física deve adotar abordagens
mais amplas, considerando os aspectos biopsicossociais do movimento humano.
Um ponto central do artigo é a necessidade de clareza conceitual. Os autores
apresentam definições de atividade física, exercício físico e esporte com base em
dicionários especializados (Barbanti, 2003; Matos et al., 2005; Tubino et al., 2007;
González e Fensterseifer, 2008), destacando que esses termos não são sinônimos e que
sua indistinção pode levar a equívocos metodológicos. Por exemplo, enquanto toda
prática de exercício físico é considerada atividade física, o inverso não é verdadeiro, e o
esporte possui características competitivas e institucionais distintas. Essa distinção é
crucial para a elaboração de instrumentos de medida e para evitar generalizações
indevidas. Outro aspecto abordado é a complexidade metodológica na pesquisa sobre
qualidade de vida. Os autores citam instrumentos como o MOS SF-36, o Índice de
Qualidade de Vida de Ferrans e Powers e o WHOQOL-100, que exigem propriedades
psicométricas rigorosas, como confiabilidade e validade (Lohr et al., 1996). Eles também
destacam limitações nos estudos, como a dificuldade de comparar resultados devido à
variação de instrumentos e contextos culturais (Hallal et al., 2007). Além disso, fatores
como gênero, classe social e contexto cultural influenciam a prática de atividades físicas
e sua relação com a qualidade de vida, o que reforça a necessidade de abordagens
contextualizadas.O artigo também reflete sobre o papel da Educação Física na produção
de conhecimento científico. Documentos como a Carta Brasileira de Educação Física
(CONFEF, 2000) e o Código de Ética dos Profissionais de Educação Física (CONFEF, 2003)
reforçam a responsabilidade da área em promover estilos de vida ativos para melhorar
a qualidade de vida.
Contudo, os autores questionam a fundamentação científica dessas afirmações,
sugerindo que a área deve superar desafios conceituais e metodológicos para consolidar
suas contribuições.Em suas considerações finais, os autores enfatizam que a Educação
Física deve adotar um rigor metodológico que respeite a complexidade do movimento
humano e sua relação com a qualidade de vida. Eles alertam que o uso indiscriminado
de termos como “qualidade de vida” pode banalizá-los, dificultando o diálogo
interdisciplinar. Assim, propõem que a área invista em estudos que considerem a
especificidade das práticas corporais, seus contextos e impactos em diferentes
populações.
REFERÊNCIAS
Barbanti, V. J. (2003). Dicionário de educação física e esporte. São Paulo: Manole.
Castellón, A., & Pino, S. (2003). Calidad de vida en la atención al mayor. Revista
Multidisciplinar de Gerontología, 13(3), 188-192.
CONFEF – Conselho Federal de Educação Física. (2000). Carta brasileira da educação
física. Rio de Janeiro: CONFEF.
CONFEF – Conselho Federal de Educação Física. (2003). Resolução CONFEF n.º 056,
de 18 de agosto de 2003. Código de Ética dos Profissionais de Educação Física. Rio de
Janeiro: CONFEF.
González, F. J., & Fensterseifer, P. F. (Org.). (2008). Dicionário crítico de educação
física. Ijuí, RS: Unijuí.
Hallal, P. C., et al. (2007). Evolução da pesquisa epidemiológica em atividade física no
Brasil: revisão sistemática. Revista de Saúde Pública, 41(3), 453-460.
Lohr, K. N., et al. (1996). Evaluating quality-of-life and health status instruments:
development of scientific review criteria. Clinical Therapeutics, 18(5), 979-992.
Matos, D. C., Silva, J. E., & Lopes, C. S. (2005). Dicionário de educação física,
desporto e saúde. Rio de Janeiro: Rubio.
Tubino, M. J. G., Tubino, F. M., & Garrido, F. A. C. (2007). Dicionário enciclopédico
do esporte. São Paulo: Senac Editora.

Autor:

Professor Dr. José Rinaldo Domingos de Melo
CREF:015028-G/PE

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