Por Pedro Paulo Morales
Se você anda desanimado e com dificuldade para progredir na carreira, pode estar enfrentando algo que ainda é pouco discutido, mas cada vez mais presente no mundo corporativo: o chamado “quiet cracking”. A expressão, que em tradução livre significa “rachadura silenciosa”, descreve um desgaste sutil, quase imperceptível, mas que mina a motivação profissional dia após dia. Ao contrário do burnout, que surge de um excesso de demandas e pressões, o “quiet cracking é sorrateiro. Ele acontece quando, pouco a pouco, você perde o interesse pelo que faz, evita novas tarefas, se afasta de colegas e líderes e passa a trabalhar apenas pelo salário, sem perceber que está travando seu próprio avanço.
O problema é que, nesse estado, você até cumpre o básico, mas evita ir além. Recusa projetos, se distancia de interações estratégicas e, com isso, perde visibilidade. No jogo corporativo, quem não é visto dificilmente é lembrado. E, quando a empresa precisa decidir quem vai assumir um novo desafio ou receber uma promoção, é natural que o olhar se volte para aqueles que estão ativos, engajados e dispostos a inspirar os demais. Assim, o ciclo se retroalimenta: quanto mais você se retrai, menos oportunidades surgem, e quanto menos oportunidades surgem, mais desanimado você fica.
Muitas vezes, essa retração começa de forma quase invisível, com pequenas escolhas que parecem inofensivas. Pode ser o hábito de guardar ideias por medo de críticas, o perfeccionismo que faz você adiar indefinidamente a apresentação de uma sugestão, ou mesmo a resistência em falar sobre seus objetivos. No ritmo acelerado do mercado, quem espera o momento perfeito para contribuir acaba perdendo o momento certo. E, no mundo corporativo, o tempo raramente espera.
Há ainda um aspecto delicado: o “quiet cracking” não é exclusividade dos profissionais. Empresas também podem praticá-lo, seja de forma intencional ou por descuido. Isso acontece quando um funcionário é gradualmente excluído de reuniões importantes, não é consultado sobre decisões que envolvem seu trabalho ou deixa de receber feedbacks e orientações. Esse “gelo organizacional” corrói o engajamento e, em pouco tempo, o profissional se sente deslocado e sem propósito.
Para reverter esse quadro, é preciso agir antes que a rachadura se torne irreversível. Aceitar novos desafios, comunicar suas metas de forma clara, participar de projetos que ampliem sua atuação e buscar interações estratégicas são movimentos essenciais para retomar a visibilidade. Também é importante observar se o ambiente ao seu redor ainda oferece espaço para o seu crescimento. Caso contrário, é sinal de que pode ser hora de buscar novos horizontes — sejam eles internos ou externos.
O “quiet cracking” é silencioso, mas suas consequências são profundas. Ele rouba oportunidades, apaga talentos e, se não for identificado, pode reduzir anos de potencial a um desempenho mediano. Por isso, vale refletir: você está trabalhando com energia e propósito ou apenas cumprindo expediente? No fim, o mercado valoriza quem entrega resultados, mas também quem mantém viva a chama da curiosidade, do aprendizado e da contribuição. E essa é uma escolha que, silenciosamente, só você pode fazer.
Vamos refletir e sucesso!